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É licito fazer sexo durante o shabat?

 Por Cleiton Gomes


O shabat é um tempo de cessação, deleite e santificação. Ao longo das gerações, diversas tradições foram se formando para preservar e ampliar a percepção da santidade desse dia. Uma das questões que surgiram dentro deste contexto é se a relação sexual durante o shabat seria algo inadequado ou até mesmo pecaminoso, considerando especialmente as leis de pureza ritual apresentadas na Torá.

Antes de qualquer coisa, é necessário compreender o conceito de tum'ah (impureza ritual). A Torá descreve em Levítico 15:16-18 descreve condições sobre o que pode tornar uma pessoa ritualmente impura, que é temporária, mas restringe o acesso a áreas de santidade física, como o Templo e a participação em determinados sacrifícios. Entre as condições de pureza ritual encontradas no contexto imediato, encontramos a que está relacionada ao homem chamada de zav. Esta condição é muitas vezes mal compreendida, sendo fundamental distinguir corretamente o que a Torá chama de zav e o que seria uma emissão seminal normal. A compreensão precisa desse tema é essencial para evitar interpretações distorcidas sobre a pureza, a vida sexual e a santidade exigida pelo ETERNO..

O termo zav refere-se a um homem que apresenta um fluxo anormal saindo de seu órgão reprodutor, não associado a uma emissão normal de sêmen. Diferentemente da ejaculação comum, que torna o homem impuro apenas até a tarde (tum’at keri), a condição de zav é uma doença. Trata-se de um estado patológico, provavelmente relacionado a infecções genitais, inflamações, ou mesmo outras doenças do trato urinário. Esta descarga era considerada anormal por sua aparência, duração e frequência, indicando que o corpo do homem estava em estado de impureza prolongada.

A Torá determina que o zav (fluxo doente)  transmite impureza não apenas diretamente, mas também indiretamente: tudo o que ele toca, sobre o que se senta ou deita torna-se impuro. Além disso, o processo de purificação do zav é mais rigoroso do que no caso de uma simples emissão seminal. O homem que sofre dessa condição deveria contar sete dias de pureza completa — ou seja, sem novos fluxos —, lavar suas roupas, banhar ritualmente seu corpo em águas vivas (mikveh) e oferecer sacrifícios de expiação no Templo, conforme Levítico 15:13-15.

A Mishná, em tratado Zavim 1:1-2, explica que para ser considerado zav, o homem deveria ter tido o fluxo anormal em duas ou três ocasiões distintas. Se apenas uma vez, a impureza era mais leve; duas ou três vezes, estabelecia-se a condição completa de zav. A repetição do fluxo indicava que o problema era sério e não um evento isolado.

Essa diferenciação entre uma emissão seminal saudável e o fluxo patológico é de extrema importância. Muitos que leem superficialmente os textos da Torá supõem que qualquer emissão torna o homem severamente impuro e, portanto, veem o ato sexual com um peso que a Escritura não lhe atribui. Contudo, a própria distinção entre keri (emissão normal) e zav (fluxo doente) mostra que o ETERNO fez separação entre o natural e o patológico, entre a vida saudável e o estado de enfermidade.

O zav, portanto, era alguém em estado de sofrimento físico e ritual. Concluir que qualquer emissão torna o homem um pecador é distorcer o que a Torá ensina. O pecado está na rebelião voluntária contra os mandamentos do ETERNO, e não em fenômenos naturais ou enfermidades involuntárias. O zav era impuro, mas não necessariamente culpado de algum pecado. Ele precisava de cura, não de condenação.

Assim, com segurança podemos afirmar que o ato sexual no matrimônio, quando realizado em situações em que o casal está saudável, é uma expressão natural e abençoada da vida, não algo sujo ou pecaminoso. De fato, dentro da tradição judaica, a relação conjugal no shabat não só é permitida, como também, em certos aspectos, é incentivada, especialmente entre marido e mulher, como expressão de amor, união e deleite permitido para o dia. O Talmud, em diversas passagens, aponta que o prazer conjugal é considerado um dos prazeres lícitos e desejáveis do shabat. O mandamento de alegrar a esposa é vista como um aspecto sagrado da vida conjugal, e o shabat, por sua natureza de regozijo e paz, é um tempo apropriado para esse tipo de união (Talmud Bavli Shabat 140b e em Ketubot 62b).

A relação sexual, contudo, é restrita ao contexto do casamento entre um homem e uma mulher, conforme estabelecido pela Torá (Gênesis 2:24). Relações fora do casamento são consideradas imorais em qualquer dia da semana. O ato sexual entre solteiros (fornicação), entre pessoas casadas com outros parceiros (adultério) ou relações antinaturais (homossexualidade) são igualmente reprovados segundo a Torá, independentemente do dia em que ocorram. Como afirma Levítico 18:22 e 20:13, relações entre pessoas do mesmo sexo são consideradas abominação, e portanto, não têm legitimidade nem no casamento e nem fora dele.

Infelizmente, o cenário cultural brasileiro corrompeu profundamente a visão do ato sexual. A banalização da intimidade, a transformação do sexo em um simples instinto animalesco, desconectado de responsabilidade, fidelidade e santidade, demonstra o afastamento dos valores da Torá. A prática comum de relações sexuais fora do casamento, muitas vezes celebrada na cultura popular, é uma afronta aos padrões de pureza estabelecidos pelo Criador, degradando o que deveria ser uma expressão de amor, compromisso e santificação do corpo e da alma.

E mais: A relação conjugal durante o Shabat não representa abandono da espiritualidade pelos desejos carnais. Afirmar isso é um equívoco, pois a própria Torá ensina que o shabat deve ser um dia de deleite (Isaías 58:13-14) e que a relação entre homem e mulher é uma expressão de união, amor e cumprimento do mandamento de "serem uma só carne" (Gênesis 2:24). Cumprir os mandamentos significa amar ao ETERNO (1 João 5:2-3). O Talmud (Ketubot 62b) e o Shulchan Aruch (Even HaEzer 76:1) reconhecem o relacionamento íntimo entre marido e mulher como uma expressão legítima e até recomendada nesse dia. A tradição judaica vê o corpo como um instrumento de santidade quando usado conforme a vontade do ETERNO, e não como um inimigo da alma; portanto, este ato não apenas é permitido no shabat, mas pode ser um ato de santificação, desde que realizado com amor, respeito e consciência, diferente do uso profano e animalesco que a cultura moderna promove fora da aliança matrimonial.

Obviamente, se o ato sexual no shabat fosse realizado de maneira leviana, egoísta ou desrespeitosa, perderia seu caráter de santificação. Qualquer ato feito sem consciência, sem respeito mútuo ou em contradição com os valores da Torá desagrada ao ETERNO, independentemente do dia em que é praticado. Mas a relação conjugal, feita com amor, responsabilidade e dentro dos limites da aliança, é uma expressão da própria vida que o ETERNO abençoou e santificou.

Em suma, afirmar que fazer sexo durante o shabat é pecado demonstra uma incompreensão tanto da natureza da impureza ritual quanto da finalidade do shabat. O próprio ato sexual, dentro da aliança matrimonial entre homem e mulher, é abençoado pelo ETERNO e é parte da criação que Ele viu como “muito boa”. Por outro lado, o sexo fora do casamento é errado todos os dias da semana, sendo incompatível com a vida de santidade esperada de todo aquele que teme ao ETERNO.

Seja iluminado!!!



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