Por Cleiton Gomes
O silêncio do servo sofredor é um tema profundo e enraizado na tradição bíblica. Essa imagem é especialmente clara em Isaías 53, onde o servo é retratado como alguém que, diante do sofrimento e da injustiça, não abre a boca para protestar ou justificar-se. Esse silêncio não deve ser entendido como mera passividade, mas como a aceitação de um propósito superior que transcende a compreensão humana. O servo sofredor, em sua quietude, demonstra uma confiança absoluta na justiça divina, mesmo quando a injustiça humana parece prevalecer.
Esse tema do silêncio não se limita a Isaías 53. Por exemplo, Jó, após questionar intensamente o sofrimento que enfrentava, cala-se, reconhecendo que seus questionamentos estavam além de sua compreensão (Jó 40:4-5). Lemos também que Yeshua manteve silêncio durante o momento em que Herodes buscava respostas (Lucas 23:9) e durante grande parte de Seu julgamento (Mateus 26:63), porque sabia que eles não iriam compreender a profundidade de Sua missão naquele momento.
Nos evangelhos, a figura de Yeshua é frequentemente associada ao servo sofredor de Isaías. À primeira vista, essa associação pode parecer estranha, já que, em algumas ocasiões, Ele não permanece em absoluto silêncio, mas responde às questões que lhe são feitas. Por exemplo, em João 18:36-37, Yeshua dialoga com Pilatos, declarando que Seu reino não é deste mundo e que Ele veio para testemunhar a verdade. Entretanto, aqui Ele não está se defendendo de maneira egoísta, buscando seu próprio livramento ou fugindo das acusações. Sua resposta foi uma demonstração de Sua autoridade e de Sua missão de redenção. Ele enfatizou que Sua missão estava além do entendimento humano e que Sua morte não era um fracasso, mas uma parte essencial do plano de redenção. As palavras que Ele pronuncia visam sempre o bem da humanidade, nunca a fuga do sofrimento ou o benefício pessoal.
Outro exemplo notável é a resposta de Yeshua ao Sinédrio, quando questionado sobre Sua identidade. Em Mateus 26:64, Ele afirma: "Tu o disseste; entretanto, eu vos declaro que, desde agora, vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu." Nessa declaração, Yeshua não apenas confirma Sua identidade messiânica, mas também revela Sua autoridade divina, mesmo sabendo que Suas palavras O levariam à condenação. Da mesma forma, na cruz, Suas palavras continuam a revelar Seu caráter e missão (Lucas 23:34), e Ele demonstra um amor e uma graça que transcendem o sofrimento e a injustiça.
Portanto, os momentos em que Yeshua falou não representam uma contradição. Ao falar em determinadas ocasiões, Ele não buscava escapar do sofrimento, mas cumpria Seu papel profético de revelar a verdade e conduzir a humanidade à redenção. Seu silêncio e Sua fala são duas expressões complementares da natureza de Sua missão: o silêncio como manifestação de Sua plena confiança no cumprimento do plano redentor, e as palavras como instrumentos de revelação e transformação.
Esse equilíbrio entre silêncio e fala oferece uma lição profunda para os seguidores de Yeshua hoje. Em um mundo onde a reação imediata e a defesa pessoal são frequentemente valorizadas, o exemplo do Mestre nos desafia a discernir quando falar e quando silenciar. Seu silêncio diante da injustiça nos ensina a confiar no propósito maior, mesmo quando a injustiça humana parece triunfar. Suas palavras, por outro lado, nos lembram da importância de proclamar a verdade, mesmo quando isso implica sofrimento ou rejeição. Assim, o silêncio e a fala de Yeshua são apenas elementos centrais de Sua missão redentora.
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