Por Cleiton Gomes
O Leviatã é uma figura enigmática que aparece em várias passagens da Escritura, sendo frequentemente associado a um monstro marinho que habita as profundezas dos oceanos. A possibilidade de o Leviatã ser um crocodilo é uma interpretação considerada por alguns estudiosos, especialmente aqueles que buscam uma leitura mais literal ou naturalista das descrições bíblicas. Essa ideia surge a partir de uma análise das características atribuídas ao Leviatã em textos como o livro de Jó, onde ele é descrito como uma criatura poderosa, com escamas impenetráveis, dentes afiados e uma força tremenda. Essas características podem, de fato, ser associadas a um crocodilo, um animal conhecido por sua força, resistência e comportamento agressivo.
No livro de Jó, por exemplo, a descrição do Leviatã inclui detalhes como sua pele dura (Jó 41:7, 15-17), sua capacidade de resistir a ataques (Jó 41:26-29) e sua força descomunal (Jó 41:22-25). Essas características se alinham com as de um crocodilo, cuja pele é extremamente resistente, quase impenetrável, e que é um dos predadores mais temidos em seu habitat natural. Além disso, a menção de que o Leviatã habita as águas (Jó 41:31-32) também se encaixa no comportamento dos crocodilos, que são criaturas semi-aquáticas. No entanto, há elementos na descrição bíblica do Leviatã que vão além do que seria esperado de um crocodilo. Por exemplo, em Jó 41:18-21, o Leviatã é descrito como capaz de lançar fogo pela boca, uma característica que não se aplica a nenhum animal conhecido.
A maior parte do livro de Jó é escrita em verso, utilizando-se de paralelismos, uma característica típica da poesia hebraica. Esse estilo permite que ideias sejam expressas de maneira vívida e impactante, muitas vezes repetindo ou contrastando conceitos para enfatizar seu significado. A linguagem figurada é usada extensivamente para transmitir emoções, questionamentos e reflexões sobre temas complexos, como o sofrimento, a justiça divina e a relação entre o ETERNO e a humanidade. Por exemplo, quando Jó expressa sua angústia, ele frequentemente recorre a metáforas e hipérboles, como comparar sua vida a um sopro (Jó 7:7) ou dizer que preferiria nunca ter nascido (Jó 3:1-26). Essas expressões exageradas servem para transmitir a profundidade de seu desespero e sua luta para entender o propósito de seu sofrimento.
Considerando que o livro de Jó é um texto poético e possui elementos de linguagem figurada, essa descrição sobre Leviatã pode ser um exagero literário para enfatizar sua força e poder aterrorizante. Sua descrição como uma criatura que lança fogo pela boca e cujas escamas são impenetráveis claramente não se encaixa em nenhum animal real, mas funciona como uma metáfora para as forças indomáveis da natureza e a soberania do ETERNO sobre o caos. Essa linguagem simbólica reforça o tema central do livro: a incapacidade humana de compreender plenamente os caminhos do ETERNO.
O Leviatã também é mencionado em outros livros, como o Salmo 74:14, onde ele é associado ao mar e ao caos primordial, e em Isaías 27:1, onde ele é descrito como uma serpente veloz e sinuosa que será derrotada pelo ETERNO no fim dos tempos. Essas referências bíblicas indicam que Leviatã não representa apenas um animal, mas também simboliza o caos e as forças malignas que se opõem à ordem divina. Essa interpretação se encaixa na narrativa escatológica, onde o Leviatã pode ser comparado a Ha-Satán, o adversário, que é descrito em Apocalipse 12:9 e 20:2 como uma serpente e um dragão, e este último é descrito no imaginário humano como tendo escamas fortes e solta fogo pela boca. Assim como o Leviatã é derrotado pelo ETERNO em Isaías 27:1, Ha-Satán e todas as nações que ele une para lutar contra o governo do Messias na era Messiânica, serão destruídos, simbolizando a vitória da justiça sobre o mal.
Além disso, a ideia de que Leviatã seja uma criatura que vive nas profundezas do abismo, em uma parte inexplorada pelos seres humanos, não encontra respaldo nem nas Escrituras nem na realidade física conhecida. Segundo dados científicos, animais aquáticos possuem limites de adaptação para diferentes profundidades. Quem vive na superfície não sobrevive em grandes profundezas, e vice-versa. Jó 41 descreve Leviatã interagindo com seres humanos, sendo avistado e, possivelmente, caçado. Isso reforça que não se trata de uma criatura oculta em um local inatingível, mas sim de um símbolo poderoso que representa algo maior do que um animal aquático comum.
A figura do Leviatã também foi apropriada ao longo da história para representar conceitos filosóficos e sociais. No século XVII, o filósofo Thomas Hobbes utilizou o nome "Leviatã" como título de sua obra mais famosa, na qual descreve o Estado como uma entidade poderosa e necessária para manter a ordem social, mas também potencialmente opressora. Nesse contexto, o Leviatã de Hobbes é uma metáfora para o poder centralizado e a autoridade política, refletindo as tensões entre a necessidade de segurança e o risco de tirania.
Diante dessas considerações, podemos concluir que Leviatã é uma combinação de elementos reais e simbólicos. Embora tenha características que possam lembrar um animal aquático como o crocodilo, sua representação vai além disso, abrangendo o caos, as forças do mal e a oposição à ordem divina. Sua presença na literatura profética e apocalíptica reforça sua importância como um símbolo escatológico da vitória final do ETERNO sobre todas as forças adversárias. Assim, mais do que um simples animal, Leviatã representa um desafio a ser vencido, seja na história humana, seja na redenção final.
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