A expressão "os doze" encontrada nas Escrituras, como em 1 Coríntios 15:5, levanta questionamentos devido ao fato de Judas Iscariotes ter morrido antes da ressurreição de Yeshua e Matias ter sido escolhido posteriormente. Contudo, um estudo mais aprofundado revela que o termo "os doze" era frequentemente usado de maneira coletiva para designar o grupo apostólico, independentemente do número exato de integrantes em determinado momento.
Nos evangelhos, especialmente no de Marcos, essa nomenclatura aparece diversas vezes, indicando que o grupo era reconhecido pelo título "os doze", veja:
Marcos 3:14 – "Então, designou doze para que estivessem com ele e os enviasse a pregar."
Marcos 3:16 – "Estes são os doze que designou: Simão, a quem deu o nome de Pedro..."
Marcos 4:10 – "Quando Yeshua ficou sozinho, os doze e os outros que estavam ao seu redor lhe fizeram perguntas sobre as parábolas."
Marcos 6:7 – "Chamou os doze e começou a enviá-los de dois em dois, dando-lhes autoridade sobre os espíritos impuros."
Marcos 9:35 – "Assentando-se, Yeshua chamou os doze e disse: 'Se alguém quiser ser o primeiro, será o último e servo de todos'."
Marcos 10:32 – "Estavam a caminho, subindo para Jerusalém, e Yeshua ia adiante deles; os discípulos estavam admirados, e os que o seguiam estavam com medo. Tornando a chamar os doze à parte, começou a falar-lhes do que haveria de lhe acontecer."
Marcos 11:11 – "E Yeshua entrou em Jerusalém e, indo ao templo, observou tudo ao redor, mas, como já era tarde, saiu para Betânia com os doze."
Marcos 14:10 – "Então, Judas Iscariotes, um dos doze, dirigiu-se aos principais sacerdotes para entregar Yeshua."
Marcos 14:17 – "Ao anoitecer, Yeshua chegou com os doze."
Mesmo após a morte de Judas, a expressão continuou a ser usada, evidenciando que o foco estava mais na identidade e missão do grupo do que na quantidade exata. Esse uso recorrente reforça a ideia de um grupo coeso, reconhecido pelo seu papel fundamental na transmissão dos ensinamentos do Messias.
Essa compreensão também encontra respaldo em registros históricos posteriores. Justino Mártir, no Diálogo com Trifão, afirma: "Os doze enviados foram testemunhas da verdade, escolhidos não pelo número, mas pela missão que lhes foi confiada" (Diálogo com Trifão, cap. 42). Essa citação destaca que o conceito de "doze" estava atrelado à missão apostólica, não à presença física de todos os integrantes.
Jerônimo, em sua obra "Comentário sobre Mateus", também abordou o tema, ressaltando que "o título dos doze permaneceu, pois assim foram constituídos por Aquele que não se prende às limitações humanas" (Comentário sobre Mateus, Livro II). A permanência desse título reforça a compreensão de que a designação era simbólica e representativa.
Assim, o uso do termo "os doze" deve ser compreendido dentro de um contexto coletivo e funcional, que transcendia a exatidão numérica, mantendo o foco na identidade e no papel desempenhado pelos apóstolos na propagação da mensagem de Yeshua.
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