O terceiro templo, frequentemente aguardado por algumas correntes do Judaísmo e do Messianismo, tem sido objeto de debates e especulações ao longo dos séculos. A crença de que o Messias reconstruirá um templo físico em Jerusalém, no monte Moriá, é, segundo essas interpretações, embasada nas Escrituras Hebraicas e em tradições religiosas específicas. Mas, será que, conforme a profecia, o Messias realmente reconstruirá o templo físico, ou há um entendimento mais profundo e espiritual dessa promessa?
Para entender essa questão, precisamos considerar a evolução da ideia do templo ao longo da Bíblia e a sua relação com a presença divina. O templo de Jerusalém foi, inicialmente, construído por Salomão, sendo destruído posteriormente pelos babilônios. A reconstrução do templo, que ocorreu sob o comando de Esdras e Neemias, mais tarde foi novamente destruída pelos romanos no ano 70 d.C e nunca mais foi reconstruído. Desde então, o templo físico tem sido um símbolo de desejo e esperança para o povo judeu, sendo uma referência tanto para a sua identidade quanto para o relacionamento com o ETERNO.
A expectativa de um futuro templo de Jerusalém surge com força nas profecias do Tanach, especialmente em textos como Ezequiel (capítulos 40 a 48), que descrevem medições detalhadas, designações específicas e regulamentações. De acordo com essa leitura, o Messias (Mashiach) seria o responsável por reconstruir o templo e restabelecer o sistema sacrificial. Isso seria visto como um marco de restauração nacional e espiritual para Israel.
Essa visão é frequentemente associada a expectativas do Judaísmo ortodoxo, especialmente entre grupos que defendem a construção de um terceiro templo em Jerusalém. Esses grupos consideram que essa reconstrução é um passo essencial para a era messiânica.
Ao longo da história, o templo de Jerusalém foi considerado o centro da presença divina entre o povo de Israel. Entretanto, as Escrituras e a tradição judaica, incluindo textos como o Talmud e o Midrash, indicam que o Messias não virá para restaurar um templo físico, mas para estabelecer um relacionamento renovado entre o Criador e a humanidade, sem a necessidade de sacrifícios de animais.
A nova aliança e a ausência de sacrifícios de animais
A visão de uma nova aliança deve ser cuidadosamente analisada. O ETERNO, por meio de profetas como Jeremias (31:31-33), revelou que a aliança renovada não aboliria a Torá, mas a cumpriria de maneira plena, colocando ela no coração humano. O Messias, Yeshua, veio para trazer restauração, mas sua vinda não implicava na restauração do sistema sacrificial do templo.
De fato, algumas literaturas judaicas indicam que os sacrifícios de animais não foram instituídos como uma prática eterna, mas como uma medida temporária. O Talmud Bavli (m. Yoma 39a-39b) relata que, nos quarenta anos antes da destruição do Segundo Templo, os sinais do ETERNO não estavam mais presentes durante os sacrifícios: o tecido vermelho usado no sacrifício de expiação não mais ficava branco, sinalizando que o ETERNO não aceitava mais os sacrifícios. Este fenômeno coincide com a data da morte de Yeshua, que é vista como o sacrifício definitivo para a expiação dos pecados, substituindo a necessidade de sacrifícios de animais. O Talmud Yerushalayim (Jacob Neusner, The Yerushalmi, p. 156-157) também menciona que a luz central da Menorá se apagou e outros sinais místicos indicavam que o ETERNO já não aceitava os rituais de sacrifício.
Além disso, o Midrash, no Shemot Rabbah 35:4, fala sobre um tempo em que o Templo Levítico não existiria mais e o ETERNO tomaria um homem justo para fazer a expiação definitiva:
"... Moisés disse a Elohim: Chegará o tempo em que Israel não terá Tabernáculo nem Templo? O que acontecerá com eles então? A resposta divina foi: Eu tomarei um de seus homens justos, e o manterei como penhor (garantia) em favor deles, para que eu possa perdoar todos os seus pecados…". (Shemot Rabbah 35: 4).
Essa expiação perfeita já foi cumprida por Yeshua, o Justo, cujo sacrifício é considerado a "kapará" (remissão dos pecados) final. Não há mais necessidade de sacrifícios de animais, pois o sacrifício de Yeshua é eterno e suficiente para todos os crentes, judeus ou gentios, que reconhecem sua obra redentora.
A Salvação e a missão do Messias
Muitos argumentam que o Messias não tem um papel salvador, mas essa visão é equivocada. O aclamado Rabino Louis Ginzberg, ao falar sobre o Messias, enfatiza que ele foi designado para trazer a salvação, de modo que não há salvação fora do Messias (The Legends of the Jews; Editora: The Jewish Publication Society, 2ª edição - 2003, volume 1). No mesmo sentido, o Rabino Menachem M. Brod explica que a redenção, liderada pelo Messias, não é algo secundário, mas o propósito de toda a criação e de toda ação humana. Ele escreve que “todo judeu que está comprometido com a Torá e as mitsvot, porém o negligente em relação ao Mashiach, é como um piloto que está alheio ao seu destino” (Os dias de Mashiach, páginas 23-24, 37).
Os profetas e a visão do mundo vindouro
Em Isaías, é claramente declarado que no mundo vindouro não haverá mais sacrifícios de animais, pois não haverá mais morte. Isaías 65:17-25 e 66:22-23 falam de um tempo de paz e de restauração, onde o Criador habitará com Seu povo de maneira direta e não será necessário mais o sacrifício de animais. Esses textos indicam que, com a chegada do Messias, a verdadeira adoração será espiritual e não física.
A obra redentora de Yeshua, portanto, não aboliu a Torá, mas cumpriu a intenção original do Criador sobre o requisito da kapará (remissão de pecados), que sempre teve como propósito restaurar o relacionamento com a humanidade sem a necessidade de sacrifícios temporários. O próprio Rabino Kaufmann Kohler, na Enciclopédia Judaica, explica que a ideia de que a morte de um justo poderia servir para a expiação dos pecados já estava presente no Judaísmo, especialmente durante o período do Segundo Templo (veja: https://jewishencyclopedia.com/articles/2092-atonement). Esse conceito foi incorporado ao Judaísmo e se tornou um fundamento para os ensinamentos dos apóstolos sobre a morte expiatória de Yeshua, como registrado em textos como Efésios 2:11-13 e os escritos de Paulo.
Em Jeremias 7:22-23, o Criador deixa claro que os sacrifícios de animais nunca foram Seu desejo original. Ele os instituiu como uma forma de afastar o povo da prática de adoração aos ídolos, depois do êxodo do Egito, e como um meio temporário de redimir o pecado. Este ponto é central para entender a nova aliança, que não abole a Torá, mas cumpre sua intenção profunda.
A nova aliança não é uma ruptura com a antiga, mas um cumprimento das promessas de restauração que já estavam presentes em toda a Torá e no Tanach. A aliança renovada, prometida por Yeshua, revela que a verdadeira adoração e relação com o Criador não dependem mais de sacrifícios físicos. Em lugar do templo físico, agora, os corações dos fiéis se tornam a morada do Criador, como explicado em passagens como João 14:23, onde Yeshua afirma habitar no coração daqueles que O amam e guardam Sua palavra.
O corpo de Yeshua é o terceiro Templo, representando a manifestação da presença divina do ETERNO reconciliando o mundo consigo mesmo (2 Coríntios 5:19). Se Ele habita em nossos corações, isso reflete o mesmo princípio das tábuas da Torá dentro da arca da aliança: a presença divina agora reside profundamente dentro de nós. Quando Yeshua retornar para governar, eliminará de vez todos os que praticam a desobediência à Torá e transformará nossos corpos corruptíveis em incorruptíveis. Nesse momento, a cláusula da aliança será plenamente estabelecida, conforme está descrito em vários lugares da Bíblia, afirmando que: “o pecado deixará de existir no mundo” (Dt 30:6-7; Jr 31:33-34; Ez 36:26-27; Is 25:8; 11:9; Ap 21:4), pois a presença do ETERNO estará definitivamente enraizada no coração de todos. Ora, se não haverá mais mortes, significa que não haverá mais pecado nem pecadores. Pois, o pecado é a desobediência aos mandamentos da Torá, e o resultado da desobediência é a morte. Logo, todos serão 100% santos e não precisarão mais de “remissão de pecados recorrentes”.
Conclusão
Portanto, a expectativa de que o Messias virá reconstruir o templo físico deve ser reconsiderada à luz das Escrituras e da tradição judaica. Yeshua, o verdadeiro Messias, já começou a implantar a verdadeira adoração, não por meio de um templo físico, mas pela habitação do Espírito nos corações dos fieis. Os sacrifícios de animais, que eram uma medida temporária para a expiação de pecados, não têm mais lugar, pois o sacrifício perfeito de Yeshua, o Justo, foi suficiente para todos os tempos.
Seja Iluminado!!!
0 Comentários
Deixe o seu comentário