Por Cleiton Gomes
A leitura de Gênesis, especialmente nos primeiros capítulos, muitas vezes gera interpretações e debates, especialmente quando se busca entender a criação de homens e mulheres. Alguns tentam argumentar que o primeiro capítulo de Gênesis apresenta a criação de uma mulher co-igual a Adão, sendo independente como ele; essa mulher seria Lilith. No entanto, uma análise cuidadosa do texto bíblico revela que essas interpretações não se sustentam diante da narrativa e da sequência dos eventos descritos nas Escrituras.
No primeiro capítulo de Gênesis, a criação do homem e da mulher é descrita de forma resumida, sem a preocupação em detalhar a sequência exata ou as circunstâncias da criação. O texto afirma que o ETERNO criou o homem à Sua imagem e semelhança, e em seguida, criou a mulher, de forma complementar. A linguagem empregada é clara, mas sem entrar em detalhes pormenorizados sobre como exatamente a mulher foi criada.
O segundo capítulo de Gênesis, por outro lado, oferece uma descrição mais detalhada e sequencial dos eventos, especificamente sobre a criação do homem, a formação da mulher e o relacionamento entre ambos. Nesse capítulo, não há qualquer indicação de que uma mulher foi criada do pó da terra, como foi o homem. Em vez disso, é relatado que Adão foi formado do pó da terra, mas a mulher foi formada a partir da costela de Adão. Isso não implica que uma outra mulher teria sido criada em uma sequência anterior, como alguns sugerem. Pelo contrário, a narrativa bíblica dá a entender que o processo de criação da mulher foi único e ligado diretamente à criação de Adão, como uma ajuda idônea para ele. Aliás, o texto descreve que o ETERNO viu que o homem estava só, sem uma parceira e por isso ele criou Eva (Gênesis 2:18).
Se o primeiro capítulo de Gênesis realmente tivesse descrito a criação de uma mulher separada, de modo independente de Adão, então seria de se esperar que, no segundo capítulo, essa mulher fosse mencionada novamente. E caso outra mulher tenha sido criada no segundo capítulo, também teria sido criado outro homem, formando assim outro casal, já que o segundo capítulo detalha a criação de duas pessoas. Isso indica que não há contradição, mas uma continuidade de um único ato criativo que culmina com a formação da mulher a partir de Adão.
A ideia de que Lilith teria sido a primeira mulher antes de Eva não encontra qualquer respaldo nas Escrituras. A narrativa bíblica é clara ao apresentar Eva como a primeira mulher, criada a partir de Adão e reconhecida como "mãe de todos os viventes" (Gênesis 3:20). Se Eva é a origem da humanidade feminina, não há espaço para uma suposta predecessora, e qualquer teoria nesse sentido parte de fontes extra-bíblicas e mitológicas, sem fundamento na revelação hebraica. O conceito de Lilith como uma mulher independente e rebelde deriva de tradições tardias, especialmente do Alfabeto de Ben-Sira, um texto não canônico escrito séculos depois da composição do Tanach. Dessa forma, sua inclusão em debates sobre a criação do homem e da mulher não faz o menor sentido.
O relato de Gênesis não deixa dúvidas de que a primeira mulher foi Eva, moldada especificamente para ser a companheira de Adão, seguindo um propósito divino bem definido. As interpretações que apresentam Lilith como uma figura anterior a Eva se baseiam em lendas e mitologias mesopotâmicas, que não devem ser confundidas com a narrativa bíblica autêntica. A aceitação de Lilith como uma personagem pré-adâmica ignora o próprio princípio da genealogia bíblica, que sempre aponta Eva como a ancestral de toda a humanidade.
Assim, nos resta acreditar que Eva tenha sido sempre a primeira mulher, e qualquer visão que tente contradizer esse princípio se desvia da revelação original. Ao tentar encaixar mitologias como essa nas Escrituras, se corre o risco de desvirtuar o significado original da narrativa e dar um "tiro no próprio pé", como diríamos, pois essas lendas não têm base no texto sagrado e podem levar a uma compreensão equivocada da intenção divina na criação da mulher.
Seja iluminado!!!
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