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A Morte de Yeshua e a Redenção do Mundo

Por Cleiton Gomes


A morte de Yeshua é um dos eventos mais debatidos da história, especialmente no que se refere ao seu significado e propósito dentro da visão judaica à luz da Torá e dos profetas. A visão tradicional frequentemente apresenta "o pagamento pelo sangue" como único meio para pagar a dívida pelos pecados humanos, e que a morte de Yeshua foi para este fim. No entanto, essa perspectiva pode levar à ideia errônea de que o ETERNO exigiu sua morte para perdoar os injustos, sem que houvesse outra alternativa.

Essa compreensão pode ser comparada a um julgamento em que o réu é sentenciado, mas o juiz decide condenar seu próprio filho para absolver o criminoso, deixando este último livre de responsabilidades. Esse pensamento conduz algumas pessoas a crerem que a salvação pela misericórdia do ETERNO isenta os indivíduos de suas obrigações morais, permitindo-lhes agir sem consequências. 

No entanto, uma análise mais profunda das Escrituras revela uma perspectiva diferente. A morte de Yeshua não deve ser vista como um mero cumprimento de uma suposta exigência divina por sangue, mas como o ápice da revelação do verdadeiro caminho para a redenção: a transformação do coração e a restauração da humanidade ao plano original. Ele ofereceu-se voluntariamente para mostrar um caminho superior, alinhado com o propósito profético da restauração pelo amor e pela justiça, e não pela imposição de um sistema sacrificial eterno. Yeshua morreu porque aqueles que detinham o poder religioso e político não aceitavam sua mensagem e se opuseram a ele, como havia acontecido com muitos profetas antes dele.

A Torá e os profetas demonstram que o ETERNO sempre desejou arrependimento e obediência à Sua vontade, e não sacrifícios de sangue, pois ele não bebe o sangue de animais (Salmos 50:12-14). Em diversos momentos, os profetas denunciaram a falsa segurança depositada nos sacrifícios quando acompanhados de injustiça e desobediência (Isaías 1:11-20; Jeremias 7:21-23, Oséias 6:6). 

A redenção do mundo é um processo complexo e profundo, sustentado sobre três pilares fundamentais: justiça, misericórdia e verdade. A justiça garante que a equidade e a retidão sejam preservadas; não se trata apenas de punição, mas também de promover um ambiente onde a dignidade de cada ser humano seja respeitada. A misericórdia complementa a justiça, evitando que esta se torne severa ou desumana. O Criador sempre demonstrou que a misericórdia é essencial para a redenção, pois permite a reconstrução e a transformação de indivíduos e sociedades. Já a verdade é o alicerce que sustenta esses pilares. Sem verdade, a justiça se torna corrupta e a misericórdia perde seu significado.

Desde os tempos antigos, o Criador revelou que um mundo equilibrado só pode ser alcançado quando cada indivíduo assume a responsabilidade de estabelecer princípios justos em sua vida e em suas relações. Essa consciência não apenas orienta a conduta pessoal, mas também estrutura a restauração coletiva da humanidade. A criação foi originalmente estabelecida em harmonia, mas, por meio de escolhas desalinhadas com essa ordem, a humanidade introduziu desequilíbrios que resultaram em injustiça, opressão e violência.

Ao longo da história, diversas sociedades tentaram restaurar essa ordem perdida por meio da força, do controle e da violência. Inclusive, a crença em um Messias militar, que imporia a redenção do mundo por meio da guerra, foi amplamente difundida, especialmente entre grupos como os zelotes, que rejeitaram Yeshua ao papel de Messias por não corresponder a essa expectativa. No entanto, Yeshua revelou uma compreensão mais profunda da restauração: ela não acontece através da imposição externa, mas sim por meio da transformação interior e da adoção de valores justos.

Yeshua exemplificou essa visão ao viver de maneira irrepreensível segundo os princípios divinos, demonstrando que a verdadeira redenção ocorre quando cada indivíduo assume sua responsabilidade moral. Seu ensinamento enfatizou que a mudança duradoura não vem pela força, mas pelo aperfeiçoamento do caráter e pela prática da justiça em todas as áreas da vida.

Portanto, a restauração do mundo não depende de um poder coercitivo, mas do compromisso de cada pessoa com valores que promovam a harmonia e a equidade. Quando os indivíduos adotam essa responsabilidade, a sociedade como um todo se transforma, estabelecendo um equilíbrio genuíno e sustentável. Assim, a busca por um mundo mais justo não deve se basear na imposição externa, mas na verdadeira mudança do coração e na construção de relações fundamentadas na justiça e na compaixão.

Ao longo da história, os justos enfrentaram perseguição e represálias por desafiarem sistemas corruptos. Nisso, a morte de um justo pode romper ciclos de injustiça. Um exemplo clássico está em IV Macabeus (6: 26-29;  17: 21-22), onde Eleazar se oferece como sacrifício vivo, aceitando a morte para que Israel seja perdoado. O mesmo exemplo aconteceu com Moisés, que afirmou que o ETERNO poderia riscar o seu nome do livro da vida em favor do perdão de Israel (Êxodo 32: 31-33).

Fontes judaicas, como o Talmud, o Midrash e o Zohar, reforçam esse conceito. O Talmud afirma que "assim como o ritual das cinzas da novilha vermelha faz expiação, o mesmo acontece com a morte do justo" (Moed Katan 28a; Confira também, o Tratado de Berakhot 62b). O Zohar ensina que "um tsadik (justo) não é atingido, a não ser para trazer a cura para sua geração e fazer expiação por ela" (Zohar, Seção 3, página 218). O Midrash também aborda essa ideia, declarando que o Criador pode tomar um justo como garantia para a expiação dos pecados de Israel (Shemot Rabbah 35:4).

Portanto, aprendemos que a morte de Yeshua não é um "passaporte para o pecado", mas um chamado para a teshuvá, o arrependimento e a retificação do mundo por meio da transformação moral. Os emissários de Yeshua constantemente enfatizaram essa necessidade, como vemos em 1 Pedro 2:23-25: "Quando o injuriavam, não injuriava, e quando padecia não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga justamente; levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudessemos viver para a justiça…".

Yeshua, ao manter-se fiel à verdade, tornou-se um símbolo do embate entre justiça e corrupção. Sua morte não foi um sacrifício exigido pelo Criador, mas uma consequência da rejeição da verdade pelo mundo. Ele morreu não porque o Criador demandava sangue, mas porque a justiça desafia os sistemas corruptos. Seu legado é um chamado para que todos retornem à fidelidade ao Criador por meio do arrependimento, da obediência à Torá e do compromisso com a justiça e a misericórdia.

A verdadeira redenção exige arrependimento e transformação. O perdão não é um passe livre para continuar na iniquidade, e todo ser humano deve assumir responsabilidade por suas escolhas. A justiça divina prevalecerá, e cabe a nós resistir ao mal sem reproduzir suas práticas, confiando na promessa de um mundo restaurado por meio da verdade e da justiça.


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