Por Cleiton Gomes
O mandamento do Shabat foi ordenado e formalizado no Sinai (Êxodo 20:8-11), no deserto, em uma terra que não pertencia a ninguém. Ele foi entregue no meio de "gente mista", pois havia israelitas e pessoas de outras nações que saíram por fé ou conveniência durante a libertação (Êxodo 12:38). Tanto que, durante a outorga da Torá, a voz do ETERNO ressoou como trovão e se repartiu em 70 idiomas, conforme ensina a Escritura e a literatura judaica. Foi dada assim para que ninguém ousasse dizer "a Torá foi dada para uma única nação" ou "a Torá pertence somente aos israelitas". O cenário é claro: a Torá é para todos! O desejo do ETERNO é que todos possam praticar os Seus mandamentos, para que possam entrar e permanecer no Seu amor. João, o apóstolo, ensinou que demonstramos nosso amor ao ETERNO quando praticamos os Seus mandamentos (I João 5:2-3).
Embora os israelitas sejam os representantes milenares da Torá, devemos entender que eles foram colocados para ser a luz do mundo. Porém, devido às guerras travadas e às escravidões sofridas pelas mãos dos gentios ao longo do tempo, os israelitas começaram a isolar esse conhecimento apenas para suas comunidades, criando um preconceito contra os gentios. Daí, veio Yeshua e reacendeu a chama da Torá, mostrando como ser a luz do mundo e ensinando que não se deve tratar os gentios com preconceito, pois "o ETERNO não faz acepção de pessoas", como foi mostrado para o apóstolo Pedro quando este estava receoso de pregar para os gentios (Atos, capítulo 10).
Espere! Devemos entender também que, embora a Torá seja para todos, nem todos os mandamentos nela contidos devem ser praticados por todas as pessoas. Ninguém, em toda a Escritura, nem mesmo Yeshua, estava obrigado a praticar todos os mandamentos. Sabe por quê? Porque existem regras da Torá que devem ser praticadas apenas em determinados cenários e circunstâncias. Há regras que se aplicam somente no território de Israel, regras que devem ser seguidas somente por mulheres, regras que se aplicam apenas a homens, regras que devem ser cumpridas apenas por sacerdotes, e assim por diante. Em resumo, há separações nas regras da Torá. Assim, é verdadeiro o ditado popular de que ninguém é capaz de praticar toda a Torá, pois, afinal, ninguém nunca esteve obrigado a praticar todos os mandamentos sozinho.
O mandamento do Shabat, por exemplo, era, a princípio, observado por gentios apenas no território de Israel. A nação de Israel organizou seu Estado para viver conforme as ordenanças do ETERNO, e mesmo os reis deviam viver sob as regras da Torá. Dessa forma, havia facilidade e flexibilidade para guardar o mandamento sem muitos desafios. Mesmo os gentios que estavam ali não podiam fazer negócios comerciais no Shabat, pois já havia se tornado uma lei estatal, e desobedecê-la era considerado crime (Êxodo 31:14-15; Jeremias 17:20-27). Nesse cenário, encaixa-se o mandamento do Shabat para os gentios que estivessem sob as portas de um israelita:
"Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR teu D'us; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro que está dentro das tuas portas." (Êxodo 20:10).
"Tu, pois, fala aos filhos de Israel, dizendo: Certamente guardareis meus sábados; porquanto isso é um sinal entre mim e vós nas vossas gerações, para que saibais que eu sou o SENHOR, que vos santifica." (Êxodo 31:13).
A princípio, lemos que a obrigação de guardar o Shabat recai sobre os israelitas e seus descendentes, mas nunca lemos uma obrigação clara e direta do ETERNO dirigida aos gentios fora dos limites da terra de Israel. Lemos, sim, que o ETERNO se agrada quando o gentio voluntariamente decide guardar o Seu santo dia, o que nos leva a entender que, se o gentio quiser, ele pode praticar tal mandamento. O ETERNO não os obriga diretamente, mas permite e se alegra com a decisão voluntária deles (Isaías 56:6-7).
Do mesmo modo, a circuncisão na carne é ordenada para a família carnal de Abraão e todos os seus servos (Gênesis 17:10-14), mas os gentios fora da terra de Israel que voluntariamente quisessem praticar a ordenança poderiam fazê-lo (Êxodo 12:48). E sim, há também mandamentos que, mesmo que os gentios quisessem praticá-los, eles não poderiam fazê-lo, porque o ETERNO não permitiria sob nenhuma circunstância. Ele não permitia que os gentios fizessem sacrifícios de animais no Seu santuário (Ezequiel 44:9-11). Isso evidencia que, mesmo a Torá sendo para todos, há mandamentos que não se aplicam diretamente aos gentios carnais, ou mesmo aos gentios crentes em Yeshua.
Há um conceito errado sobre o Shabat, onde alguns acreditam que somente serão participantes da Aliança do ETERNO se forem praticantes do Shabat, enquanto outros afirmam que quem não for circuncidado na carne não poderá fazer parte da Aliança do ETERNO. Isso significaria, por exemplo, que todas as mulheres nunca poderiam participar da Aliança, pois não possuem o órgão genital masculino para passar pela circuncisão na carne. O que significa, então, participar da Aliança do ETERNO? Simples: significa praticar a Torá, entendendo quais mandamentos lhe são aplicáveis. E não, não é você quem escolhe quais regras deve obedecer; é a Escritura que revela quais você tem a obrigação de cumprir.
Por conta do conceito de que "quem não for guardião do Shabat perderá sua salvação", alguns maridos, crentes em Yeshua, abandonam seus empregos repentinamente após suas instituições afirmarem que "são obrigados a guardar o Shabat". Com isso, a família daquele que abandonou o emprego começa a enfrentar crise financeira, intrigas, brigas na família e até divórcios. Isso evidencia que o Shabat se tornou um fardo para aquela família.
A obediência deve sempre ser uma resposta de amor, não de medo ou legalismo. Yeshua nos ensinou que a misericórdia é maior que o sacrifício (Mateus 12:7). Ele também afirmou: "O Shabat foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do Shabat" (Marcos 2:27). Isso nos ensina que o Shabat é um presente, um tempo separado para descanso, renovação e comunhão com o Criador. Não é para ser um fardo, mas sim um deleite (Isaías 58:13-14).
Yeshua reconheceu a necessidade de equilíbrio em situações extremas. Ele curou no Shabat e justificou ações de necessidade, como o resgate de um animal em perigo (Lucas 14:5). Isso demonstra que Ele compreendia as limitações e dificuldades que os seres humanos enfrentam em um mundo caído. Assim, se você conhece a importância do Shabat, mas mora em um país hostil, regido por leis humanas e sistemas econômicos seculares, guardar o Shabat pode ser desafiador. E, se você depende de um emprego CLT que o force a trabalhar no sábado, não o abandone sem um plano financeiro antecipado. É importante lembrar que o ETERNO conhece suas limitações e verdadeiras intenções do coração (1 Samuel 16:7). Ele não exige perfeição imediata, mas deseja ver um coração comprometido em trabalhar para encontrar soluções. Pode ser necessário suportar essa situação enquanto se busca, com oração e esforço, oportunidades melhores.
Aqui estão duas dicas:
Planejamento Estratégico: Se a decisão for sair de um emprego para guardar o Shabat, é essencial ter um plano. Isso pode incluir economizar o máximo possível antes de tomar a decisão, aprender novas habilidades para buscar empregos mais flexíveis ou até empreender em algo que permita honrar o Shabat. Você pode empreender e ser muito abençoado, só não esqueça quem te deu a oportunidade de crescimento. Não deixe de honrar quem te honrou com essa vitória.
Trabalho no Domingo: Em alguns casos, pode ser mais viável buscar oportunidades em setores que operam aos domingos. Assim, você pode negociar com a empresa para trocar o sábado pelo domingo, equilibrando a observância do Shabat com o sustento da família.
Reflexão: Confie no ETERNO, mas também aja com sabedoria, buscando alternativas para não colocar sua família em situações insustentáveis. A observância do mandamento deve ser conduzida com entendimento e alegria, não com imaturidade.
Conclusão
A Torá foi dada a Israel no Sinai como sinal de aliança, mas com a presença de gentios no evento e a ressonância da voz do ETERNO em múltiplos idiomas, vemos a intenção divina de alcançar todas as nações. Ainda assim, a guarda do Shabat para os gentios é uma escolha voluntária, uma forma de se unir ao propósito divino, e não uma imposição obrigatória. Assim, o Shabat permanece uma bênção disponível a todos que desejam experimentá-lo como um deleite espiritual e sinal de aliança com o ETERNO.
Os crentes gentios são convidados a participar da bênção do Shabat, mas não são necessariamente obrigados a isso. Os que escolhem guardá-lo estão expressando seu desejo de participar dos valores e da santidade ensinados pela Torá, mas o mandamento não lhes foi imposto.
Reflexões Finais
O Shabat não foi dado para ser um peso, mas um deleite. Ele é um lembrete semanal da aliança com o ETERNO, uma antecipação do descanso eterno (Hebreus 4:9-10). Vivemos em um mundo que muitas vezes se opõe aos valores bíblicos, mas essa oposição é parte da realidade da fé. Como Yeshua disse: “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (João 16:33).
A prática do Shabat na diáspora exige fé, criatividade e perseverança. Não será sempre perfeito, mas o coração voltado para o ETERNO é o que Ele valoriza. Seja firme, mas também realista, confiando que Ele é capaz de abrir portas e prover caminhos, mesmo nas circunstâncias mais difíceis. Guardar o Shabat é uma escolha que pode trazer grande bênção, mas não deve ser usada como critério para julgar ou medir a fé de alguém.
Seja Iluminado!!!
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