Por: Pedro Junior
O Terceiro Mandamento da Torá instrui que não devemos tomar o Nome Santo de D’us em vão. A compreensão desse mandamento exigiu de mim anos de pesquisa minuciosa das sagradas escrituras. Hoje sei que tomar o nome de D’us em vão abrange piadas, zombarias, brincadeiras, pronúncia inadequada ou sem motivo justificável. Essa prática é muito séria e pode ter consequências graves, pois o ETERNO preza pelo respeito ao seu Santo Nome.
O nome de uma pessoa tem sido sempre importante em diversas culturas. No entanto, no Ocidente, perdeu-se a relevância do significado dos nomes, de modo que o nome dado a um animal também é usado para um ser humano e todos consideram uma prática natural. Na cultura judaica, no entanto, é necessário escolher um nome com significado apropriado para cada ser humano. O nome é o chamado espiritual de uma pessoa, refletindo seu caráter e dons concedidos por D’us. Considerando essas informações, somos levados a entender que o nome de D’us tem o triplo de importância e merece ser respeitado.
Atualmente, o judaísmo ensina que o nome de D’us é sagrado demais para ser pronunciado. O Mishná Sanhedrin 10:1, por exemplo, afirma que aquele que pronuncia o nome de D’us não terá lugar no mundo vindouro. Definitivamente, baniram o poder de pronunciar o nome do ETERNO após a destruição do Templo no ano 70 d.C, devendo ser mantido sempre em segredo (m.Pesachim 50a e m.Kidushim 71a).
Não obstante, nem sempre foi assim, pois, Ele mesmo anunciou para Moisés que gostaria de ter seu nome sempre lembrado para sempre (Êxodo 3:11-15). Isso aconteceu quando D’us chamou Moisés para libertar os hebreus da escravidão no Egito. Após cinquenta dias da saída do Egito, os hebreus receberam a Torá de D’us no Monte Sinai (um evento conhecido como Shavuot, que significa semanas em hebraico, por ter ocorrido sete semanas após a libertação). D’us escreveu em duas tábuas de pedra os Dez Mandamentos, também conhecidos como Assêret Hadibrot (As Dez Palavras e/ou Dez Ensinos), e é sobre o terceiro mandamento que se fala aqui (Êxodo 20:7).
Explicarei aqui e agora o terceiro mandamento. No texto hebraico, temos o verbete “נשא” (nasa), que significa: “ser levado embora” (Strong: 5375), e também temos “שוא” (shav), cujo significado é: “falsidade, nulidade, mentira” (Strong: 7723). Desse modo, O ETERNO proibiu levar o seu nome para longe, no sentido de tê-lo como falso. Toda nação, ao ouvir o seu nome, deveria prestar reverência e não entendê-lo como se fosse “apenas mais um nome no rol de deuses pagãos”. Assim, entendemos que o ETERNO não proibiu a pronúncia de seu nome, apenas instruiu seu povo a não usá-lo de forma desrespeitosa. Se ele não desejasse que seu nome fosse pronunciado, não teria permitido que seu nome fosse escrito mais de 6 mil vezes na Bíblia hebraica.
O intento do ETERNO ao escolher Ysra’el (“israel”) como a sua nação eleita foi para que eles servissem de testemunhas entre as nações, inclusive anunciando o seu nome, para que as pessoas, ao verem o caráter dos israelitas, soubessem que existe uma mente brilhante por trás disso tudo. Eles usavam o nome sagrado em seu cotidiano sempre com reverência, mas quando o tempo foi passando eles acabaram se corrompendo, e após o exílio babilônico acabaram por violar o terceiro mandamento ao proibir que o nome sagrado fosse pronunciado em diversas situações do cotidiano. O nome era usado poucas vezes apenas dentro do Templo pelo Sacerdote (Sotá 7:6 e 38b). Mas depois da destruição do templo, foi criada a regra de que deveria ser mantido em segredo para sempre. O intento de D’us era que Yisra’el fosse um povo distinto, uma nação de pessoas que guiasse os outros em direção a ele e ao Messias prometido. YisraEL é o povo chamado pelo nome de D’us (2 Crônicas 7:14).
Em sua missão de levar o sagrado nome para as nações, Yisra’el teve altos e baixos. Muitas vezes, esse povo tomava, levava, carregava o nome de D’us em vão, como diz o profeta Isaías: “Porque o Senhor disse: “Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca, e com os seus lábios me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído” (Isaías 29:13).
A hipocrisia de Yisra’el foi repreendida pelo ETERNO por eles louvarem e honrarem com os lábios, mas não fazerem o mesmo com o seu exemplo de vida. Mais tarde, Yeshua usou essas mesmas palavras para repreender os Israelitas de sua época: “Hipócritas, bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim. Mas, em vão, me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens” (Mateus 15:7-9).
Disso resulta que tomar o sagrado nome em vão é levar uma vida oposta ao que o nome de D’us representa, que é a santidade, e devemos santificá–lo como o nosso amado Yeshua nos ensinou na oração do Pai Nosso: “Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia nos dá hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores; e não nos conduzas à tentação; mas livra-nos do mal; porque teu é o reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém” (Mateus 6:9-13).
Isso significa que Yeshua ensinou o terceiro mandamento não apenas ensinando a pronunciar as palavras, mas em ações de santidade, razão pela qual ele disse que tornou o nome do ETERNO conhecido novamente (João 17:6,26; vide também os Salmos 22:22-23; Isaías 52:6). Foi isso que ele transmitiu para Paulo quando o escolheu.
Paulo escrevia o nome do ETERNO em um papel e ensinava a pronunciar? Ele fazia bem mais que isso, transmitia o sagrado nome do ETERNO quando ensinava seus discípulos a praticarem a Torá e a terem fé em Yeshua HaMashiach. Ele mesmo anunciou que é um desrespeito e desonra permanecer em desobediência à Torá, e quem tivesse um péssimo testemunho assim faria com que o nome sagrado fosse blasfemado (Romanos 2:23-25).
Sendo assim, tanto o Tanach quanto a Brit Chadashá deixam bem claro que tomar o nome de D’us em vão não é apenas fazer brincadeiras jocosas, piadas, zombarias, pronunciar em ambientes impróprios ou simplesmente pronunciar sem motivo algum. É lamentável que hoje tanto o Judaísmo quanto o Cristianismo transgridam, consciente ou inconscientemente, o terceiro mandamento.
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