Contribuidor: Léo Flaschmann
A interpretação comum sobre o Concílio de Jerusalém em Atos 15 é que os apóstolos romperam com o povo judeu, bem como se apartaram dos mandamentos da Torá, proibindo que os gentios (não-judeus) se aproximassem da mesma. Mas será que o episódio bíblico realmente ensina isso? É o que iremos ver a partir de agora.
No início do capítulo está registrado que os fariseus [shamaítas] estavam impondo a circuncisão na carne para os crentes gentios como método de salvação da alma. Eles queriam fazer proselitismo, para que o gentio deixasse a sua cultura pela cultura judaica, de modo a terem uma "conversão completa". Esta era uma forma de combater a universalização do helenismo, que se anexou entre os judeus um pouco antes da invasão dos romanos, no tempo da guerra dos Macabeus. Contudo, mesmo conhecendo este método judaico aplicado durante anos na região de Jerusalém e vizinhanças (ex: Mateus 23:15; Atos 2:9-11; 6:1-5; 13:43), Paulo e Barnabé conflitaram a ideia proselitista, alegando que os crentes em Yeshua não necessitavam se converter formalmente ao Judaísmo para depositarem uma verdadeira fé na redenção promovida pelo Salvador. E, sabendo que a decisão final deveria vir dos outros apóstolos que conviveram ao lado de Yeshua, Paulo marcou uma reunião com todos para discutir essa ideia.
Foi decidido que os crentes gentios deveriam aprender mandamentos mínimos gradualmente (Atos 15: 20) e quem tivesse maior interesse em estudar, deveria procurar uma sinagoga aos sábados para estudar a Escritura (Atos 15: 21). De fato, existiam profecias dizendo chegariam dias em que os gentios (tanto israelitas dispersos, quanto não-judeus) iriam a Jerusalém aprender os ensinos da Torá, para saber como adorar o verdadeiro Criador de nossas almas (cf. Deut. 29: 13-15; Isaías 10: 20-23; 27:13; Zacarias 8:20-23; 14:16-19). Além disso, o próprio Messias iria expandir o conhecimento da Torá para as nações da terra, começando por Jerusalém (Isaías 2:3; 42:1-4; Miquéias 4:2).
Ali foi explicado que o ETERNO quer a transformação do caráter, a conversão da alma, não sendo necessária a substituição cultural. Mas claro, isso não significa que embora os gentios vivessem em suas próprias culturas, deveriam praticar atos reprovados pelo Divino. O próprio Paulo reprovou, por exemplo, a ideia de continuar praticando festas pagãs advindas de regiões politeístas (Gálatas 4:3, 8-11).
Na reunião, os apóstolos demonstraram que o proselitismo proposto pelos fariseus, embora bem-intencionado, não era um método eficaz, além de ser um jugo pesado (Atos 15:10, combine com Mateus 23:4). Por isso, o conselho apostólico decidiu não dar prosseguimento a esta estratégia farisaica. Após a reunião, mandaram com Paulo e Barnabé, pessoas de confiança para testemunhar e reforçar suas palavras nas regiões gentílicas, onde havia gentios crentes em Yeshua, que estavam sendo confundidos com ideias proselitistas (Atos 15: 22-34).
Em um mundo helenizado, os apóstolos deveriam propor exigências simplificadas para não beirar o radicalismo absoluto, pois poderia resultar em falha, já que diversas pessoas poderiam desistir de seguir aquele caminho por considerar "pesado". Mas, embora simplificadas, cada uma das regras dispostas possuem explicações profundas, que cabem anos de estudo e de prática. Por exemplo, o mandamento de "não comer carne sufocada" está ligada às regras de alimentação casher (apropriado para consumo), os quais envolvem escolher quais carnes de animais são permitidas comer e como deve ser feito ao abate dos animais (o método do Shechitá). A regra de "não comer alimentos sacrificados a ídolos" envolve aprender a como adorar o verdadeiro Criador, se desviando de serviços inúteis aos seres das trevas, etc.
Resumindo, os apóstolos flexibilizaram os primeiros passos dos novos convertidos; porém, mais tarde fizeram mais exigências, tanto que lemos várias e várias regras sendo ensinadas aos gentios em Gálatas 5: 19-21. Afinal, toda criança necessita de leite no início, somente depois vem o alimento sólido (Hebreus 5:12-13). Se a pessoa crescer aprendendo o bom caminho, quando chegar na fase adulta terá discernimento sobre o que realmente deve escolher. Mas se a pessoa não cresce aprendendo bons costumes, as escolhas raramente serão boas.
Como lemos na Escritura, os discípulos dos apóstolos não cresceram na fé como pessoas totalmente liberais, pois, tinham a orientação da Palavra de D'us. Eles eram homens e mulheres tementes ao verdadeiro Criador, tendo discernimento correto da Escritura, diferente do que se vê atualmente, onde pessoas pensam que podem viver a seu próprio modo, sem qualquer discernimento da Escritura. E assim vivem pregando coisas tolas e sem sentido.
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