Por: Cleiton Gomes
A prática de Netilat Yadayim, uma lavagem ritual das mãos para purificação, vai além da mera higiene física, conforme alguns estudiosos afirmam. Requer movimentos específicos nas mãos e dedos, muitas vezes acompanhados de recitação de berachot (bençãos).
Originalmente instituída pelo rei Salomão (Shabat15a), essa prática tinha como objetivo garantir a pureza ao consumir alimentos dedicados ao serviço do Templo, seguindo o exemplo dos sacerdotes que lavavam as mãos antes do serviço diário (Êxodo 40:9-12, 30-32). No entanto, essa regra era restrita aos alimentos consumidos no Templo, não se estendendo aos alimentos do cotidiano fora de Jerusalém e do Templo.
Durante ou antes de Salomão, não havia uma prática generalizada de lavagem das mãos durante as refeições do cotidiano entre as pessoas comuns. Mas, ao longo do tempo, os anciãos adaptaram a prática para uso cotidiano fora do Templo. Assim, na época de Yeshua, os fariseus tinham suas próprias interpretações e aplicavam a lavagem das mãos em diversas situações, inclusive após visitar o mercado ou por medo de contaminação espiritual. Isso levou a debates, como aquele relatado em Marcos 7:3-4, onde os fariseus criticaram os discípulos de Yeshua por não seguirem essa tradição.
No entanto, é importante ressaltar que essa tradição não era universal entre os judeus da época. Alguns a seguiam rigorosamente, enquanto outros não a praticavam. Detalhamos o debate entre Yeshua e os religiosos em outro artigo. Veja AQUI
É importante ressaltar que a regra estabelecida por Salomão acerca da lavagem das mãos era aplicável somente durante a existência do Templo, onde ocorria o serviço dos sacerdotes levitas. Contudo, atualmente, dado que o Templo não existe mais desde sua destruição em 70 d.C, durante o cerco romano a Jerusalém, é crucial compreender que qualquer observância da Netilat Yadayim se baseia em decretos rabínicos. Os rabinos adaptaram as práticas para aplicação fora do contexto do Templo.
Além disso, após o período em que Yeshua viveu na terra, surgiram diversas interpretações adicionais sobre essa tradição. Por conseguinte, hoje existem várias orientações sobre como e quando realizar o ritual, incluindo diretrizes para antes e depois das refeições. Uma dessas novas interpretações postula que, durante o sono, a alma se desprende do corpo, deixando-o vulnerável à presença da impureza, muitas vezes associada a "demônios". Ao despertar, quando a alma retorna, o espírito imundo se retira, restando apenas a impureza nas pontas dos dedos do corpo. Assim, é recomendado realizar a lavagem ritual imediatamente após acordar, antes de tocar em objetos ou alimentos.
Podemos ler sobre isso no site do "Chabad", confira:
“Enquanto o corpo repousa, a alma ascende ao céu para se recarregar. Somente os poderes da alma mais básicos são deixados no lugar - aqueles exigidos para as funções corporais básicas. O vácuo resultante permite um estado espiritual negativo chamado tumá [impureza]. Ao acordar, lavamos as mãos para remover os vestígios remanescentes daquela tumá.
Durante a noite, as mãos com frequência tocam áreas privadas; portanto nós as lavamos antes de rezar” [...] Antes de Netilat Yadayim não: andamos cerca de um metro e meio; tocamos roupas, comida ou qualquer orifício do corpo; recitamos qualquer bênção ou prece”. (Fonte: Chabad.org).
Em resumo, as tradições atuais, por serem estabelecidas pelos anciãos e não constituírem mandamentos diretos da Torá, não devem ser seguidas pelos discípulos de Yeshua. São regras rabínicas extrabíblicas, carentes de base bíblica para sua observância nos dias de hoje. Esta é a razão pela qual o Messias as contestou já no primeiro século da era comum.
Seja iluminado!!!
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