Yeshua e o julgamento da mulher adúltera

 Por: Cleiton Gomes 


Diversas pessoas argumentam que Yeshua se colocou contra o mandamento da pena de morte tal como é instruído na Torá. Ou seja, que ele era inimigo da Torá e estava criando um novo padrão de julgamento a partir daquele momento. Não obstante, caso façamos a análise completa do julgamento, veremos que ele continha falhas processuais, de modo que o réu deveria ser inocentado imediatamente para que não houvesse um julgamento ilegítimo. Pois, consoante se extrai da Escritura, duas ou três testemunhas poderiam depor contra o réu, e caso os dados apresentados fossem verídicos, seria aplicado a pena de morte, mas, se os fatos fossem ilegítimos e as testemunhas estivessem mentindo aos juízes, o acusado seria inocentado e as testemunhas seriam executadas (Deuteronômio 19:16-20). 


No julgamento da mulher adúltera existiam erros processuais. Primeiro, conforme ensina a Torá, o homem e a mulher pegos no ato de adultério deveriam ser apresentados para o julgamento, depois ambos seriam exterminados por apedrejamento (Levítico 20:10; Deuteronômio 22:22). No episódio de João 8 lemos que apenas a mulher foi apresentada para o julgamento, mas onde estava o homem? Veja então que o julgamento era inválido, pois a mulher não poderia morrer sozinha, mas deveria morrer com o homem. Consoante se extrai da lei, aquele julgamento deveria ser dado como encerrado. 


Em segundo lugar, para entender o porquê a pena de morte não foi aplicada, foi porque para que o extermínio daquela pessoa fosse aplicado, os acusadores (que geralmente eram duas ou três testemunhas) deveriam lançar a primeira pedra. Se eles jogassem as primeiras pedras, então todos ali presentes recebiam a permissão para jogar suas pedras também até o acusado morrer. Mas se os acusadores não jogassem suas pedras, ninguém mais poderia jogar pedras e o réu seria absolvido de seu julgamento (Deuteronômio 17:6-7).


No episódio da mulher adúltera lemos que os acusadores não lançaram a primeira pedra, então Yeshua também não tinha autorização para jogar sua pedra; afinal, não foi ele que flagrou a mulher no ato de adultério, de maneira que ele não era o acusador dela. Se, por outro lado, Yeshua tivesse flagrado a mulher em ato de adultério, então ele teria permissão para ser o primeiro a jogar a pedra, mas sabemos que não foi isso que aconteceu. 


Quando os acusadores foram embora sem lançar a pedra que dava início à sentença de apedrejamento, significou dizer que a mulher foi absolvida de seu julgamento e recebeu uma nova oportunidade de viver. É por isso que Yeshua finaliza o episódio dizendo para a mulher "nem eu te condeno". Se, por acaso, ele tivesse lançado uma pedra naquela mulher mesmo após os acusadores terem saído da cena, ele estaria batendo de frente contra o método de aplicação da pena de morte tal como foi previsto pela Torá. Somente assim ele estaria agindo contra ela, mas, ao declarar que nem ele condenava a mulher, o Mestre se posicionou como alguém que respeitava os padrões de julgamento proposto na Torá! 


E mais: quando o Messias disse "aquele que não tiver pecado atire a primeira pedra", ele estava levando os acusadores a uma autorreflexão de sua ação naquele momento. Seria como se o Mestre estivesse dizendo para eles: "reflitam bem sobre esta sentença de morte que vocês estão prestes a realizar e vejam se ela é legítima ou ilegítima, porque se for legítima vocês podem aplicar a morte nela, mas se for ilegítima são vocês que serão condenados no futuro, porque a Torá prevê execução para as falsas testemunhas". Considerando que esta teria sido a reflexão dos acusadores naquele momento, eles perceberam estarem prestes a infringir as regras de julgamento previstas na Torá, por isso desistiram da acusação. 


Em terceiro lugar, conforme lemos na Torá, todos os que fossem apanhados em adultério deveriam ser submetidos a um julgamento rigoroso no tribunal, onde os juízes iriam discutir o caso dela, averiguando os depoimentos das testemunhas e depois discutir a questão, para ver se a pena de morte poderia ser aplicada ou não. Não poderia existir uma morte imediata nos réus sem antes ter havido um julgamento rigoroso pelos juízes do tribunal. Isso explica o silêncio de Yeshua dentro daquele cenário, pois, ele imediatamente entendeu que a mulher não passou por um correto julgamento no tribunal, e já queriam aplicar a pena de morte nela, além disso, nem trouxeram o homem junto; isso era uma grave violação a Torá. 


Em quarto lugar, sabemos que os tribunais eram compostos de vários juízes. Sendo assim, a pena de morte não poderia ser aplicada pela autorização de apenas um juiz. O réu só era  sentenciado à morte se a maioria dos juízes concordasse. Além disso, Yeshua não exercia a função de juiz no Sinédrio (tribunal), o que não dava-lhe direito de ordenar a pena capital em alguma pessoa, e ainda que ele fosse juiz no Sinédrio naquela época, apenas a decisão dele não era válida se não houvesse outros juízes em pleno acordo com ele. Por isso Yeshua manteve silêncio. 


E ainda: todo aquele cenário não passou de uma armadilha, em que estavam tentando jogar Yeshua contra o governo romano. Afinal, o poderio romano havia tirado o direto dos judeus de aplicar a pena de morte sem antes pedir autorização de Roma (João 18:31). Assim, se, por acaso, Yeshua tivesse dito para aplicar a pena de morte imediata naquela mulher sem antes consultar Roma, os invejosos teriam uma prova cabal para incriminar o Messias e fazer com que ele fosse morto por Roma. É por isso que o Messias não diz "sim" ou "não", apenas leva as pessoas a fazer uma autorreflexão de suas ações. 


Em suma, esse episódio de João 8 mostra Yeshua sendo um exímio conhecedor e defensor da Torá. Mostra também uma pessoa que não quis demonstrar aquilo que ela não era, pois, se ele tivesse se colocado na posição de juiz do tribunal sem ser de verdade, estaria demonstrando uma certa arrogância no seu modo de agir, manchando o seu testemunho de vida. 


Seja iluminado!!! 




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