Gálatas 2:7 explicado

Por: Cleiton Gomes 



Tenho visto pessoas ensinando que o apóstolo Paulo pregava outro Evangelho, contrário ao que era crido pelos outros apóstolos de Yeshua. Costumam dizer que "todos os outros apóstolos defendiam a lei e pregavam-na somente para os judeus, e sendo defensores da lei estavam em maldição. Assim, o evangelho dos outros apóstolos é maldito. Mas Paulo era contra a lei, por isso defendia o Evangelho da incircuncisão, que nos leva para debaixo da graça". 


Esse modo de pensar néscio parte da má interpretação de Gálatas 2:7, onde é dito que Paulo pregava o Evangelho da incircuncisão enquanto Pedro pregava o da circuncisão. Pois bem! vamos entender o episódio. Em Gálatas 2 lemos que um grupo de judeus vieram de outra cidade, e vendo Pedro na mesa comendo com os gentios, começam expor o pensamento de que a circuncisão era obrigatória para os gentios, e que não era lícito ter comunhão com eles antes deste processo. 


Sabemos que Pedro era um dos mais antigos discípulos de Yeshua, tendo autoridade para repreender aquele modo de pensar dos judeus da circuncisão, aquele grupo em questão. Porém, por alguns instantes, a dúvida e a incerteza tomaram conta de seu pensamento, lhe impedindo de dar uma resposta sábia de forma imediata, pois, o conceito de pregar aos gentios ainda era muito recente para ele, já que o ETERNO havia lhe revelado que era lícito levar o Evangelho para gentios a pouco tempo (Atos 10: 28,34). Formular uma resposta imediata se era lícito realizar a circuncisão em gentios ou não, pareceu bastante desafiador para ele, levando-o a ficar calado e apreensivo. Em sua confusão mental, a única resposta mecânica de seu corpo foi levantar-se da mesa do banquete. Foi nesse momento que ele se tornou repreensível. Vendo aquela reação do apóstolo,  Barnabé também se levantou da mesa, com medo de represália, pois não sabia qual seria a decisão do apóstolo. 


O apóstolo Paulo ficou irritado com aquela reação, e não obtendo nenhuma resposta da parte de Pedro, considerou que ele estava se deixando ser convencido pelas argumentações. Foi então que ele repreendeu a atitude de Pedro, e relembrou-lhe que não deveria temer responder aqueles judeus da circuncisão, pois, embora o mandamento da circuncisão continuasse em vigor, ele não era obrigatório aos não-israelitas (gentios). Ele também relembra que o pensamento da justificação pela fé não era um conceito recente, mas que já fazia parte do antigo pensamento judaico ("Nós, judeus por natureza… sabendo" – Gálatas 2: 15-16). Portanto, Pedro não deveria temer em ter que defender as boas novas entre os gentios. 


É interessante observar que em momento algum Paulo chegou a declarar pregar um evangelho diferente dos demais apóstolos. Quando lemos o episódio em questão, vemos que ele estava subordinado a autoridade dos outros apóstolos, tanto é que ele diz que os apóstolos lhes autorizaram pregar aos gentios ("deram a destra da comunhão"), bem como lhe foi recomendado não esquecer de fazer boas ações aos pobres (Gálatas 2:9-10).


Se Paulo quisesse dizer que os outros apóstolos eram malditos, jamais teria demonstrado subordinação a autoridade deles, nem teria dito que o ETERNO operou eficazmente na vida de Pedro (versículo 8). Por exemplo, em Atos 21:18-26 lemos que Paulo recebeu e acatou as ordens de Tiago, o qual lhe recomendou participar do término do voto de nazireu junto a outros irmãos. Aliás, em um momento mais tarde, o próprio Paulo conduziu pessoas até os apóstolos, para saber quais seriam suas decisões sobre a questão de circuncisão como meio único de aos gentios (Atos 15). É isso mesmo que você está pensando, este episódio do Concílio Apostólico em Jerusalém, aconteceu em um momento posterior ao evento de Gálatas 2, por isso lemos que Pedro teve total firmeza na sua declaração, dizendo não ser lícito obrigar os gentios a passar pela circuncisão na carne como meio único de salvação. 


Quem nunca leu que os apóstolos eram chamados "Caminho" ou de "Nazarenos"?  (Atos 9: 2; 24: 5). 


Pois bem! os apóstolos Pedro, João e Tiago eram considerados as colunas desta comunidade de irmãos crentes em Yeshua, muito antes da conversão de Paulo. Quando lemos a história de Paulo após a sua conversão, lemos que ele se tornou um nazareno, ou seja, ele se juntou aos outros apóstolos! Ele nunca se tornou inimigos deles! Ele foi considerado um dos principais defensores dos nazarenos após a sua conversão. Leia o que Paulo disse sobre si mesmo:


"Porém confesso-te que, segundo o Caminho, a que chamam seita, assim eu sirvo ao D'us de nossos pais, acreditando em todas as coisas que estejam de acordo com a lei e com os escritos dos profetas" (Atos 24: 14). 


Querido leitor, essa declaração faz cair por terra o falso pensamento dos néscios, que insistem em dizer que Paulo era contra a Torá e contra os outros apóstolos. Vale salientar que, nos documentos da Patrística, podemos encontrar registros demonstrando que os nazarenos nunca deixaram de praticar os mandamentos da Torá mesmo após ter aceitado Yeshua, confira:


"Os Nazarenos ... aceitam o Messias de tal maneira que eles não deixam de observar a Lei [Torá]..." (Jerônimo, Commentary on Isaiah, Is 8:14). 


Eles não têm ideias diferentes, mas confessam tudo exatamente como a Lei [Torá] proclama e na forma judaica, exceto por sua crença no Messias ... Eles discordam dos outros judeus, porque eles vieram à fé no Messias.” (Epifânio de Salamina, Panarion 29).


Com o passar dos anos em que Paulo fazia suas declarações, muitos néscios, por não compreender os ensinamentos dele, começaram a dizer que ele era um inimigo da Torá, pois, se valiam deste ensino para viver uma vida de liberalidade. No entanto, sabemos que Paulo amava os mandamentos da Torá de todo o seu coração, e quando sendo acusado de ser inimigo dela, tratou de responder que nenhuma dessas alegações poderiam ser provada (Obs. Faça a leitura do Capítulo 21 do livro de Atos dos apóstolos, até o Capítulo 28). 


Quem nos informou sobre as deturpações  que estavam fazendo dos textos de Paulo, foi o apóstolo Pedro, confira:


"e tende por salvação a longanimidade  de nosso  Senhor, como igualmente  o nosso  amado  irmão Paulo vos  escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em  todas as suas epístolas, nas quais  há  certas coisas  difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a  própria destruição deles. Vós, pois, amados, prevenidos como estais de antemão, acautelai-vos; não suceda que, arrastados pelo erro desses insubordinados, descaiais da vossa própria  firmeza" (2 Pedro 3: 15-17). 


Leitor, preste atenção neste trecho:


"Vós, pois, amados, prevenidos como estais de antemão, acautelai-vos; não suceda que, arrastados pelo erro desses insubordinados, descaiais da vossa própria  firmeza" (2 Pedro 3: 17). 


Quando consultamos a expressão "insubordinados" diretamente no dicionário do texto em grego, encontramos o verbete αθεσμος (athesmos), sendo revelador o seu significado, veja: "alguém que transgride as restrições da lei e satisfaz os seus próprios desejos [carnais]" (Strong: G113). No mesmo sentido, o lexicógrafo William D. Mounce, atestou que a palavra em questão significa literalmente: “sem lei”, “sem limites” (Fonte: Léxico Analítico do Novo Testamento, São Paulo, Ed. Vida Nova, 2013, página 60). 


Assim, quando os néscios faziam a leitura dos textos de Paulo, e não os compreendendo, pensavam que ele estava permitindo ter uma vida liberal ao acreditar que ele estava dizendo que a Torá foi abolida, e que agora podiam praticar qualquer ato, não sendo mais considerados pecadores. Sobre essa categoria de gente está escrito: "Ai de vós que alterais as palavras de verdade, e pervertei a Torá eterna! Eles consideram a si mesmos sem pecado, eles serão pisados na terra" (1 Enoque 99: 2).


Em suma, a verdade é que as expressões "evangelho da circuncisão e incircuncisão"  não se tratam de dois evangelhos diferentes, mas sim se refere aos recebedores do evangelho (o público alvo), pois, diferiam um do outro. Para os judeus o evangelho seria abordado utilizando questões complexas de como os próprios rabinos entendiam a Escritura, enquanto para os gentios, esse mesmo método não seria aplicado, já que eles não estudavam com os rabinos. Assim, todos que fossem pregar aos gentios deveriam ensinar a Escritura utilizando exemplos didáticos, compreensíveis às suas mentalidades. Por exemplo, quando Paulo foi pregar em Atenas, ele primeiro passeou pela cidade e viu um altar erguido a uma divindade desconhecida. Na hora da sua pregação ele exclamou que veio para pregar sobre aquela divindade que eles não conheciam, mas que agora eles poderiam conhecer se dessem ouvidos àquela pregação. Portanto, a diferença entre os apóstolos estava na forma de abordar o conteúdo entre as diferentes classes de pessoas, e não na essência do evangelho em si. Afinal, o próprio Paulo exclamou que sua pregação estava alinhada com os profetas e apóstolos, tendo um verdadeiro "Alinhamento Escritural" (Efésios 2:20). 



Para mais detalhes sobre este mesmo episódio bíblico, clique AQUI.  



Seja iluminado!!! 












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