Por: Cleiton Gomes
Nesse estudo falaremos sobre alguns mitos que foram criados a favor da ideia de que o dízimo é para ser entregue em dinheiro. Com efeito, vamos ao primeiro mito:
1º MITO: Os dízimos eram em alimentos porque naquela época ainda não existia formas monetárias de pagamento. Se já existisse dinheiro, certamente o dízimo seria entregue como dinheiro
É bastante comum encontrar pessoas dizendo que o dízimo não era em dinheiro antigamente, porque naquela época ainda não existia formas monetárias de pagamento. Não obstante, ao consultar as Escrituras, veremos que estas coisas não são assim, pois iremos aprender que já existiam formas de pagamento monetário antes mesmo do nascimento de Moisés. Com efeito, a esposa de Abraão (Sara) disse que havia dado muitas moedas de prata para o irmão de Abimeleque (Gênesis 20: 15-16). Isso aconteceu porque nos tempos de Abraão já existiam formas de pagamento monetário, inclusive, o próprio Abraão comprava servos e propriedades para si (Gênesis 17: 12-27; 25:10).
Outro exemplo, José foi vendido aos ismaelitas por muitas moedas de prata, depois foi comprado por Potifar (Gênesis 37:28,36; 39:1). Depois de alguns anos, José recebe seus irmãos que estavam em busca de comprar alimentos. Sabemos que os irmãos de José trouxeram moedas para comprar alimentos, e José devolve todas elas colocando dentro dos sacos de alimento (Gênesis 42: 25-35). E mais, em Êxodo 21, do verso 24 em diante, podemos ver uma série de leis referentes à indenização, onde o dano cometido contra outrem deveria ser compensado com determinada quantia monetária.
Daí, não resta dúvidas alguma: na época já existia dinheiro e quando as leis do dízimo foram criadas, em nenhuma delas foi requerido a entrega de "dinheiro" para qualquer indivíduo.
2º MITO: O dízimo sempre foi em dinheiro desde os tempos antigos
Essa afirmação também é disseminada por alguns líderes religiosos, os quais já revisaram os conceitos antigos, Aquele que foi desmentido no tópico logo acima. Esses líderes já aprenderam que formas de pagamento monetário já existiam durante a época de Abraão, Isaque, Jacó, e durante a época de muitos outros personagens bíblicos que viveram ao longo da história. Daí, para tentar manter a ideia de que o dízimo deve ser entregue em dinheiro, criaram uma nova teoria. Nesse sentido, será citado o argumento de um líder messiânico, que diz que o dízimo sempre foi em dinheiro. Eis o comentário de Mário Moreno:
“A primeira ocorrência da palavra “dízimo” nas Escrituras está num evento que “desmancha” esta teoria [a teoria de que o dízimo não poderia ser em dinheiro]. Vejamos o que nos diz o texto: “E bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos. E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo” (Gênesis 14:20).
Se todos nos lembramos da história, Abraão vai em busca de seu sobrinho Ló e de sua família além de trazer junto com eles os “espólios” da guerra. Parte destes espólios foram entregues como dízimo por Abraão. Mas o que eram estes espólios?
A Torah nos esclarece: “E tomaram todos os bens de Sodoma, e de Gomorra, e todo o seu mantimento e foram-se” (Gênesis 14:11). Então os espólios eram os “bens de Sodoma e Gomorra” e todo o mantimento. Pelo texto a Torah diz que o dízimo foi dado de tudo e não somente dos “alimentos” que estavam disponíveis ali como espólio de guerra.
(...)
Portanto, concluímos que seria impossível dizer que nas Escrituras os dízimos são somente “alimentos” ou dos animais do rebanho. Dízimo é o produto de qualquer coisa que se produz ou do fruto de uma realização qualquer, como por exemplo o seu trabalho!”. (Fonte: https://shemaysrael.com/maaser-dizimo/ )
Resposta: ainda que Abraão tenha dado dinheiro no meio dos espólios de guerra, isto não serve para sustentar a ideia de que, na lei dos dízimos, era requerido dinheiro. Ademais, embora a palavra "dízimo" seja encontrada no episódio que fala de Abraão, ali não está se referindo à lei do dízimo estatuído pelo ETERNO, e sim falando de um episódio em que Abraão esteve obrigado a pagar aqueles tributos ao governo dos monarcas daquela época. O dízimo de Abraão não foi para a obra do ETERNO, ele não estava praticando um mandamento divino, e nem sequer estava entregando uma oferta voluntária. Para saber mais sobre esse episódio de Abraão, clique AQUI.
3º MITO: O dízimo deve ser entregue todas as semanas e todos os meses
Resposta: A sagrada escritura fala de muitos dízimos, porém, nenhum deles era mensal ou semanal. Todos eles eram anuais, apenas o dízimo dos pobres é que era trienal (a cada três anos). O primeiro dízimo era entregue anualmente aos levitas, que tiravam o dízimo dos dízimos e os entregavam aos sacerdotes. O dízimo do dizimista era anual (de ano em ano), pois era usado durante a celebração das festas de peregrinação para Jerusalém (que são festas anuais). O dízimo dos pobres era de três em três anos.
Quer saber mais sobre os dízimos no tempo da lei? Clique AQUI.
Em suma, nenhuma das leis do dízimo requer a entrega de dinheiro aos líderes. E nenhum deles era entregue semanalmente ou mensalmente. Era entregue de ano em ano e de três em três anos. Ou seja, era anual e trienal (Deuteronômio 14: 22-29).
4º MITO: Os apóstolos ensinaram que os dízimos são para sustentar os pastores
A ideia de que o dízimo era em dinheiro é um fim em si mesmo, pois não há fundamentos bíblicos para sustentar esse ponto de vista. E esse pensamento de que o dízimo deve ser usado para assalariar e/ou sustentar os líderes religiosos, foi uma ideia que só surgiu a muitos anos depois da morte dos apóstolos. Nenhum dos apóstolos ensinou que isto deveria ser assim.
Com efeito, citaremos a declaração do cristão, Frank A. Viola, a respeito do tempo em que o dízimo estava começando a ser visto como uma prática financeira:
“Cipriano (200-258 d.C.) foi o primeiro escritor cristão a mencionar a prática de sustentar financeiramente o clero [...] O pedido de Cipriano foi bem incomum naquele tempo. Tanto que não foi apoiado nem divulgado pelo povo cristão naquele momento, mas muito tempo depois. Além de Cipriano, nenhum escritor cristão antes de Constantino jamais utilizou referências do VT para recomendar o dízimo [o dízimo em dinheiro]. Foi apenas no século IV, 300 anos depois de Cristo, que alguns líderes cristãos começaram a defender o dízimo como prática cristã para sustentar o clero. Mas isto não chegou a ser comum entre os cristãos até o século VIII [o século 8 corresponde aos anos 701 a 800 D.C]
Segundo um erudito, “pelos primeiros setecentos anos isso (os dízimos) quase nem foi mencionado”.
[o dízimo em dinheiro para sustentar o clero é] ... uma prática daninha que não tem precedente no NT [Novo Testamento]..” (Cristianismo Pagão, 2005, páginas 103 e 104, com adições em colchetes feitas por Cleiton Gomes).
De acordo com este cristão, a ideia de que o dízimo deveria ser dado em dinheiro ao clero da Igreja, só veio a existir anos depois da morte dos apóstolos. E de fato, essa ideia somente foi oficializada durante o governo do rei Carlos Magno, no ano 567 d.C, conforme está registrado no Documento 8 da CNBB da pastoral do dízimo, publicado em 1974. Neste mesmo documento está registrado que os padres acharam por bem excomungar (impedir as pessoas de congregar com eles e se considerar um deles) todos aqueles que se recusassem a dar o dízimo ao clero da Igreja (dízimo eclesiástico). Essa decisão foi tomada no Concílio de Macon, na Gália, no ano 585 d.C.
E ainda: de acordo com as pesquisas realizadas pelo rabino W. Gunther Plaut, essa prática do dízimo teria sido interrompida durante a Revolução Francesa, época em que foi feita uma reunião para acabar com este projeto. Eis o comentário dele:
“Na época medieval, a igreja [católica romana] cobrava dízimos especiais das comunidades judaicas e também aplicava a prescrição bíblica aos seus próprios fiéis. As grandes catedrais europeias eram pagas em grande parte por essas taxas, que eram obrigatórias em muitos estados até a Revolução Francesa. As igrejas ortodoxas orientais nunca adotaram o dízimo, enquanto os mórmons e os adventistas do sétimo dia o praticam até hoje.” (The Torah: A Modern Commentary. Revised edition, CCAR press: 2005/6, página 1280).
Através de todos os dados acima examinados, fica simples declarar que os apóstolos nunca ensinaram que os dízimos devem ser entregues a todos os líderes religiosos. Essa foi uma prática criada na idade média, e não possui suporte bíblico para sustentar as ideias de dízimo em dinheiro que foram criadas nesse período.
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1- O salário pastoral é bíblico?
2- Todos os líderes religiosos cobravam e recebiam dízimos?
Seja iluminado!!!
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