As duas casas de Israel (Parte 1)

Por: Cleiton Gomes 


É bem provável que o leitor tenha percebido as expressões bíblicas "Casa de Israel" e "Casa de Judá", mas por não entendê-las não deu a importância devida. Pois bem! para começarmos a falar deste assunto, destacamos três pontos significativos:  


1) O Reino Unido, 


2) Exílio e Dispersão, 


3) Reagrupamento ou Restauração. 


Vamos falar um pouco sobre cada um deles:


1) O REINO UNIDO 


A sagrada escritura registra que Jacó gerou 12 filhos, dos quais surgiram as doze tribos de Israel (Êxodo 1:1-4). Todas as tribos viviam unidas no mesmo propósito, sob os comandos do mesmo governante; isso vigorou por muitos anos até a morte de Salomão. Foram longos anos enfrentando as mesmas lutas, interagindo como um único grupo, mas durante o governo de Roboão as coisas mudaram. 


2) EXÍLIO E DISPERSÃO 


Quando Roboão assumiu o governo de seu pai, os seus governados pediram para baixar a carga tributária, pois ela era muito pesada e o reino estava em tempos de paz. Mas Roboão consultou seus conselheiros, e em vez de baixar os tributos, aumentou os valores a serem pagos. Foi a partir desse momento que aconteceu um grande conflito no reino, que acabou se dividindo em dois (1 Reis 12: 1-14). A título de informação, este rei tinha 41 anos quando começou a reinar (1 Reis 14: 21).


Já que Roboão não queria baixar a carga tributária, muitas tribos de Israel não o aceitaram como seu rei. Em vez disso, nomearam Jeroboão como rei deles e formaram outro governo (1 Reis 12: 20). Foram 10 tribos que se juntaram a Jeroboão, passando a ser conhecidas como "Casa de Israel”, “Casa de José”, ou “Efraimitas”, que ocupavam o Reino do Norte, e sua capital foi chamada “Samaria”. 


Permaneceram ao lado de Roboão apenas duas tribos: “os judeus (da tribo de Judá), os benjamitas (da tribo de Benjamim), bem como restaram alguns levitas para que o sacerdócio levítico continuasse a ser praticado no templo”. Seu território era o Reino do Sul, e sua capital era chamada “Jerusalém”. Ainda no ínterim da divisão das tribos, o Reino do Sul tentou fazer guerra contra o Reino do Norte, mas foram impedidos pelos comandos do ETERNO através do profeta Semaías (1 Reis 12:21-24).


Abre um parêntese: O ETERNO impediu que essa guerra fosse realizada, porque aquela divisão era parte dos seus planos, o qual pretendia "plantar a semente de Abraão em todas as nações da terra”, para se cumprir a promessa de que seus descendentes seriam numerosos como as estrelas dos céus e como a areia da praia (Gênesis 22:14-18). A promessa foi repassada para Efraim, que era um dos filhos de José (Gênesis 48:17-19). Daí se entende porque as tribos dispersas são chamadas de "Efraimitas". Fecha o parêntese. 


Após saber que o Reino do Sul foi impedido de fazer guerra por demonstrar seu grande temor aos comandos do ETERNO, Jeroboão começou a pensar que se ele desse liberdade para seus governados irem para Jerusalém fazer sacrifícios, eles novamente iriam querer ficar sob os comandos de Roboão. Então, elaborou a ideia macabra de fazer ídolos de adoração em seu próprio território, para impedir que seus governados entrassem no território "inimigo" (1 Reis 12: 26-33; 14: 30). E assim, o Reino do Norte ficou repleto de idolatria, e atuando em um sacerdócio que não era administrado por levitas. 


Todos os descendentes das 10 tribos poderiam ter optado em fugir da idolatria, mas preferiram viver assim do que estar subordinados a uma carga tributária muito pesada. Durante essa rebeldia contra as leis do ETERNO, a cláusula descrita em Deuteronômio 28: 62-67, foi aplicada. O ETERNO ensinou que enquanto eles estivessem obedecendo aos seus mandamentos, iriam permanecer protegidos e continuariam a viver dentro do território de Israel, mas se não dessem ouvidos às suas instruções, seriam levados em cativeiro por outros povos. 


Assim sendo, quando a Casa de Israel praticou idolatria sob o governo de Jeroboão, a cláusula de maldição aos desobedientes prescritos na Torá começou a entrar no primeiro estágio (1 Reis 14: 14-16), sendo aplicada anos mais tarde. A maldição do Exílio quase aconteceu no reinado do rei Acabe, porquanto este não quis exterminar o rei assírio Ben-Hadade, desobedecendo ao comando do ETERNO (1 Reis 20: 42-43). Ele também cometeu outros pecados abomináveis, trazendo a ira do ETERNO sobre seu reinado (1 Reis 21: 21-22). No entanto, ele se arrependeu profundamente e o ETERNO não trouxe a penalidade para aquele tempo. Foi somente no ano 725 a.C. que o Reino do Norte sofreu um duro ataque dos assírios, tendo por comandante o rei Salmaneser V, por fim, no ano 722 a.C. foi conquistado pelo rei Sargão II. Eles foram levados em cativeiro para a Babilônia, na região da Assíria, onde viveram por muitos anos sendo subjugados a trabalhos árduos (2 Reis 17: 1-23). 


Abre outro parêntese: durante o tempo em que a Casa de Israel estava em cativeiro, o rei assírio trouxe moradores de outras regiões para morar em Samaria. Nas primeiras semanas muitos foram mortos por leões, porquanto se dizia que o D'us de Israel não aceitava adoração estranha. Foi então que alguns dos israelitas foram trazidos do cativeiro para ensinar esses novos habitantes a realizar uma adoração verdadeira; no entanto, essa tentativa falhou porque os povos preferiram continuar a adorar seus ídolos, da sua própria maneira (2 Reis 17: 24-25). Alguns adotaram o costume de adorar tanto o D'us de Israel quanto aos deuses pagãos. Houve uma completa adoração estranha, um sincretismo religioso entre os samaritanos. Por isso os samaritanos não se davam bem com o judeus (João 4:9). Fecha o parêntese. 


Após muitos anos vivendo em cativeiro, receberam a oportunidade de retornar para seu próprio território. Porém, muitos optaram por morar nas cidades gentílicas, ficando assimilados entre as nações e até adotaram o estilo de vida dos idólatras (vide, Oséias 8:8; 9:17). Foi através desse processo que surgiu a expressão "as tribos perdidas da Casa de Israel". 


Por conta de muitos pecados cometidos contra o ETERNO, foi-lhes dada carta de divórcio (Jeremias 3:7-14). Eles não seriam mais contados como povo santo, nem teriam mais nenhum vínculo com o ETERNO. Ainda nesse mesmo contexto, o ETERNO explica que  a Casa de Judá (Reino do Sul) também havia praticado pecados abomináveis, mas ele não se divorciou deles por conta da promessa feita ao Rei Davi, sobre o descendente prometido ao trono.  Além disso, o ETERNO se divorciou da Casa de Israel porque todos os 20 monarcas que a governaram ao longo de aproximadamente duzentos anos (930 a 922 A.C), foram idólatras. Já a Casa de Judá (Reino do Sul) contou com 20 monarcas até o Exílio babilônico, sendo que 8 deles foram homens tementes ao ETERNO, uma dinastia que durou cerca de trezentos e trinta e quatro anos (de 930 a 586 A.C). 


O ETERNO deu carta de divórcio para a Casa de Israel e espalhou as tribos entre as nações existentes na terra, mas assegurou que sua ira não duraria para sempre contra eles. Ele também assegurou que faria uma nova aliança com a Casa de Israel e, então, os chamou para se arrepender de seus pecados (Jeremias, capítulo 3). É isso mesmo que você está pensando, o assunto da nova aliança inclui as tribos perdidas da casa de Israel. 


O agente da restauração é o próprio Messias (Ezequiel 37: 24; Isaías 42: 1-6), por isso Yeshua disse que veio para buscar as ovelhas perdidas da Casa de Israel (Mateus 15: 24). É ele que tem a missão de extinguir todo ódio que existe entre o Reino do Sul e o Reino do Norte, e embora estes reinos não existiam atualmente como impérios terrenos, o preconceito ainda existe na mentalidade de muitos. De fato é profético a ideia de que o ódio entre as duas casas será extinto através do Messias, veja, por exemplo: Isaías 11:12-13; 27:9-13; Jeremias 3:16-18; 50:4-5.


Já que as tribos do Reino do Norte ficaram dispersas pelas nações, ficando assimilados entre os gentios naturais, passando a ser chamados "tribos perdidas" (Jeremias 50:6), e sabendo que o Messias é o agente da restauração, fica simples compreender aquele ensinamento de Yeshua sobre ser “pescadores de homens" (Mateus 4:19 combinado com Jeremias 16: 14-16). Significa que ele vai lançar o anzol no meio das nações e vai pescar os remanescentes da casa de  Israel, sem excluir os gentios naturais que também passariam a ser parte da pesca. Afinal, quando se lança o anzol nas águas com uma isca, e tendo variedades de peixes nas águas, não será pego apenas uma classe de peixe.


De fato, o Messias ordenou que as boas novas fossem anunciadas entre as nações da terra (Mateus 28:19-20), sendo águas com variedades de peixes nadando dentro, logo, os pescadores iriam conseguir mais de uma variedade de peixe (Mateus 13: 47). E aqui também podemos entender aquele dizer de Yeshua “todos que vierem a mim de maneira alguma lançarei fora" (João 6:37-40), por sua vez, existem espécies aquáticas imundas que não servem como alimento, de maneira que estes seriam lançados fora pelos pescadores (Mateus 13:48); se trata de pessoas que aceitam a mensagem das boas novas, mas com pouquíssimo tempo ficam escandalizados e começam a maldizer o bom caminho, porque preferem "viver na carne" do que "evitar as coisas do mundo". São pessoas que sentem vergonha de servir ao ETERNO. 


Tudo isso foi dito para mostrar que, embora a prioridade do Messias seja os efraimitas, isso não exclui os gentios naturais que também passariam a crer na mensagem de restauração. Assim sendo, a mensagem de restauração tem como prioridade a Casa de Israel, mas não é exclusiva apenas para eles. Prioridade é colocar algo em primeiro lugar, exclusividade é dizer que a aliança seria feita apenas com eles. 


Quando Yeshua veio ao mundo, ensinou que sua prioridade era a Casa de Israel, as tribos perdidas. Porém, na medida em que as boas novas eram introduzidas entre as nações, quando a rede de pesca foi lançada pelos pescadores, foram pegas variedades de peixes. Isso cai como uma luva naquele episódio que fala sobre a visão de Pedro sobre os lençóis contendo várias espécies de animais (Atos 10), mostrando que até mesmo gentios naturais estariam aceitando as boas novas, e que o ETERNO não faria acepção de pessoas (Atos 11:19-26). 


Cumpre registrar que as tribos dispersas de Israel, por já estarem vivendo assimilados entre os gentios a mais de 720 anos, também foram chamados "gentios". Assim, quando os apóstolos falavam sobre as boas novas serem pregadas aos gentios, eles estavam incluindo tanto os descendentes das tribos perdidas quanto os gentios naturais, dos quais não corria em suas veias o sangue de Abraão. Por isso foi escrito que “o muro de separação entre israelitas e não-israelitas foi derrubado” (Efésios 2: 1-22). Além disso, também foi escrito que a nova aliança seria estendida aos não-israelitas (Deut. 29: 14-15). 


Atualmente ainda existem vários efraimitas dispersos entre as nações da terra; quer dizer que eles estão em cativeiro espiritual há mais de 2 mil anos, e aguardam a mensagem de restauração chegar aos seus ouvidos.  No momento em que as boas novas forem ouvidas por todos, chegará o momento em que o Messias virá reagrupar os remanescentes das tribos perdidas, bem como os gentios que passaram a crer. Afinal, quando um gentio natural passa a crer em Yeshua, será aceito por ele como sendo parte da família, e não será rejeitado em função da sua origem genealógica.  


O momento do seu retorno se dará após “a plenitude dos gentios" (Romanos 11:25-30). A título de informação, este título mencionado acima tem prioridade sobre os efraimitas, pois, quando Jacó abençoou os filhos de José, disse que de Efraim sairia uma "multidão de nações” (Gênesis 48:17-19), cujo termo em hebraico é “melo hagoyim", podendo ser trazido como "plenitude dos gentios". 


No entanto, para reatar o vínculo matrimonial entre a Casa de Israel e o ETERNO um rigoroso processo deverá acontecer no futuro, que será explicado no próximo tópico deste estudo. 


 Seja iluminado!!!! 






Gostou do post? Compartilhe com seus amigos:

Postar um comentário

0 Comentários