Por: Cleiton Gomes
Extraído da obra: Ainda Há Esperança - O Chamado para Retornar, 1ª edição: 2020, páginas 242 a 255. Obs: O texto em questão foi revisado e ampliado.
Façamos a leitura de um dos textos mal compreendidos pelos teólogos cristãos:
“Eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará”. (Gálatas 5: 2. Bíblia Sagrada, com números Strong).
Nos tempos do apóstolo Paulo era bastante comum ocorrer debates sobre como deveria ser a correta aplicação do mandamento da circuncisão na carne (também conhecido como Brit Milá). Esse tipo de debate era bastante frequente entre as duas escolas farisaicas existentes durante a existência do Segundo Templo (Talmud Bavli, Yevamot 46a), ou seja, existiam muitos debates entre a escola de Hilel e a escola de Shamai.
Quando entendemos esse detalhe sobre o pano de fundo histórico, fica simples entender que Paulo não estava propondo nada de diferente quando também passou a travar debates sobre a questão da circuncisão na carne. Em se tratando do debate por parte dos fariseus em si, os relatos históricos nos informam que os fariseus da escola de Shamai eram mais rígidos na sua interpretação sobre este mandamento, chegando a acreditar que todo aquele que não fosse circuncidado corria o risco de perder a sua salvação.
É por essa razão que eles só aceitavam que um novo convertido pudesse fazer parte de sua comunidade se primeiramente fossem circuncidados na carne. No entanto, os fariseus da escola de Hilel acreditavam que os gentios novos convertidos poderiam ser admitidos dentro de sua comunidade se tão somente passassem primeiramente pela imersão nas águas (a tevilá/ batismo). Eles entendiam que, mais tarde, os gentios poderiam aprender mais sobre este mandamento da circuncisão e que poderiam escolher passar por ele, tudo isso de forma espontânea e voluntária.
Atente-se para esse detalhe crucial antes de prosseguir. Esta é a chave que abrirá seu entendimento sobre a questão da circuncisão, para que possa entender a visão do apóstolo Paulo. Vamos lá:
1) A circuncisão na carne não é obrigatória para as pessoas de todas as nações do mundo. Trata-se de um mandamento obrigatório apenas para os descendentes sanguíneos de Abraão, bem como se extende a todos que são convertidos formalmente à religião dos judeus, que moram dentro da terra de Israel (Gênesis 17: 9-11);
2) A circuncisão não é obrigatória para quem não é descendente carnal de Abraão, não é obrigatória para quem não é convertido à religião dos judeus e nem vive dentro dos territórios de Israel. A Torá não exige que isto seja realizado em todas as classes de pessoas de forma obrigatória. Não obstante, se a pessoa (o gentio) desejar do íntimo de seu coração efetivar este mandamento em si mesmo por amor únicamente ao ETERNO, nada nem ninguém poderá impedi-lo, pois a Torá autoriza a circuncisão de pessoas de outras nações quando eles querem passar por esse processo voluntariamente (Êxodo 12: 48). Ademais, Abraão não era um judeu e este foi circuncidado na carne, donde se concluí que a circuncisão na carne também pode ser aplicada a um não-hebreu sem problema algum.
Como os apóstolos entendiam sobre a questão da conversão do gentio? O requisito formal de admissão de um goyim (gentio) dentro da comunidade liderada pelos apóstolos continha o mesmo entendimento dos fariseus hileítas, pois, Yeshua ensinou que aquele que cresse na mensagem apostólica deveria ser imerso nas águas como requisito formal de admissão à sua comunidade (Mateus 28: 19; Atos 2:38). Os apóstolos reprovaram a ideia de que o gentio novo convertido deveria ser obrigado a praticar a circuncisão para que pudesse fazer parte da comunidade nazarena (Atos 15: 1,5). Para eles, os gentios deveriam começar seu discipulado através de regras mínimas, pois toda criança precisa apenas de leite quando ela está começando a crescer. Somente depois de uma fase mais adulta é que ela passa a comer alimentos mais sólidos, isso significa que os apóstolos ensinaram muitos outros mandamentos para os seus discípulos, para crescerem na graça e no conhecimento.
Nos documentos da Patrística também podemos encontrar os registros que dizem que "os nazarenos" nunca deixaram de praticar o mandamento da circuncisão na carne, confira:
Irineu de Lyon (130 a 202 d.C) argumenta:
"Eles [os nazarenos] praticam a circuncisão...” (Irineu de Lyon, Contra Heresias, 1: 26).
Epifânio de Salamina (310 a 403 d.C) afirma:
"...[os nazarenos] praticam os ritos judaicos da circuncisão, a guarda do sábado, e outros.” (En Contra de las Herejías, Panarion 29, 7).
São Jerônimo (347 a 420 d.C) também atesta que os discípulos de Yeshua não deixaram de praticar os mandamentos da Torá:
"Os Nazarenos ... aceitam o Messias de tal maneira que eles não deixam de observar a Lei…” (Jerônimo, Commentary on Isaiah 8: 14).
Cumpre registrar que até mesmo o Paulo, depois de reconhecer que Yeshua era o verdadeiro Messias e também depois de sua conversão, vemos ele realizando a circuncisão na carne. Ele circuncidou Timóteo conforme veremos abaixo:
"Chegou também a Derbe e a Listra. Havia ali um discípulo chamado Timóteo, filho de uma judia crente, mas de pai grego; dele davam bom testemunho os irmãos em Listra e Icônio. Quis Paulo que ele fosse em sua companhia e, por isso, circuncidou-o...” (Atos 16: 1-3).
Diante de todos esses fatos, torna-se bastante evidente afirmar que estão errados aqueles que pensam que Paulo era contra a circuncisão. Estão errados aqueles que pensam que o Messias destruiu o mandamento da circuncisão na carne. E ainda, os apóstolos nunca foram contra o mandamento da circuncisão na carne, porém, entendiam que isso não se aplicava àquela classe de gentios.
Eles entendiam que os discípulos gentios poderiam fazer parte da comunidade sem ser circuncidado na carne primeiramente, e depois de vários anos estudando com os apóstolos, os gentios iriam entender mais sobre o significado do mandamento em questão e, quem sabe, optar por praticar este mandamento de forma espontânea e voluntária. Se o gentio escolher ser circuncidado por amor ao mandamento do ETERNO não há problema algum, bem como não há problema algum se ele também nunca decidir passar por este processo, visto que esse mandamento não é obrigatório para eles. É em razão dos fatores acima descritos que Paulo explica:
“é alguém chamado, estando circuncidado? Não se faça incircunciso. É alguém chamado estando na incircuncisão? Não se circuncide" (1ª Coríntios 7: 18).
Vamos nos aprofundar mais nesse assunto para que possamos entender as palavras expressadas por Paulo. Sabemos que ele falou sobre este assunto da circuncisão muitas vezes durante suas visitas às comunidades de irmãos no Messias. Ele ensinava que a circuncisão na carne só seria proveitosa se o restante dos mandamentos também fosse guardado de forma adequada, confira:
"A circuncisão é nada e a incircuncisão nada é, mas, sim, a observância dos mandamentos de Elohim." (1ª Coríntios 7: 19).
"Porque a circuncisão é, na verdade, proveitosa, se tu guardares a lei; mas, se tu és transgressor da lei, a tua circuncisão se torna em incircuncisão." (Romanos 2: 25).
Na frase “a circuncisão é nada e a incircuncisão nada é”, o apóstolo estava pondo o judeu e o gentio a pé de igualdade, dizendo que em Yeshua não existe acepção de pessoas. E a outra frase “mas sim a observância dos mandamentos”, quer dizer que devemos praticar os mandamentos de forma adequada semelhante a Yeshua. Ele estava ensinando que devemos praticar os mandamentos de forma incorruptível e não de forma corruptível, pois esta última forma se trata de uma vida de hipocrisia. Esse mesmo ensinamento foi repetido em Gálatas 6: 15, veja:
“Porque em Yeshua, o Messias, nem a circuncisão, nem a incircuncisão tem virtude alguma, mas o ser nova criatura”.
Paulo estava buscando acabar com o preconceito dos judeus para com os gentios e o preconceito dos gentios contra os judeus, mostrando que era errado fazer acepção de pessoas. Ele destaca que todos deveriam ser uma nova criatura, e ser uma nova criatura consiste na seguinte ideia:
"Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno e a avareza, que é idolatria; por estas coisas é que vem a ira de Elohim [sobre os filhos da desobediência]. Ora, nessas mesmas coisas andastes vós também, noutro tempo, quando vivíeis nelas.
Agora, porém, despojai-vos, igualmente, de tudo isto: ira, indignação, maldade, maledicência, linguagem obscena do vosso falar. Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho homem com os seus feitos e vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou; no qual não pode haver grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém o Messias é tudo em todos." (Colossenses 3: 5-11).
É isso que significa ser uma nova criatura, mas muitos ainda conseguem entender que ser uma nova criatura consiste em praticar os mandamentos da Torá. Com efeito, vamos examinar algumas das proibições acima e constatar que todas elas foram extraídas da própria Torá. Vamos enumerar algumas das regras citadas por Paulo no texto logo acima, e na lista iremos colocar as referências de onde esses mandamentos se encontram na Torá:
1) Não praticar a prostituição (Levítico 19:29);
2) "Não praticar a impureza." Trata-se de uma regra que fala a respeito de sexo com animais, sexo entre pessoas do mesmo sexo, e sexo com pessoas da própria parentela (Levítico 18: 6-25). Também está ligado ao ato de comer carne de animais imundos, pois quando o homem faz isso se gera a impureza na alma dele (Levítico 11: 43-47);
3) "Não praticar a lascívia". Trata-se de uma regra que proíbe a má intenção do coração, pois, a lascívia é quando a pessoa se veste e anda de modo a atrair o desejo sexual em outra pessoa. Quem proíbe essa intenção do coração é o mandamento de "não praticar a cobiça" (Êxodo 20: 17);
4) "Não praticar a avareza". Como o próprio apóstolo Paulo disse, a avareza é um tipo de idolatria, já que a pessoa colocava o dinheiro acima de tudo e de todos. E sabemos que a idolatria é proibida pela Torá (Deut. 5: 7-9; Levítico 19:4);
5) "Não praticar a ira". Ter raiva, rancor, ira, ódio, são coisas que violam o mandamento de amar o próximo como a si mesmo (Levítico 19: 18, 33-34), razão pela qual não devemos alimentar esse sentimento dentro de nós;
6) "Não praticar a maldade". Todos os mandamentos da Torá que falam de "proibição", todos eles proíbem a maldade. Para citar um tipo de maldade proibido pela Torá, citaremos o mandamento que "proíbe ser uma pessoa que pratica atos perversos" (Levítico 19: 14; Deuteronômio 27:18);
7) "Não praticar a linguagem obscena." Trata-se do pecado cometido da língua, e este tipo de pecado foi amplamente proibido pela Torá (Levítico 19: 11,16; Êxodo 16: 7,8; 23:1).
E mais, o próprio ato de proibir fazer "acepção de pessoas", também é um dos mandamentos da Torá (Levítico 19: 15).
Bem, vamos prosseguir falando sobre a circuncisão na carne. Naquela época, muitos passaram a impor a circuncisão na carne de forma obrigatória aos novos convertidos, sendo que eles (aqueles que estavam impondo essa regra) mesmos costumavam transgredir outros mandamentos de forma voluntária. Eles não estavam praticando os mandamentos da Torá de forma adequada, não estavam dando bom exemplo, foi por isso que Paulo chegou a dizer:
"Você ensina aos outros. Por que então não ensina a você mesmo? Você diz aos outros que não se deve roubar. Por que então você rouba? Você diz que não se deve cometer adultério. Por que então você mesmo comete? Você odeia os ídolos. Por que então rouba os templos? Você se orgulha da lei. Por que então desonra a Deus desobedecendo a essa mesma lei? As Escrituras dizem: “Os que não são judeus falam mal de Deus por culpa de vocês”. Se você segue a lei, então a sua circuncisão tem valor; mas, se você não obedece à lei, é como se você nunca tivesse sido circuncidado. Se um homem não é circuncidado mas mesmo assim obedece aos mandamentos da lei, não será ele contado como um homem circuncidado? (Romanos 2: 21-26. Novo Testamento, versão fácil de ler, 1999).
Toda a discussão em torno do mandamento da circuncisão está centralizado neste ponto: uns queriam impor o mandamento da circuncisão para outros, não obstante, por causa do péssimo testemunho que tinham, perdiam todo o direito de ensinar ou fazer exigências de outras pessoas. Por essa razão, ao lermos a declaração do apóstolo Paulo em Gálatas 5: 2, não devemos entender que ele estava atacando o mandamento em si, mas sim combatendo o falso testemunho daqueles outros mestres.
Paulo estava se opondo à forma incorreta de como o mandamento da circuncisão estava sendo aplicado nas pessoas e, em função disso, ele lança a proibição para seus discípulos, para que não se deixassem ser persuadidos por eles e não se deixassem ser circuncidados.
Estudo relacionado: Os gentios são obrigados a se converter ao Judaísmo?
Outro detalhe importante é o seguinte: o apóstolo Paulo estudou com Gamaliel (o neto do rabino Hilel). Como já vimos anteriormente, Hilel foi o fundador da escola farisaica hileíta, a escola que tinha pontos de vista totalmente diferentes de como pensavam os shamaítas.
Isso tudo quer dizer que Paulo era um fariseu da escola de Hilel, razão pela qual ele também era contra a interpretação dos shamaítas. Ele entendia que se um gentio quisesse ser circuncidado na carne por amor ao mandamento do ETERNO e não por ter sido obrigado por alguém a fazer isso, tal atitude seria louvável. Mas se a pessoa passasse pela circuncisão pelo fato de ter sido obrigado por outra pessoa, à vista do ETERNO essa atitude não seria louvável, mas sim desprezível já que a pessoa não estaria praticando o mandamento por amor ao ETERNO e sim pelo medo dos homens (isso quer dizer que a pessoa não tem temor ao ETERNO e sim medo da crítica dos homens).
Como já perceberam, Paulo era contra a falsa interpretação das pessoas que estavam impondo a circuncisão aos novos convertidos, quais diziam que eles não poderiam ser salvos se não cumprissem esse mandamento. Por causa deste erro de aplicação ao mandamento da circuncisão, o apóstolo Paulo argumenta:
“Todos os que querem mostrar boa aparência na carne, esses vos obrigam a circuncidar-vos, somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo. Porque nem ainda esses mesmos que se circuncidam guardam a lei, mas querem que vos circuncideis, para se gloriarem na vossa carne.” (Gálatas 6: 12-13).
Mediante à todos os argumentos acima utilizados, façamos um breve raciocínio:
a) Paulo ensinou que a circuncisão só é proveitosa para quem guarda os mandamentos da Torá corretamente (Romanos 2: 25; 1ª Cor. 7: 19);
b) Paulo era praticante da Torá (Romanos 3: 31; 7:22; Atos 24: 13-14; 25: 7-8);
c) resultado: Paulo acreditava que a circuncisão na carne é proveitosa, já que ele praticava adequadamente os mandamentos da Torá. Aliás, não estamos inventando este resultado, pois quem afirmou isso foi o próprio apóstolo Paulo, veja: ".... qual a utilidade da circuncisão? Muita, em toda a maneira…” (Romanos 3: 1-2).
PAULO E "OS GRUPOS" DOS DA CIRCUNCISÃO
Aparentemente, existiam muitos grupos que eram chamados de “os da circuncisão” pois iremos encontrar um grupo aceitando a mensagem de Pedro em Atos (capítulo 10 e 11), veremos outro grupo entrando em discordância total com Pedro em Gálatas 2. Iremos encontrar outro grupo com esse mesmo título lá em Atos 15, e tem aqueles que Paulo era totalmente contrário a eles. Vamos estudar um pouco sobre eles?
Em Gálatas 2: 6, Paulo diz que um grupo chamado de "os da circuncisão" nada lhe acrescentaram. Por outro lado, disse que outro grupo "dos da circuncisão" o ajudaram bastante e o consolaram durante suas angústias (Colossenses 4:11). Isso mostra que quando o apóstolo Paulo disse que os da circuncisão eram insubordinados, que eles destruíram a vida espiritual de muitas famílias, (Tito 1: 10-13), não significa que ele estava falando de todos os grupos dos da circuncisão, pois sabia que existiam grupos que era formados por pessoas que andavam na verdade, enquanto outros eram hipócritas. Vamos fazer a leitura do verso citado anteriormente:
"Porque há muitos insubordinados, faladores, vãos e enganadores, principalmente os da circuncisão, aos quais convém tapar a boca; homens que transtornam casas inteiras ensinando o que não convém, por torpe ganância. Um deles, seu próprio profeta, disse: Os cretenses são sempre mentirosos, bestas ruins, ventres preguiçosos. Este testemunho é verdadeiro. Portanto, repreende-os severamente, para que sejam sãos na fé." (Tito 1: 10-13).
É bastante provável que este grupo de “insubordinados” seja o mesmo grupo que entrou em discussão com os apóstolos durante o Concílio que ocorreu na cidade de Jerusalém (Atos 15: 1, 5, 24). Embora tendo recebido advertências de todos os apóstolos naquela ocasião, com o passar do tempo, decidiram não mais seguir à halachá da comunidade dos nazarenos, razão pela qual foram chamados de "insubordinados".
Se esse grupo for aquele mesmo, então agora sabemos a razão de o apóstolo Paulo dizer que eles deveriam ser "silenciados". Ou seja, que a doutrina pregada por eles deveria ser combatida já que o modo de aplicar o mandamento da circuncisão não era realizado do modo correto por parte deles, e que ninguém deveria dar ouvidos aos ensinos deles, a menos que eles se tornassem "sãos na fé".
É por causa do falso método de aplicação ao mandamento da circuncisão, que Paulo chega a proibir os seus discípulos de dar ouvidos à este grupo dos da circuncisão, confira:
"Guardai-vos dos cães, guardai-vos dos maus obreiros, guardai-vos da circuncisão" (Filipenses 3: 2).
O texto acima aparenta dizer que a circuncisão não tem proveito algum, não obstante, basta fazer a leitura deste mesmo texto no texto em grego para se constatar que Paulo estava falando não do verdadeiro na carne e sim falando sobre uma "falsa circuncisão". Eis os textos em grego:
"Βλέπετε τοὺς κύνας, βλέπετε τοὺς κακοὺς ἐργάτας, βλέπετε τὴν κατατομήν. ἡμεῖς γάρ ἐσμεν ἡ περιτομή, οἱ πνεύματι θεοῦ λατρεύοντες καὶ καυχώμενοι ἐν Χριστῷ Ἰησοῦ καὶ οὐκ ἐν σαρκὶ πεποιθότες" (Filipenses 3:2-3 em grego koiné).
O verso dois do texto em grego, apresenta o verbete "κατατομήν" (katatome), que significa: “corte” e “mutilação” (Strong: G2699). De acordo com a opinião de alguns acadêmicos, esse “corte” falado no texto se refere àquele tipo de corte feito durante atividades idólatras, que são proibidos na Torá (Levítico 19: 28). Porém, tendo em vista que o apóstolo Paulo fala da circuncisão na carne logo no verso seguinte ("verso 3"), entendemos que não é desse tipo de corte que ele está falando. Ele estava falando de um método de circuncisão que não seguia o mesmo procedimento que deveria ser realizado na verdadeira circuncisão na carne. Se tratava de um estilo de corte totalmente diferente de como fora realizado pelos antigos sábios na história bíblica.
Ora veja, no verso 2 o apóstolo Paulo usa a expressão "katatome" para falar daquele procedimento "cirúrgico" feito de forma incorreta, porém, no verso 3 ele usa outra palavra para falar da verdadeira circuncisão na carne, que é a palavra "περιτομὴ" (peritome/ Strong: G4061). Sabemos que se trata do verdadeiro mandamento da circuncisão, porque em outros lugares da sagrada escritura iremos ver Paulo utilizando esta mesma expressão, conforme podemos conferir no texto logo abaixo:
"περιτομὴ μὲν γὰρ ὠφελεῖ ἐὰν νόμον πράσσῃς· ἐὰν δὲ παραβάτης νόμου ᾖς, ἡ περιτομή σου ἀκροβυστία γέγονεν." (Romanos 2: 25).
A suposta circuncisão realizada pelos falsos obreiros não era realizada de forma correta, tal como realizar "a cirurgia de fimose" não é considerado a verdadeira circuncisão na carne. Os falsos obreiros não realizam o verdadeiro procedimento cirúrgico, e sim uma falsa circuncisão. Já que eles só faziam uma "mutilação", significa que eles não cortavam todo o prepúcio do pênis do homem conforme ensina a Torá (Gênesis 17: 11), bem como não pronunciavam as bênçãos que deveriam ser proferidas durante o procedimento da aplicação deste mandamento. Basta consultar o significado da palavra "circuncisão" para se entender que significa "cortar e tirar um pedaço da carne para fora".
Em resumo, o apóstolo não estava ensinando que a circuncisão na carne não poderia mais ser realizada em momento algum, mas sim combatendo "a falsa circuncisão" realizada pelos falsos obreiros.
A CIRCUNCISÃO NO CORAÇÃO
Façamos a leitura do seguinte texto:
"Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é somente na carne. Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Elohim." (Romanos 2: 28-29).
Querido leitor, você sabia que a circuncisão do coração também é um dos mandamentos da própria Torá? É muito provável que nunca tenham te ensinado que nos tempos de Moisés este mandamento já era conhecido e também praticado. Mas agora você está tendo a oportunidade de aprender que este mandamento já era ensinado na própria Torá, confira:
“Circuncidai, pois, o prepúcio do vosso coração, e não mais endureçais a vossa cerviz” (Deut. 10: 16).
Circuncidar o coração é retirar para fora todos os nossos maus pensamentos, os quais sabotam nosso relacionamento com o ETERNO. É arrancar para fora todos os nossos maus pensamentos que podem corromper o bom relacionamento que temos com a nossa própria família, com nossos amigos e com a sociedade. O "coração" aqui se refere ao nosso "entendimento", ao nosso "intelecto", pois é do intelecto das pessoas que procedem os maus pensamentos. O Espírito de Elohim circuncida o nosso coração quando ele começa a ministrar a Torá dentro de nós (Ezequiel 36: 26-27).
Quando a sagrada escritura fala sobre o "coração", muitas vezes ela não está falando do órgão bombeador de sangue e sim do nosso intelecto. Trata-se daquilo que nós pensamos e fazemos, pois tudo aquilo que fazemos, antes de tudo pensamos. Mas nem tudo que pensamos, fazemos. Muitos pensamentos maldosos ficam arquivados dentro de nós. E quanto mais a gente arquivar estes pensamentos em nós, mais danos eles podem causar à nossa saúde emocional. Portanto queridos, aprendam esta linda lição da Torá: "circuncidai o vosso coração", para que uma mudança aconteça dentro de você, uma mudança de dentro pra fora.
Para finalizar este tópico, medite neste ensinamento do apóstolo Paulo:
“... tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai” (Filipenses 4: 8).
Finalizamos este estudo, dizendo que estão errados aqueles que pensam que os israelitas não tinham conhecimento sobre a circuncisão do coração lá nos tempos de Moisés. Também estão errados aqueles que pensam que a circuncisão do coração veio para substituir a circuncisão na carne (pois os dois mandamentos existem mutuamente na Torá), bem como estão errados aqueles que pensam que a imersão nas águas surgiu para substituir a circuncisão na carne (pois os registros da patrística demonstram que os discípulos nunca deixaram de praticar a circuncisão). Não, não e não, mil vezes não.
Seja iluminado!!!
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