Por: Cleiton Gomes
ENTENDENDO O CAPÍTULO QUATORZE DE CORÍNTIOS
Nas primeiras partes deste estudo, demonstramos que não existe o conceito de falar em línguas estranhas tal como se entende no meio gospel. Pois, no meio gospel, se diz que as línguas estranhas são algo como "decantolabaxéia", mas a verdade da sagrada escritura é que o dom de línguas está totalmente conectado ao contexto de ensinar a Torá para as nações da terra, que falam em idiomas diversos. Isso é assim desde o momento em que a Torá foi entregue nos tempos de Moisés, diversas gerações antes do nascimento dos apóstolos. Ou seja, a Torá é ensinada a pessoas de outras regiões por meio do dom de línguas.
Ainda que não exista a "língua gospel" como sendo um conceito verdadeiro nas Escrituras, muitos tentam manipular os textos de 1ª Coríntios 14, para dizer que o apóstolo Paulo ensinou aquilo que se prega nas igrejas evangélicas é totalmente bíblico. Pois bem, vamos examinar todo o contexto para ver se essas coisas são exatamente como dizem ser.
Tudo começa com a repreensão do apóstolo Paulo aos Coríntios, que se tornaram pessoas carnais. É da sabença dos estudiosos que Paulo foi aquele que discipulou os Coríntios (1ª Coríntios 11: 2). Porém, houve um tempo em que Paulo se ausentou daquele lugar, e durante sua ausência os Coríntios começaram a ficar carnais e materialistas. Por exemplo, estavam deixando de crer na ressurreição dos mortos (1ª Coríntios 15: 1), questões duvidosas foram levadas sobre o casamento e a virgindade (1ª Coríntios 7:1,25), e até estavam admitindo que pessoas praticantes de atos sexuais ilícitos permanessecem no meio deles sem receber nenhum tipo de advertência (1ª Coríntios 5:1; 6:15-20).
Entre eles havia dissensões (1ª Coríntios 1: 10-11), também havia pessoas comendo alimentos sacrificados a ídolos e servindo de tropeço para os mais novos e fracos na fé (1ª Coríntios, capítulo 8). Depois Paulo até explicou que comer alimentos sacrificados a ídolos é como participar da mesa de demônios (1ª Coríntios 10: 20-21), de modo que aqueles que se achavam superiores por comer alimentos dos ídolos, de acordo com essa assertiva de Paulo, eles estavam comendo na mesa de demônios. E no tocante aos dons espirituais, alguns estavam se julgando melhores e superiores que outros, dizendo que eles tinham o dom de línguas e outros não (1ª Coríntios 12: 22-23, 30). Provavelmente, acreditavam que os dons eram dados a eles devido a seus esforços e méritos, e começavam a rebaixar e menosprezar aqueles que eles diziam não ter esse Dom.
As dissensões eram tantas que o amor entre eles começou a ser esquecido. As pessoas que diziam ter o dom de línguas sentiam o desejo de se exibir dentro da congregação, de maneira que, depois de um tempo, todos queriam o dom de línguas, porque achavam que aquele dom era muito especial, e aqueles que o possuíssem seriam especiais também. Assim, por causa da dissensão entre eles, Paulo entendeu que aquele que dizia possuir o dom de línguas, não deveria menosprezar aquele que ele dizia que não tinha o Dom. E em razão de tudo isso, ele fala que um corpo não é constituído apenas de mãos ou somente de pés, ou somente de braços, mas que um corpo precisa da integração/união de todos os membros para ser um corpo e cada um tem a sua própria função (1ª Coríntios 12: 12-31).
Paulo também explica que não é o homem que alcança um dom de Elohim através dos seus esforços e méritos, mas que é o próprio ETERNO quem escolhe e dá o dom à pessoa quando for necessário (1ª Coríntios 12:6-7,11). O referido apóstolo sabia que o dom de línguas era o mais almejado por todos, e sabia que eles acreditavam que este era o maior de todos os dons. Para acabar com esse pensamento equivocado de que o dom de línguas era o mais especial de todos os dons, Paulo faz uma pequena listagem de 9 dons e coloca o dom de línguas no final da lista e não no começo (1ª Coríntios 12: 8-10). Ele fala que todos os dons são importantes. E mais à frente ele também diz que aquele que profetiza é maior do que aquele que fala em línguas (1ª Coríntios 14: 5). A didática deste apóstolo, consiste em fazer com que as pessoas parassem de procurar apenas um único dom (já que um corpo não é constituído por apenas um membro e uma só função), mas que procurassem outros dons que também são importantes.
E mais: Já podemos perceber que aquelas pessoas não estavam usufruindo do verdadeiro dom de línguas, pois eram pessoas arrogantes, imorais, mortas espiritualmente, então, certamente O ETERNO não iria conceder um dom espiritual a eles para que houvesse brigas e inveja entre eles, pois o ETERNO age por meio da decência e ordem e não por meio da bagunça (1ª Coríntios 14: 33, 40). E foi para esclarecer tudo relacionado aos dons, que Paulo dedica seu tempo para tecer comentários sobre aquela questão. Ele dedicou 3 capítulos em sua carta para falar somente sobre o uso correto dos dons. Se as pessoas ali realmente estivessem usufruindo do verdadeiro dom de línguas, certamente Paulo não iria dedicar todo aquele tempo para esclarecer o assunto. Você dedicaria seu tempo ensinando uma pessoa sobre um assunto que ela já conhece totalmente e que está de acordo com o seu modo de pensar, ou falaria de outro assunto com aquela pessoa para aproveitar o tempo aprendendo sobre assuntos novos?
Prosseguindo. De acordo com alguns estudiosos, "a língua dos anjos" mencionada por Paulo (1ª Coríntios 13:1) não seria uma figura de linguagem, mas um conceito existente dentro da civilização grega. Para os gregos a língua dos anjos seria apenas barulho sem significação alguma, e no próprio escrito dos apóstolos, iremos encontrar algo similar. No episódio em que uma voz veio dos céus, algumas pessoas entenderam que era apenas barulho de trovões, e após ouvir isso, os gregos ali presentes identificaram o barulho sem significação, como sendo os anjos falando (João 12: 20, 28-30). O costume de entender a língua dos anjos como sendo apenas barulho, teria se originado nesse episódio ou já era um conceito mais antigo entre os gregos?
Ao que parece, já era uma crença antiga entre eles. O interessante quando voltamos ao episódio da advertência de Paulo ao Coríntios, é que ele condena o falar em línguas sem significação alguma, dizendo que as pessoas iriam pensar que eles estavam com distúrbio mental como loucos, já que eles estavam falando palavras que ninguém entendia absolutamente nada. Também diz que até mesmo o som dos equipamentos musicais são capazes de ser entendidos perfeitamente, mas o que eles falavam nem eles mesmos entendiam (1ª Coríntios 14: 7-12), por isso que mais à frente ele fala sobre ter ordem e decência.
Ao que tudo indica, quando Paulo diz que "o que fala em mistérios fala somente ao ETERNO" (verso 2), seria como se ele estivesse se colocando na mesma situação depravada que aqueles discípulos ali, como se estivesse acreditando da mesma maneira que eles por um segundo, mas apenas de forma didática. Seria como se ele tivesse dizendo, hipoteticamente, que também acreditava na língua dos anjos da mesma maneira de pensar dos gregos.
Abre um parêntese: Ora, o referido apóstolo gostava de usar métodos didáticos baseados em conceitos comuns presentes em cada localidade que ele visitava, afinal ele era um homem dedicado aos estudos, principalmente dos povos que pretendia pregar as boas novas. Por exemplo, quando Paulo esteve na cidade de Atenas esperando Silas e Timóteo, conta o autor do livro de Atos que Paulo se revoltou diante de tanta idolatria. E, passeando pela cidade encontrou um altar vazio, dedicado “ao deus desconhecido” (Atos 17: 23). Veja que quando ele esteve pregando no Areópago daquele lugar, começou a ensinar que ele pregava a doutrina do deus que eles não conheciam, e isso chamou a atenção de muitos dos ouvintes. Fecha o parêntese.
Depois de falar sobre a língua de mistério, ele prossegue falando que não é bom falar palavras sem sentido algum, confira:
"E agora, irmãos, se eu for ter convosco falando em línguas, que vos aproveitaria, se não vos falasse ou por meio da revelação, ou da ciência, ou da profecia, ou da doutrina? Da mesma sorte, se as coisas inanimadas, que fazem som, seja flauta, seja cítara, não formarem sons distintos, como se conhecerá o que se toca com a flauta ou com a cítara? Porque, se a trombeta der sonido incerto, quem se preparará para a batalha? Assim também vós, se com a língua não pronunciardes palavras bem inteligíveis, como se entenderá o que se diz? porque estareis como que falando ao ar." (1ª Coríntios 14:6-9).
No meio dessa situação no qual ele busca refutar aquele incorreto ensino, diz que quem permanecesse falando daquela maneira, deveria orar para que pudesse interpretar também. Caso contrário não seria edificante (verso 5). Também diz que mais de três pessoas não poderiam falar daquela maneira ao mesmo tempo, mas apenas uma de cada vez, e sempre deveria ter a presença de intérpretes (versos 13-14, 23, 27-28). Também fala que a língua não era para ficar edificando a si mesmo, mas que era um sinal para os infiéis e não para os fiéis (verso 22). E quando não houvesse quem pudesse interpretar, todos deveriam ficar calados. Mas, se o batismo com o Espírito é uma ação na qual as pessoas não têm controle de suas falas e de suas ações, ficando uma pessoa totalmente sem lucidez, como então ficaram caladas se não houvesse intérprete?
Ao que tudo indica, Paulo estava colocando barreiras para impedir ao máximo que eles continuassem a falar daquela maneira louca e sem sentido. E mais, em vez de Paulo citar algum texto das Escrituras que desse respaldo ao falar em língua sem significação, para provar que aquilo ali era verdadeiro como querem os evangélicos; em vez disso, Paulo cita um texto que diz que o ETERNO falaria por meio de outros idiomas aos seres humanos, pela boca de pessoas falantes de outros idiomas. Eis o texto:
"Irmãos, não sejais meninos no entendimento, mas sede meninos na malícia, e adultos no entendimento. Está escrito na lei: Por gente de outras línguas, e por outros lábios, falarei a este povo; e ainda assim me não ouvirão, diz o Senhor." (1ª Coríntios 14:20-21).
Este texto se encontra na profecia de Isaías:
"Na verdade por lábios estranhos e por outra língua falará a este povo..." (Isaías 28:11).
Diante dessas assertivas, podemos afirmar, que nenhum dos crentes gentios da comunidade de Corinto tinha o verdadeiro dom de línguas. Eles estavam começando a acreditar da mesma maneira que a filosofia grega sobre a língua dos anjos, por isso falavam palavras sem significação e estavam fazendo apenas bagunça na congregação. Por essa razão Paulo aconselha-os a falarem em silêncio, em espírito (verso 2), para evitar maiores escândalos. Ainda que ele tenha permitido continuar falando daquela maneira, colocou regras para dificultar a propagação daquela loucura, para que depois de um tempo eles viessem a parar de uma vez por todas.
Pergunta-se: por que Paulo não proibiu de imediato todos os conceitos errados acerca do “falar em língua estranha" tal como era entendido pelos Coríntios? A resposta é simples: Paulo era um exímio estudante da Torá, tendo uma formação acadêmica bem avançada e conhecia a forma de atuação do ETERNO perante situações complicadas como essa.
Por exemplo, no decorrer da história da humanidade, os hebreus começaram a comprar e vender escravos, e o ETERNO colocou regras para dificultar a propagação daquele costume ainda que não tivesse abolido ele de imediato (Levíticos 25: 44). Todavia, nunca foi da vontade do ETERNO que esta situação deplorável acontecesse, já que escravizar outra pessoa é facilmente identificado como uma violação aos princípios do amor. O ETERNO sabia que não adiantaria a abolição imediata daquele costume, porque o coração do ser humano já estava acostumado com aquela maldade. Então, ele permitiu que aquelas coisas continuassem sendo praticadas, não obstante, pôs regras circunstanciais e temporárias para legislar sobre a forma de como aquilo deveria ser praticado de uma maneira mais decente. Com o passar do tempo as pessoas iriam ver que todo o sistema escravocrata não estava alinhando ao verdadeiro querer do ETERNO, e iriam começar a abandonar aquele costume de forma voluntária.
Reiteramos que o ETERNO permitiu que a escravatura continuasse, não abolindo todo aquele costume de imediato. A mesma coisa aconteceu com Paulo, ele conhecia a situação depravada que os Coríntios se encontravam por estar obcecados por aquela língua de loucura dos gregos. Ele sabia que todas as pessoas estavam obcecadas por aquele modo de falar. Caso ele tivesse se colocado totalmente contra aquele costume de forma imediata, a única coisa que ganharia com isso era inimigos, e o povo ainda iria permanecer praticando e acreditando naquele mesmo conceito. Por isso que Paulo foi sábio. Ele permitiu que o costume continuasse, mas delimitou ele por meio de regras, acreditando que um dia aquelas pessoas iriam abandonar aquele costume pagão de forma voluntária.
Em suma, o verdadeiro dom de línguas é um sinal para os incrédulos. Ou seja, o ETERNO usa algum de seus servos para falar a uma pessoa falante de outro idioma, para que possa anunciar-lhe as boas novas em seu próprio idioma. Isso quer dizer que o verdadeiro dom de línguas não precisa de intérpretes! Por acaso existiu a presença de intérpretes no dia de pentecostes, ou quando os discípulos falaram as pessoas entenderam eles naturalmente? Obviamente que eles entenderam sem a necessidade de intérpretes.
Querido leitor, agradecemos por ter lido até aqui. Caso queira discordar ou concordar com o estudo, deixe seu comentário logo abaixo e iremos te responder assim que possível.
Seja iluminado!!!
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