Judaizar, o que é isso?

Por: Cleiton Gomes 

Todos aqueles que ensinam a Torá, uma hora ou outra, acabam sendo chamados de "judaizantes". Tudo isso por causa da ideia equivocada de que Yeshua era contra a Torá e que ele nos levou para distante dela, bem como a ideia equivocada de que o Messias se afastou definitivamente da religião judaica e criou outra religião. Já sabemos que tal ideia é totalmente incorreta, e temos demonstrado aqui nesta página em mais de 100 artigos diferentes. Mas, afinal, qual é o verdadeiro entendimento do que seja  "judaizar"? 

É importante relembrar que a comunidade de discípulos iniciada por Yeshua, era uma comunidade judaica, chamada de "Judaísmo do Caminho" ou "Judaísmo Nazareno". Entendemos que era uma comunidade judaica porque até então a pregação ainda não tinha sido levada até os gentios, mas que somente mais de 10 anos depois é que a pregação da palavra chegou até eles por meio do apóstolo Pedro (Atos 10) e por meio dos discípulos que fugiram no tempo em que Paulo de tarso estava perseguindo eles (Atos 11). E mesmo quando ela (a pregação) chegou até os gentios, a comunidade apostólica não se tornou uma comunidade judaico-cristã, como se a religião cristã tivesse abraçado a religião judaica, pois até então não existia a outra religião chamada de cristianismo. Além do mais, não eram os gentios que davam aulas para os apóstolos, os quais eram todos judeus circuncidados na carne. E sim, eram os judeus que davam aulas para os gentios. O discipulado dos gentios era conforme o entendimento judaico dos apóstolos. 

A própria expressão "seita" era uma forma de nomear às comunidades judaicas existentes naquela época, esta é a razão pela qual existia a "seita dos fariseus" (Atos 15:5) e a "seita dos saduceus" (Atos 5:17) por fim, temos "a seita dos nazarenos" (Atos 24: 5) ou "seita do caminho" (Atos 24: 14). Ademais, Yeshua não veio para criar um movimento de rebelião e apostasia, mas sim um movimento de restauração da verdadeira compreensão do ensinamento da sagrada escritura. E se quiser entender isso por meio de um português mais claro, então leia: "a igreja do primeiro século era uma comunidade judaica, que promoveu a restauração do ensinamento da sagrada escritura". 

Uma vez que a gente entende isso, fica simples declarar que não faz o menor sentido tentar ofender alguém que pratica os mandamentos da Torá voluntariamente e de forma adequada. O que os crentes gentios do século atual não entendem é que os apóstolos nunca deixaram os seus discípulos isentos de praticar muitos mandamentos da Torá. Sim, eles deixaram os crentes gentios isentos de praticar alguns mandamentos pelo fato de alguns deles serem muito complexos e porque eles se destinavam com mais força apenas para o povo de Israel, não que haja algum problema em um gentio poder praticá-los, contudo, que seja de forma voluntária e não obrigatória. E quem pensa que podemos fazer absolutamente tudo que quisermos, tipo: praticar idolatria, feitiçaria, adultério, homossexualismo, prostituição, mentira, fofoca, etc. (obs: tudo isso são proibições da própria Torá). Quem afirma que podemos fazer isso, sinto informar mas o tal não conhece nada da história dos apóstolos. 

E mais: muitos dos crentes gentios da atualidade, pensam que os judeus devem deixar de ser judeus após aceitar Yeshua como sendo o legítimo Messias. Pensam que eles devem abandonar a religião judaica e se afastar  totalmente da Torá, pois não precisa mais "ser judeu". E essa compreensão absurda foi herdada de todos aqueles períodos que houve a  inquisição da igreja católica romana, onde eles perseguiram os judeus e os forçaram a aceitar o cristianismo deles sob pena de morte. 

Contudo, a lição da sagrada escritura nos mostra que todos aqueles que aceitaram Yeshua, nunca foram obrigados a ter que deixar suas devidas funções. Por exemplo, Paulo nunca deixou de ser fariseu e ele tinha orgulho de dizer "sou fariseu, filho de fariseus" (Atos 23:6). Acredita-se que Nicodemos também tenha passado a crer em Yeshua como Messias, uma vez que ele defendeu Yeshua quando os membros do Sinédrio se reuniram para buscar alguma acusação contra ele (João 7: 45-53). Se isso estiver certo, então Nicodemos também era discípulo de Yeshua e nunca deixou de ser fariseu e muito menos de atuar como um dos juízes daquele tribunal. A mesma coisa teria acontecido com Gamaliel, que defendeu os díscipulos de Yeshua quando estavam sendo acusados (Atos 5: 27-41).

Após inúmeras provas de que a comunidade dos discípulos de Yeshua era judaica, fica simples entender que não faz o menor sentido dizer que "judaizar" é quando nos aproximamos da Torá ou de Israel. Na verdade, judaizar seria melhor compreendido quando se faz uma prática inadequada, que acontece quando alguém tenta obrigar os gentios a praticar todos os mandamentos da Torá em si, mandamentos estes que os gentios nunca foram obrigados a praticar desde quando eles foram entregues ao homem. Por exemplo, o mandamento da circuncisão não é obrigatório para todas as classes de pessoas, pois ele é uma aliança entre Abraão e seus descendentes sanguíneos, e também seria obrigatório apenas para quem quisesse fazer um vínculo total com a religião judaica (Gênesis 17: 10, 13). Nesse caso, o gentio em questão passaria pelo processo de 'proselitismo', e agora sim estaria obrigado a praticar todos os mandamentos segundo a halachá judaica. 

Estudo relacionado: O gentio está obrigado a praticar a Torá exatamente como o Judeu? 

O apóstolo Paulo sabia que a circuncisão na carne para o gentio que morasse longe das terras de Israel, que também não fosse descendente de Abraão, o tal não estaria obrigado a ter que passar pelo processo de circuncisão na carne. Por isso, ele e os outros apóstolos se opuseram aos fariseus da escola shamaíta que queriam obrigar os gentios a ter que passar por esse processo de forma obrigatória (Atos 15: 1,5). Não é que ele estivesse batalhando contra o mandamento em si, mas sim sendo contrário ao falso método de aplicação deste mandamento. Assim sendo, judaizar seria melhor compreendido assim: "é quando alguém tenta obrigar os gentios a praticar determinados mandamentos da Torá que nunca foram obrigatórios para os gentios, desde o dia em que o ETERNO revelou eles (os mandamentos) para os seres humanos". 

Aqueles que podem ser considerados como sendo "judaizantes" no mundo atual, são aqueles que chamamos de "messingélicos". São pessoas que buscam misturar o entendimentos do  judaísmo com o cristianismo. Eles não são judeus e nem cristãos. Esse tipo de gente não entende nada de judaísmo e vive tentando obrigar os gentios de todas as nações a terem que praticar a circuncisão na carne, caso contrário irão perder a salvação. E fazem toda essa confusão com muitos outros mandamentos também, e não só com este aí. São pessoas que dizem que odeiam o Talmud, O Zohar, O Mishná, os Midrashim, Os Targumim, etc, pelo fato de serem literaturas judaicas extra-bíblicas. 

São pessoas que criticam a festa de Rosh Hashaná, Chanucá e Purim. São pessoas que criticam quem não usa barba grande, que nos criticam quando falamos que os gentios não estão obrigados a guardar o mandamento do sábado se eles não souberem como devem praticar este mandamento. Eles criticam toda a tradição judaica extra-bíblica, bem como não sabem aplicar os mandamentos da Torá de forma correta. Esse tipo de gente é considerada um nojo tanto pelos próprios cristãos quanto pelos judeus ortodoxos, pois eles estão criticando literaturas que eles mesmos (os messingélicos) nunca leram. 

Em suma, espero que a partir de agora as pessoas deixem de lançar ofensas contra aqueles que sabem aplicar os mandamentos da Torá corretamente e que vivem praticando os mandamentos corretamente, que não vivem tentando impor mandamentos que são facultativos aos gentios como se fossem obrigatórios para eles. Quem faz isso não está judaizando e sim ensinando e vivendo a doutrina dos apóstolos. Mas, todos aqueles que tentam obrigar os gentios a viver absolutamente como os judeus, estes estão judaizando. 

Estudo relacionado: O apóstolo Pedro era um judaizante? 

 

Seja iluminado!!!