Por: Cleiton Gomes
Extraído da obra: Ainda Há Esperança - O Chamado para Retornar, 1ª edição:2020, páginas 266 a 270. Obs: O texto abaixo foi revisado e ampliado.
Façamos a leitura do texto:
"Pois todos quantos são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque escrito está: Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las." (Gálatas 3: 10).
Perceba que Paulo é enfático ao dizer que as pessoas que praticam as obras da lei são pessoas que estão sob maldição. Sim, ele utilizou palavras no presente do indicativo para afirmar exatamente isso. Agora, basta saber que a maldição é consequência de quem desobedece os mandamentos da Torá de forma totalmente voluntária e habitual (Deuteronômio 28:14-60). O ETERNO não leva em conta os tempos da ignorância, que é quando uma pessoa pratica tal coisa sem saber se o ETERNO gosta ou não gosta. Se trata de uma pessoa totalmente leiga em determinado assunto. Porém, a partir do momento que alguém se torna conhecedor da correta aplicação de tal mandamento da Torá e mesmo assim o viola intencionalmente, é como se essa pessoa estivesse desprezando a palavra de Elohim e convidando a maldição para a sua vida (vide, por exemplo: Números 15: 28-30).
É isso mesmo que você acabou de ler, querido leitor. Toda pessoa que desobedece os mandamentos da Torá de forma intencional e voluntária, se torna uma pessoa maldita. Por sua vez, quem pratica os mandamentos da Torá se torna uma pessoa santa, se torna uma pessoa abençoada e protegida pelo ETERNO (Deut. 28: 1-13). Já que aqueles que praticam os mandamentos da Torá são pessoas benditas e não malditas, como entender a afirmação de Paulo que disse que os praticantes das obras da lei são pessoas que estão em maldição?
A resposta para essa pergunta é bastante simples. De acordo com algumas descobertas, existiam muitas regras inventadas por homens que acabaram sendo chamadas de "obras da lei". Isso mesmo, se trata de preceitos que são doutrinas de homens e, portanto, no contexto de Gálatas as obras da lei não se referem à Torá em si.
Para deixar ainda mais claro que as obras da lei não se referem à Torá, citaremos a declaração do aramaicista e professor nazareno, Andrew Gabriel Roth:
"A frase "Ma'aseh ha Torah" (as obras da lei) aparece primeiramente nos Manuscritos do Mar Morto; é uma indicação da halachá ultra-religiosa dos Essênios, mas também se refere às halachá (tradições religiosas) dos Fariseus. Isto não está se referindo a observância da Torá em Yeshua…” (Nota de rodapé da página 593, da obra: Aramaic English New Testament, 5ª edição, 2016, Netzari Press).
Geralmente, no mundo cristão, se prega que todos aqueles que praticam os mandamentos da Torá são pessoas que estão em maldição e que precisam ser libertadas desta lei maldita. E isso faz bastante sentido na mente de quem não conhece nada sobre a Torá, pois quem faz uma afirmação dessa está declarando que não sabe absolutamente nada sobre a Torá, a única coisa que sabe é criticar algo que ele mesmo desconhece.
Todo aquele que conhece a Torá, sabe que os praticantes dos mandamentos, são pessoas abençoadas pelo divino (Deut. 5:10). Sabemos também que Paulo era um erudito, um exímio conhecedor da Torá. Mas quando os teólogos cristãos afirmam "Paulo ensinou que quem pratica a Torá é uma pessoa maldita", aquele que afirma isso está dizendo que o apóstolo Paulo era um homem totalmente leigo, sem conhecimento sobre a Torá. Afirmar isso seria o mesmo que dizer que o apóstolo Paulo cometeu um erro tão infantil, seria como se ele tivesse dito que 2+2 é 8. Ora, se você estudar bastante sobre matemática, por exemplo, sabe que 2+2 é 4, então, obviamente você não iria parabenizar alguém que vive ensinando que o resultado de 2+2 é 8, não é mesmo?
Ao afirmar os teólogos cristãos que Paulo ensinou que as pessoas malditas são aquelas que praticam a Torá, estes estão a dizer que Paulo seria aquela pessoa que comete o erro infantil de dizer que 2+2 é 8. Sendo assim, estão afirmando que Paulo era um homem leigo, portanto, deveríamos dar ouvidos a uma pessoa que nem sabe o que está ensinando? Absolutamente não! É por essa razão que não concordamos com essas afirmações daqueles que são inimigos da Torá, pois estão transformando Paulo em uma pessoa leiga, sendo que a verdade de tudo é que ele era um grande erudito.
Voltando ao foco do assunto. Em se tratando de comentar o escólio do professor Andrew que acabamos de citar, podemos notar que ele afirmou que a cláusula "obras da Torá" (Maʼaser Ha Torah) consta primeiramente nos manuscritos do Mar Morto. De fato, alguns dos manuscritos que foram encontrados próximos ao Mar Morto, consta a cláusula "as importantes obras da lei", se tratando de regras que foram criadas pelos Essênios da comunidade de Qumran. Esta informação é bastante importante, pois assim podemos entender que o apóstolo Paulo estava combatendo algumas das regras que foram criadas ainda no primeiro século da era comum. Em outras palavras, são regras que foram criadas a não muito tempo antes da existência do próprio apóstolo Paulo.
Eis o que diz o documento MMT, o fragmento do Mar Morto que foi encontrado:
"Agora nós escrevemos para vocês algumas das obras da lei, aquelas que nós determinamos que sejam benéficas para você … E vai ser creditada a você como justiça, naquilo que você tem feito o que é certo e bom diante dele...” (4QMMT (4Q394-399), Seção C, linhas 26b-31).
Veja que o documento em questão está escrito que: "eles escreveram", "eles determinaram", e "eles disseram que suas obras da lei iriam ser a causa da sua justificação diante de Elohim". Tais afirmações lançam bastante luz às palavras proferidas por Paulo no que tange o assunto sobre as obras da lei. Através disso podemos entender com bastante clareza a razão de ele ter afirmado que quem pratica as obras da lei estava sob maldição. Também podemos entender a razão de Paulo sempre fazer uma diferença entre a Torá e as obras da lei. Por exemplo, no livro de Romanos o apóstolo Paulo ensinou que a Torá nos conduz para a presença do Messias para que possamos encontrar a justificação (Romanos 2: 13), por sua vez, ele disse que as obras da lei não servem para nos conduzir ao caminho de justificação (Romanos 3.20,28). Ele também afirma a mesma coisa em Gálatas 3: 11.
Queridos, isso não é uma contradição entre as palavras do apóstolo Paulo! Não significa que ele era esquizofrênico. A verdade é que ele estava falando de duas leis diferentes, uma delas é a Torá e a outra são as normas criadas e determinadas pelos homens.
Prosseguindo. Mesmo sabendo que é praticando os mandamentos da Torá que iremos encontrar o caminho da justificação, importa registrar que não é a Torá em si que justifica o ser humano, pois essa não é a função da Torá. Na verdade, a missão da Torá é nos levar para a presença do Messias todas as vezes que estivermos indo em direção ao pecado, pois a Torá irá nos dizer "não faça isso". É a Torá que nos leva para a presença do justificador, e esse é o Messias, por isso foi dito que "através da Torá iremos encontrar a justificação" (Romanos 2: 13).
Já que é a Torá que nos conduz para a presença de Yeshua, então, todos aqueles que não praticam os mandamentos da Torá não serão conduzidos a ele. É por isso que Paulo disse que ninguém encontrará a justificação através das obras da lei (das doutrinas que são preceitos de homens). Ah, lembra que o professor Andrew também afirmou que as obras da lei também faziam parte da doutrina de alguns fariseus? Lembra também que o texto do manuscrito do Mar Morto ensina que as regras criadas pelos homens era para servir a eles como um caminho de autojustificação diante de Elohim?
Tenha essas informações em mente para fazer a leitura do seguinte texto bíblico. Veja o que Yeshua falou sobre determinado grupo de fariseus:
"E disse-lhes: Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Elohim conhece os vossos corações, porque o que entre os homens é elevado, perante Elohim é abominação." (Lucas 16:15)
Esse texto ensina que a autojustificação não é aceita pelo ETERNO, razão pela qual as pessoas devem aceitar o Messias. E é a Torá que nos leva para a presença do Messias, esse é o papel dela, precisamos do auxílio dela. Não podemos rejeitar a Torá e aceitar somente Yeshua, da mesma maneira não podemos aceitar somente a Torá e negar Yeshua. Definitivamente, eles são inseparáveis um do outro.
Em suma, as obras da lei eram regras humanas que induzia o povo a transgredir os mandamentos da Torá voluntariamente, fazendo-os cair em maldição por estarem a desobedecer a Torá. Foi por existir tanta desobediência acumulada contra a Torá, que se gerou uma registro de dívida. E esse registro de dívida é destruído pelo Messias, que garante o perdão para todos aqueles que se unem a ele (Gálatas 3: 13).
Estudo relacionado: O que é o registro de dívida? (Colossenses 2: 14)
Ele morreu para tirar a maldição da lei que era contra nós, ou seja, para perdoar as nossas ofensas que foram realizadas contra a Torá quando estávamos desobedecendo ela de forma habitual. Lembre-se que a maldição é consequência da desobediência, e para que não haja mais maldição contra nós, é necessário praticar os mandamentos da Torá de forma adequada. É isso que o Messias nos ensina: ele nos ensina o caminho da obediência para que não sejamos pessoas malditas.
E ainda: os inimigos da Torá vivem ensinando que toda pessoa está obrigada a praticar todos os mandamentos da Torá. Se por exemplo existir 613 mandamentos na Torá, a pessoa é obrigada a praticar todos os 613 mandamentos sem falhar em nenhum deles. Caso contrário, estaria debaixo da maldição. Daí concluem que ninguém seria capaz de praticar todos os 613 mandamentos sem falhar em nenhum deles; e, consequentemente, estariam sempre debaixo de maldição. Por isso dizem que o Messias teve que destruir a Torá, para que não mais estivéssemos em maldição. Ora, tal conclusão é ignóbil, pois nenhuma pessoa está obrigada a praticar todos os mandamentos que existem na Torá. Nem mesmo Yeshua praticou todos os mandamentos existentes na Torá. Acaso ele oferecia o sangue de animais no lugar Santo dos Santos anualmente como fazia o Sumo Sacerdote terreno? Claro que não!
Outro exemplo: a mulher nunca esteve obrigada a passar pela circuncisão na carne, porque este nunca foi um mandamento ligado à mulher, já que mulher não tem pênis. A mulher também não estava obrigada a realizar trabalhos dentro do Tabernáculo/ Templo, tais como realizar o sacrifício de animais ou se apresentar no lugar Santo dos Santos anualmente. Isso quer dizer que só neste ponto, a mulher estava desobrigada a praticar mais de 200 mandamentos, os quais estavam vinculados ao sacerdócio levítico. Os leigos querem menosprezar a Torá, mas não conhecem absolutamente nada sobre ela. Lamentável.
Seja iluminado!!!
0 Comentários
Deixe o seu comentário