Por: Cleiton Gomes
Extraído da obra: Ainda Há Esperança - O Chamado para Retornar, 2020, páginas 310 a 314. Obs: o texto abaixo foi revisado e ampliado.
Façamos a leitura do texto:
"... e ordenando a abstinência dos alimentos que Deus criou para os fiéis, e para os que conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de graças; porque toda a criatura de Deus é boa, e não há nada que rejeitar, sendo recebido com ações de graças. Porque pela palavra de Deus e pela oração é santificada." (1ª Timóteo 4: 3-5. Bíblia Almeida Corrigida Fiel, 2011).
Nesta parte das Escrituras, Paulo estava dando recomendações a Timóteo a respeito de uma nova heresia que estava surgindo naquela época, e que estava ganhando espaço pelo fato de terem uma forma de persuadir as pessoas com as palavras. Esta nova heresia foi chamada de "gnosticismo" e os membros deste grupo ficaram conhecidos como "gnósticos". Esta última palavra se refere ao "conhecimento", uma vez que os gnósticos eram racionalistas e buscavam explicar as coisas deste mundo através de sua própria visão racional. Para demonstrar que o apóstolo Paulo estava falando desse grupo, confira o seguinte texto bíblico:
"Ó Timóteo, guarda o que te foi confiado, evitando os falatórios inúteis e profanos e às oposições da falsamente chamada ciência" (1ª Timóteo 6: 20).
Quem fizer a leitura deste mesmo texto no idioma grego, irá constatar que a palavra "ciência" aparece escrita como "gnosis" (γνωσις), que significa literalmente "conhecimento". É daí que vem as expressões "gnóstico" e "gnosticismo". Podemos entender que Paulo estava aconselhando Timóteo a não perder tempo com essas pessoas, pois seria inútil, uma vez que este grupo de pessoas só propagava mentiras, bem como suas mentes já estavam cauterizadas. Eles eram do tipo de pessoas que não estavam com as mentes abertas para aprender.
Os gnósticos acreditavam que existiam literalmente dois deuses diferentes, que batalhavam entre si, sendo um deles o "deus do mal" e o outro, o "deus do bem". Na perspectiva deles, o "deus do mal" criou todo o mundo da matéria, por isso, disseminavam a ideia de que todo o mundo de matéria era mal. Já que o ser humano é feito de matéria e a relação sexual no casamento gera outros seres humanos de matéria, então o casamento estava sendo proibido para não gerar mais frutos para o mal.
Para eles o espírito era a única coisa boa presente no ser humano. E o corpo de matéria não servia para nada. Eles acreditavam que a carne era uma prisão que prendia o espírito e que a salvação consistia destruir a carne para libertar o espírito. Daí, os estudiosos acreditam que os gnósticos praticam o suicídio voluntário, proposital, intencional. E uma das formas de se suicidar, consistia em parar de comer alimentos, pois assim a carne iria morrer e o espírito seria libertado. E já que a salvação consistia em morrer fisicamente para o espírito ser retirado da prisão do corpo físico, significa que o Messias não era o verdadeiro salvador deles.
É por causa desses pensamentos desprezíveis que Paulo entregou as seguintes recomendações para Timóteo: (1) Não dar ouvidos às doutrinas de demônios (verso 1); (2) Não dar ouvidos às pessoas que pregavam a mentira (verso 2); (3) Não dar ouvidos àqueles que estavam proibindo que o casamento fosse realizado (verso 3); (4) Não dar ouvidos àqueles que estavam proibindo o consumo da carne de animais que foram permitidas pelo ETERNO (verso 3).
Podemos perceber que Paulo não estava criticando as pessoas que pregavam a Torá, mas sim recomendando Timóteo a ficar atento contra os falsos mestres que estavam propagando um ensino totalmente estranho ao que ETERNO revelou durante a história da humanidade. Os ensinos dos gnósticos eram antagônicos (contrários) aos ensinos provenientes da Torá, razão pela qual pregavam a mentira. Ademais, pregar a mentira é oposto de pregar a verdade. A Torá é a própria verdade (Salmos 119: 86, 105, 142, 151, 160), d'onde se conclui que pregar a mentira é pregar ensinamentos que atacam a Torá.
Veja que os gnósticos pregavam contra o casamento e contra a alimentação. Por sua vez, a Torá apoia o casamento e permite que o ser humano se alimente de carne de animais reputados lícitos pelo ETERNO (cf. Gênesis 2: 22-24; Levítico 11; Deuteronômio 14). Assim, torna-se bastante evidente que Paulo estava defendendo a Torá e não desprezando como propagam os néscios.
Sobre o correto entendimento do texto bíblico sub examine, escreveu o messiânico, Vanildo Brito:
“É muito comum o uso desse texto para dizer que Paulo era contra a Torah. Segundo esse texto, parece que ele ensinava que bastaria orar por uma determinada comida para que ela se tornasse purificada. Porém, o assunto não é a Lei de Deus, mas os ascetas. A Torah não proíbe o casamento, eram os ascetas que tentavam impor o celibato. O texto não trata das leis alimentares das Escrituras, mas das proibições dietéticas do ascetismo. Paulo está explicando que nada há de errado em comer os alimentos “que Deus criou para os fiéis”, ou seja, não qualquer carne, mas as carnes que ele criou e aprovou como alimento para aqueles que obedecem a seus preceitos. Estes podem receber os alimentos com brachah, ações de graças, recitação de bênçãos. Sim, toda criatura é boa e nada deve ser rejeitado, mas “toda criatura” que Deus aprovou como alimento. Não se recita bênçãos sobre carnes que, segundo a Torah, não são alimentos. Paulo diz que a comida pode ser santificada pela oração, mas antes, ele diz que ela tem que passar pelo crivo da Palavra! Se as Escrituras consideram pura uma determinada comida, a sua oração a santifica. Mas a sua oração jamais purificará aquilo que a Palavra do Eterno tem por [imundo]”. (Igreja de Atos: Nova Religião ou Judaísmo de Jesus? 1ª edição, 2020, página 66).
Esta assertiva está de acordo com a sagrada escritura, pois no texto iremos detectar as seguintes falas: (i) "alimentos que Elohim separou para seus fiéis" e também (ii) "são santificados pela palavra de Elohim".
Sabemos que a palavra de Elohim é a própria Torá, e nela lemos quais são os animais reputados lícitos para servir de comida. É aqui que se encaixa a frase "alimentos que Elohim separou para os seus fiéis". E mais, uma alimentação só estará sendo realmente santificada quando ela for realizada de acordo como o ETERNO instruiu na Torá, pois o ETERNO ensina quais animais devemos comer e quais não devemos, e arremata a sua fala dizendo:
"Não torneis abomináveis vossas almas com nenhum réptil que se move; não vos façais impuros com eles e não sejais impuros por eles. Porque Eu sou o ETERNO vosso Elohim; e vos santificareis e sereis santos, porque Eu sou santo. E não façais impuras vossas almas com todo réptil que se arrasta sobre a terra [...] e sereis santos, porque Eu sou santo. Esta é a lei do animal e da ave, de todo ser vivo que se move nas águas e de todo ser que se move sobre a terra; para separar entre o impuro e o puro, e entre o animal que é para comer e o animal que não se deve comer." (Levítico 11:43-47).
Estudo relacionado: quais animais a Torá me proíbe de comer?
Logo, uma alimentação santificada é aquela que é feita segundo como prescreve a Torá! Você não pode orar por qualquer coisa e passar a pensar que aquilo está sendo santificado, pois se isso fosse mesmo uma regra verdadeira a ser seguida, poderíamos pensar que um canibal que ora sobre a carne da outra pessoa que ele matou para comer, também seria uma comida santificada. Será mesmo que o ETERNO terá por santificado um prato de comida daquele que está comendo a carne de outro ser humano?
E mais: se orar por qualquer coisa torna-a santificada, então poderíamos comer o sangue (de humanos e animais), carne sacrificadas a ídolos, carne de animais mortos de forma sufocada, pois é só orar por eles é "pahh", tá santificado! Isso quer dizer que a proibição dos apóstolos em Atos 15:20 não serve para absolutamente nada, já que é só orar por aquilo e pronto, foi santificada pela palavra…
Que mentira mais descarada!
Em suma, somente pessoas que não entendem a Torá é que vivem dizendo que Paulo estava atacando ela, pois quem entende a Torá e faz uma leitura atenta das cartas de Paulo, logo entende que ele era um verdadeiro defensor da Torá e de Yeshua, nosso Messias.
Seja iluminado!!!
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