Por: Cleiton Gomes
Extraído da obra: Ainda Há Esperança, o Chamado para Retornar, 2020, páginas 184 a 191.
Façamos a leitura do texto em questão:
"Ele, porém, lhes disse: Não tendes lido o que fez Davi, quando teve fome, ele e os que com ele estavam? Como entrou na casa de Elohim, e comeu os pães da proposição, que não lhe era lícito comer, nem aos que com ele estavam, mas só aos sacerdotes? Ou não tendes lido na lei que, aos sábados, sacerdotes no templo violam o sábado, e ficam sem culpa?" (Mateus 12: 3-5).
Questionamento: Todo aquele que faz uma leitura superficial deste trecho das Escrituras, incide no mesmo erro que é alegar que os sacerdotes viviam praticando pecado no dia de sábado; e se escondiam por detrás da sua autoridade "eclesiástica" para ficar sem culpa. Que erro grotesco!
Se caso Yeshua realmente estivesse fazendo esta afirmativa teríamos um sério problema. Se Yeshua estivesse afirmando que os sacerdotes cometiam pecado e ficavam sem culpa, logo teríamos que acreditar que Yeshua estava buscando uma justificativa para se esconder por detrás do pecado alheio, como querendo dizer: “Se ele pode pecar eu também posso”.
Para que entendamos isto de forma ainda mais fácil, façamos um exemplo didático: “o personagem x flagrou o personagem y praticando adultério”. Quando o personagem x também foi pego em ato de adultério, usou o exemplo do personagem y, dizendo: “se ele pode realizar tal atividade (o adultério) e ficar sem culpa, então eu também posso”.
Agora, façamos mais um raciocínio lógico, partindo da premissa dos inimigos da Torá, que afirmam que Yeshua desobedeceu ao mandamento da Torá (o sábado), comecemos:
a) O pecado é a violação aos mandamentos (1ª João 3: 4);
b) O sábado é um dos mandamentos da Torá (Êxodo 20: 8);
c) Yeshua violou o mandamento do sábado (premissa antinomista);
d) Resultado: Yeshua cometeu pecado voluntário.
Vede então que pensar igual um antinomista é acusar Yeshua de ser um pecador. E mais, seria o mesmo que acusá-lo de hipócrita visto que tentou se esconder usando o exemplo de um pecado alheio. Pois bem, nós não acreditamos que Yeshua era um pecador, até porque a própria Escritura ensina que Ele não cometeu nenhum pecado (Hebreus 4: 15; 1ª Pedro 2: 22). Isto significa que Yeshua não violou nenhum mandamento da Torá, o que inclui o mandamento do sábado. E você, prezado leitor? Concorda com a afirmação dos inimigos da Torá?
Além das próprias Escrituras demonstrarem que Yeshua foi totalmente verdadeiro para com a Torá, citaremos, ainda, o escólio do historiador e professor de Judaísmo, Pinchas Lapide (1922-1997). Este professor passou muitos anos não acreditando em Yeshua como sendo o verdadeiro Messias profetizado nas Escrituras, mas quando decidiu estudar a verdadeira biografia de Yeshua, concluiu que Ele era um grande Mestre da Torá. Após suas análises sobre a vida do Galileu, escreveu uma obra, dissertando que Yeshua ressuscitou dentre os mortos e que também foi mais verdadeiro com a Torá do que ele mesmo esperava ser. Ou seja, Pinchas desejou chegar ao mesmo nível de elevação e perfeição espiritual tal qual Yeshua tinha. Eis o escólio deste Judeu ortodoxo:
“Jesus [Yeshua] foi totalmente verdadeiro para com a Torá, como eu mesmo espero ser. Eu até desconfio que Jesus [Yeshua] fosse mais verdadeiro para com a Torá do que eu, um judeu ortodoxo” (The Resurrection of Jesus: A Jewish Perspective).
Dada esta introdução, passemos a demonstrar o correto entendimento das palavras do Messias. Pois bem, Yeshua estava ensinando que a Torá dá legalidade para que algumas atividades sejam realizadas durante o dia de Sábado. Esta é a razão dEle (Yeshua) ter dito que os sacerdotes não recebiam nenhuma culpa pelo que estavam realizando durante aquele dia. Isto significa que eles (os sacerdotes) não estavam literalmente “rebelando-se contra a Torá”.
Foi dito que algumas atividades recebem a legalidade da lei e podem ser realizadas durante o dia de sábado. Contudo, não são todas as atividades que recebem esta concessão/ permissão. Para que a Torá dê legalidade a alguma atividade durante o sábado, esta atividade deve preencher os seguintes requisitos obrigatórios: "salvar vidas", "fazer o bem". Assim, quando um Ser que tem fôlego de vida estiver com sua vida em risco/ perigo, aquele que presenciar 'o acidente' deve salvá-lo, pois a Torá autoriza que esta atividade seja realizada.
A expressão “violam a lei e ficam sem culpa" não deve ser retirada do seu próprio contexto e ser interpretada da forma como querem os inimigos da Torá, pois em todo o contexto, o Messias está falando de atividades reputadas lícitas pela Torá. E para que essa lição fique ainda mais clara, a seguir daremos um exemplo para que a lição do Messias fique encucada em sua mente.
Exemplo: “No Brasil temos o Código de Trânsito Brasileiro (CTB). O artigo 208 do Código de Trânsito Brasileiro prevê a multa gravíssima para motoristas que avançarem o semáforo durante o sinal vermelho. Não obstante, no artigo 29, inciso VII, é dito que os veículos destinados a situações de emergência (ambulância, bombeiros, polícia) tem acessibilidade para avançar o sinal vermelho, desde que as sirenes e os dispositivos luminosos estejam acionados. Detalhe importante: os veículos destinados à situações de emergência não podem usar este recurso durante situações cotidianas. Só poderão ter prioridade quando a vida de alguém realmente estiver em perigo. Caso contrário, o condutor do veículo terá cometido uma infração de natureza média (art. 222).”
Pois bem, aquele que conhece as normas do trânsito, saberá quando e onde deve dar prioridade aos veículos de emergência; saberá que, pela lei, aquele condutor tem permissão para avançar em sinal vermelho se precisar. Mas aquele que não conhece esta lei de trânsito, ao ver o condutor daquele veículo avançar em sinal vermelho, vai começar a dizer que aquele condutor deve ser multado, pois cometeu uma infração de trânsito. Isso se dá pelo fato de não entender que a lei admite que este ato seja realizado. É aqui que entra
aquele pequeno ditado “o condutor do veículo de emergência 'infringiu a lei' porém irá ficar sem culpa, pois agiu da maneira como permite a lei”.
Então, quando Yeshua utilizou a expressão "violam a lei e ficam sem culpa", devemos encarar isso como uma afirmação de que a Torá admite que algumas atividades sejam realizadas durante o dia de sábado. E as atividades que são admitidas pela Torá, são atividades que atuam em prol de salvar a vida de um Ser que tem fôlego de vida (animal ou ser humano), razão pela qual Yeshua sustenta:
"E ele [Yeshua] lhes disse: Qual dentre vós será o homem que tendo uma ovelha, se num sábado ela cair numa cova, não lançará mão dela, e a levantará? Pois, quanto mais vale um homem do que uma ovelha? É, por consequência, lícito fazer bem nos sábados." (Mateus 12: 11-12).
"E [Yeshua] perguntou-lhes: É lícito no sábado fazer bem, ou fazer mal? salvar a vida, ou matar? E eles calaram-se." (Marcos 3: 4).
Essa assertiva também é lecionada no Talmud, confira: "O Rabino Yosei, filho do rabino Yehudá, diz... há circunstâncias em que devemos guardar o Shabat e [há] circunstâncias em que devemos profaná-lo, ou seja, salvar uma vida.” (Yoma 85b).
O Talmud também registra algumas atividades que podem ser realizadas durante o dia de sábado, são elas: "a circuncisão na carne" e o "sacrifício de animais", confira: "Enquanto o serviço de sacrifício supera o sábado, a circuncisão o supera: então o sábado, que é superado pelo serviço de sacrifício, certamente a circuncisão o supera" (Talmud, m. Shabat 132b).
A circuncisão é uma atividade que pode ser realizada no dia de Shabat e, pela Torá, isso não será contado como sendo uma quebra ou violação gravíssima, uma vez que as pessoas estarão praticando o mandamento exigido pelo ETERNO. Portanto, este mandamento (a circuncisão) pode ser realizado em qualquer dia da semana, sem exceção. Aliás, o próprio Messias ensina que a circuncisão na carne pode ser efetuada até mesmo no dia de sábado: "Se o homem recebe a circuncisão no dia do shabat, para que a lei de Moisés não seja violada, como vos irritais comigo, porque no dia do sábado eu fiz um homem inteiramente são?" (João 7: 23).
À luz dos argumentos acima, temos a total segurança em afirmar que em nossos dias atuais existem atividades que são reputadas lícitas pela Torá. São as atividades feitas por bombeiros, médicos e soldados. Estes podem realizar suas atividades livremente durante o dia de sábado, porque suas atividades giram em torno do bem estar da vida do próximo. Os bombeiros por salvar vidas de seres humanos de um incêndio num prédio, por exemplo. E também, por salvar a vida de animais de diferentes perigos. Os médicos, porque trabalham na área da saúde e muitas pessoas são levadas em risco de vida para os hospitais. E se uma pessoa precisar de uma cirurgia de forma urgente, eles podem realizar sua atividade, uma vez que estarão lutando para salvar a vida do próximo. E em caso de ataque contra uma nação, onde a vida da população está correndo sérios riscos de vida, os soldados podem realizar sua atividade e defender a população, salvando muitas vidas das ameaças terroristas.
Yeshua estava ensinando que os sacerdotes realizavam atividades, porém essas atividades eram reputadas lícitas pela Torá, não resultando em transgressão digna de morte. Portanto, [quando Abiatar entregou os pães da proposição nas mãos de seu Pai Aimeleque], e este os entregou para Davi comer com seus amigos (1 Samuel 21: 1-6; Marcos 2: 26), do ponto de vista da Torá aquilo não é visto como transgressão, uma vez que o sacerdote estava considerando os valores da vida humana. Considerando os valores da vida?
Isso mesmo, quando uma pessoa permanece dois ou três dias sem algum tipo de comida, sua fome é reputada como "perigo de vida". Pois a fome leva uma pessoa à inanição e à morte. Assim, quando o sacerdote entregou os pães da proposição para Davi, ele estava cumprindo o princípio que abaliza toda a estrutura da Torá, “o amor”.
Considerar os valores da vida do próximo equivale a amar o próximo como a si mesmo. Se caso o sacerdote tivesse se recusado a dar comida para aqueles homens, diante da Torá o sacerdote seria visto como infrator, pois “quem tem a oportunidade de fazer o bem e não faz, comete pecado” (Tiago 4: 17).
Em suma, demonstramos que Yeshua não estava ensinando a batalhar contra o mandamento do sábado, nem ensinando que os sacerdotes batalhavam contra o sábado também. Agora depende de você, prezado leitor. Ou você fica com a verdade absoluta ou então fica com a verdade relativa, a qual é uma mentira disfarçada de
verdade.
Seja iluminado!!!
2 Comentários
Que estudo maravilhoso, muito obrigado Cleito, que as bençãos do Senhor estejam sobre ti.
ResponderExcluirMuito obrigado pelo carinho! Que o ETERNO te abençoe e te guarde!
ExcluirContinue navegando na página, 😉
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