Entendendo o divórcio

Por: Cleiton Gomes 


A palavra divórcio se refere ao fim do vínculo matrimonial por meio de uma documentação legal. Trata-se de um rompimento de um casamento entre homem e mulher, quando ambos dizem não querer mais viver juntos debaixo do mesmo teto. Bem, acredito que você já sabe bem o que é isso. 


Mas, o divórcio é pecado? Pois bem, na Torá iremos encontrar a declaração que mostra Moisés dizendo aos juízes que eles poderiam liberar carta de divórcio para o casal que não queria mais viver debaixo do mesmo teto, confira o texto:


"quando um homem tomar uma mulher e se casar com ela, então será que, se não achar graça em seus olhos, por nela encontrar coisa indecente, far-lhe-á uma carta de divórcio, e lha dará na sua mão, e a despedirá da sua casa." (Deuteronômio 24:1). 


Quando fazemos a leitura deste mesmo texto no idioma hebraico, iremos encontrar a palavra כְּרִיתוּת (kerithuth) que significa literalmente “divórcio” (Strong: H3748). A palavra em questão não significa “repúdio” tal como podemos encontrar em algumas traduções em português. A palavra “repúdio” assim se escreve no hebraico: שָׁלַח (shalach) e significa "mandar ir embora". 


Essa palavra se encontra em Malaquias 2: 16, onde o ETERNO diz que abomina o repúdio, veja:


Eu odeio o costume de repudiar a esposa — diz Adonai, o Elohim de Israel…” (Malaquias 2:16a).


É isso mesmo que você está pensando, O ETERNO não está dizendo que abomina o divórcio e sim dizendo que ele abomina o repúdio. Mais a frente você entenderá a diferença entre essas palavras. No momento, importa registrar que não estamos querendo dizer que o ETERNO é a favor do divórcio, claro que não, pois o desejo dele é que o homem e a mulher se deem bem durante a vida toda e nunca procurem o divórcio. Mas sabemos que nem todos os seres humanos conseguem se entender pelo resto da vida durante o casamento. Alguns traem, outros espancam, outros assassinam, enfim. O mal está no coração do ser humano. 


Foi por causa da maldade existente no coração humano que a carta de divórcio foi liberada diante da lei divina. É isso que nos ensina Yeshua, confira:


"Disseram-lhe: Então, por que mandou Moisés dar-lhe carta de divórcio, e repudiá-la? Disse-lhes ele: Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas ao princípio não foi assim. Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de relações sexuais ilícitas, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério." (Mateus 19: 7-9). 


Alguns detalhes podem ser ditos sobre o texto bíblico acima citado. No texto grego, a palavra “divórcio” se escreve da seguinte maneira αποστασιον (apostasion). Já a palavra “repúdio” se escreve assim απολυω (apoluo). Agora, perceba a colocação nas palavras da pergunta feita a Yeshua: “Então, por que mandou Moisés dar-lhe carta de divórcio, e repudiá-la?”. 


Com isso já podemos notar que o divórcio e o repúdio são duas coisas diferentes. Veja também que a palavra divórcio foi colocada na frente de repúdio, sabe por quê? Simples, somente o repúdio em si é quando o homem manda a sua mulher ir embora sem lhe dar carta de divórcio.  Então, se ela não está divorciada, se ela vier a se juntar com outro ela irá cometer adultério e aquele que se juntou com ela também estará em adultério. Da mesma maneira, o marido oficial daquela mulher, que ainda não lhe deu carta de divórcio, se ele se juntar com outra mulher antes de dar a carta de divórcio à sua esposa legal, estará cometendo adultério e a mulher que se juntou com ele também estará em adultério. Por isso o Messias disse: “o que casar com a repudiada também comete adultério”. E é por isso que o repúdio só é válido quando o homem dá a carta de divórcio para a mulher. 


Outro detalhe bem interessante nas palavras de Yeshua é o seguinte. Ele fala que o divórcio e repúdio não deve ser realizado por qualquer motivo fútil, talܲ̈ como uma briga no diálogo ou por estragar um prato de comida. Ele fala que o repúdio não pode acontecer por qualquer motivo "besta", mas somente em casos muitos graves, tal como relações sexuais ilícitas. Esse significado vem da palavra grega "porneia", que é erradamente traduzido ao português como fornicação. A palavra fornicação (que vem de fornicare e de fornix), caso seja feita uma pesquisa sobre o significado dela, iremos encontrar que significa "realizar sexo com prostitutas". 


Ao traduzir "porneia" como "relações sexuais ilícitas" iremos englobar vários e vários tipos de relações sexuais que são proibidas pela Torá como sendo casos muito graves, tal como praticar sexo com animais, sexo com pessoas do mesmo sexo, sexo com os próprios pais, sexo com pessoas casadas, etc (vide, Levítico 18). Então, o divórcio só pode ser realizado quando houver a prática de algum desses casos graves de relação sexual ilícita. Ainda podemos colocar outro caso bem grave, que é quando acontece espancamento. O homem ou a mulher não é obrigado a permanecer num relacionamento abusivo, opressivo, agressivo. Esse não é o ideal do casamento idealizado pelo ETERNO. Ela anseia que o casal se dê bem e não que um dos cônjuges fique agredindo o outro fisicamente. 


O próprio apóstolo Paulo reconhece que o divórcio poderia sim ser realizado, e aconselha que se isso viesse acontecer, que o homem ou a mulher devesse repensar bastante antes de dar carta de divórcio. O conselho dele é que o bom é que nunca viessem a se separar, e diz que Yeshua também ensinava da mesma maneira:


"Digo, porém, aos solteiros e às viúvas, que lhes é bom se ficarem como eu. Mas, se não podem conter-se, casem-se. Porque é melhor casar do que abrasa-se [viver desejando atos sexuais constantemente]. Todavia, aos casados mando, não eu mas o Senhor, que a mulher não se aparte do marido." (1ª Coríntios 7:8-10). 


Prosseguindo com os ensinos do Messias. Yeshua também continua suas falas sobre o divórcio, dizendo: 


"Por isso deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e unir-se-á a sua mulher, E serão os dois uma só carne; e assim já não serão dois, mas uma só carne. Portanto, o que Elohim ajuntou não o separe o homem." (Marcos 10:7-9). 


Ao citar o texto de Gênesis 2: 24, Yeshua quer ensinar aos seus ouvintes que o plano divino é que o homem e a mulher sejam unidos como uma só carne e que nunca se separem. Isso significa que ambos devem pensar juntos, agir juntos, ser companheiros nas conversas, ser melhores amigos. Pois quando há uma verdadeira amizade entre o casal, eles compartilham todos os seus sentimentos e projetos um com o outro. Mas quando não existe uma amizade entre o casal, um começa a esconder as coisas do outro e assim começam os segredos escondidos. Começa a falta de diálogo. Por fim, vem as brigas e desavenças, pois o casal já  não consegue se entender mais. Daí o casamento começa a esfriar e o desejo de alguns é terminar logo o vínculo matrimonial que existe entre eles. Outros decidem apenas viver um relacionamento seco, vazio, onde não rola um verdadeiro sentimento de um para com o outro. Vivem como dois estranhos dentro da mesma casa. 


Lembra que falamos anteriormente sobre se divorciar por causa de coisas simples tal como uma briga em diálogo e estragar um prato de comida? Pois bem, de acordo com a interpretação da escola farisaica hileíta, qualquer motivo banal já seria suficiente para que o divórcio e repúdio viesse a acontecer, e estragar um prato de comida era um desses motivos banais, veja:


Beit Hillel diz: Ele pode se divorciar dela mesmo devido a um problema menor, por exemplo, porque ela queimou ou salgou demais seu prato, como está declarado: "Porque ele encontrou alguma matéria imprópria nela", o que significa que ele encontrou qualquer tipo de deficiência nela.” (Talmud, b. Gittin 90a). 


Apesar de os ensinos de Yeshua serem mais parecidos com os ensinos do farisaísmo hileíta, nesse ponto aqui ele entra em discordância com essa escola e se coloca do mesmo lado como interpretavam os fariseus da escola shamaíta, pois eles diziam:


Beit Shammai dizer: Um homem não pode se divorciar de sua esposa a menos que ele descubra que ela se envolveu em uma relação sexual proibida, ou seja, ela cometeu adultério ou é suspeita de fazê-lo...” (Talmud, b. Gittin 90a).


É por causa desse embate sobre a questão do divórcio que Yeshua faz menção a essa questão durante seus ensinos. Se todos pensassem igualmente naquela época, talvez essas palavras dele nunca tivessem sido registradas e repassadas para nós nos dias de hoje. O bom é que esse debate aconteceu, e através desse ensino podemos entender o que o ETERNO quer do nosso casamento. E sabemos que ele quer o melhor para todos nós! 



Seja iluminado!!!





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8 Comentários

  1. Nossa que texto esclarecedor! Muito obrigada por contribuir com ensinos! Shalom

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    1. Agradeço pelo comentário, Shirley. Estamos sempre buscando trazer uma compreensão clara e simples para todos os leitores. Continue navegando na página e encontrará outras diversas explicações sobre muitos assuntos. Se quiser, também pode solicitar a explicação de algum tema que você tenha dúvida.

      Abraço!

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  2. Meu Deus! Como esse texto abriu minha mente, "repudio e divórcio"
    Bem simples é muito bem esclarecido.
    Parabéns Cleiton!

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    1. Muito obrigado! Que o Senhor te abençoe! Compartilha o link desse estudo com seus amigos 😉

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  3. Parabéns muito esclarecedor grande ajuda realmente

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  4. Obrigado pela visita nesta página. Continue explorando ela.

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  5. Muito esclarecedor seu comentário sobre o divórcio.
    Conhecemos pessoas divorciadas que não se casaram, comedor de pecar.
    Um grande abraço.

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