Por: Cleiton Gomes
Na segunda parte do estudo foi demonstrado que o Messias não é um Ser criado por ter sido chamado de "filho do homem", "filho de Elohim", e de "filho de Davi", bem como foi demonstrado que ele não é uma segunda pessoa na divindade pelo motivo de ter sido chamado de "filho". Nessa terceira parte, falaremos a respeito do porque a Escritura apresenta o Pai e o filho como sendo distintos um do outro.
Para começar, vamos fazer a leitura de um texto da Escritura:
"Porque assim como o Pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo." (João 5: 26).
Aparentemente não há nada de interessante neste texto, mas, basta conferir o mesmo texto no idioma aramaico (língua falada pelo Messias) para perceber que há uma mensagem bastante explicativa sobre as diferenças entre o pai e o filho, vejamos o texto:
ܐܰܝܟ݁ܰܢܳܐ ܓ݁ܶܝܪ ܕ݁ܠܰܐܒ݂ܳܐ ܐܺܝܬ݂ ܚܰܝܶܐ ܒ݁ܰܩܢܽܘܡܶܗ ܗܳܟ݂ܰܢܳܐ ܝܰܗ݈ܒ݂ ܐܳܦ݂ ܠܰܒ݂ܪܳܐ ܕ݁ܢܶܗܘܽܘܢ ܚܰܝܶܐ ܒ݁ܰܩܢܽܘܡܶܗ
Tradução:
"Porque assim como o Pai tem vida em sua manifestação, também concedeu ao Filho ter vida em sua manifestação."
Eis outra opção de tradução, que foi adicionada no Novo Testamento Judaico:
"Pois assim como o Pai tem vida em Sua essência, assim também deu ao Filho ter vida em Sua essência" (João 5:26).
Explicação: No texto em aramaico existe a expressão ܒ݁ܰܩܢܽܘܡܶܗ (b'aqnumeh). A palavra ܩܢܽܘܡܶܗ (qnumeh) é uma palavra em aramaico, que significa: "essência", "natureza", "aspecto" e "manifestação".
Isso significa que o texto em aramaico está dizendo que o Pai e o Filho são duas distintas manifestações do mesmo ETERNO. E quando falo "distintas" é distinta mesmo, pois os aspectos das manifestações não são os mesmos, tal como dizer que "o aspecto em que o ETERNO se manifesta como anjo é diferente do aspecto em que ele se manifesta como redemoinho.”
Embora o ETERNO seja apenas uma única pessoa, ele pode se manifestar de formas plurais e agir simultaneamente de duas ou mais formas. A nossa compreensão limitada entende isso como se fossem dois deuses diferentes, mas ao buscar uma melhor compreensão a respeito da manifestação da Onipresença divina, veremos que o ETERNO pode se manifestar até de mil maneiras diferentes e nunca irá deixar de ser UM. De fato, um grande pensador judeu do passado, disse:
“Ele é o único Ser; apesar das inúmeras formas de que Ele se reveste.” (O Zohar: o Livro do Esplendor, Polar, 2010, página 144).
O estudioso Gershom Scholem, trouxe para nós uma explicação razoável de como poderíamos entender a manifestação plural do ETERNO, confira:
“... o aparecimento da pluralidade dentro do Um são expressos através de um grande número de imagens que voltam a acontecer continuamente. São comparados a uma vela que tremeluz no meio de dez espelhos colocados um dentro do outro e cada um de cor diferente. A luz é refletida de maneira diferente em cada um, apesar de ser a mesma e única luz.” (Cabala, A. Koogan editor, 1989, página 94).
De acordo com a assertiva de Scholem, a mesma e única luz pode ser vista em aspectos diferentes. Portanto, embora as manifestações do ETERNO sejam vistas em aspectos diferentes, isso não fará com que ele seja mais de uma única pessoa na divindade. Vede também a imagem inicial deste estudo, que mostra uma luz branca passando por dentro de um prisma de cristal. A luz branca é vista com várias cores diferentes, apesar disso ela é uma e a mesma luz.
A Escritura mostra que o ETERNO se manifesta tanto como Pai e também como filho, são duas manifestações diferentes do mesmo ETERNO. É o ETERNO sendo visto em dois aspectos diferentes. É por isso que Yeshua chegou a declarar que ele podia fazer tudo que o pai era capaz de fazer:
".... porque tudo quanto ele [o Pai] faz, o Filho o faz igualmente." (João 5: 19).
Esta declaração de Yeshua é compatível com o entendimento judaico sobre a divindade do Messias, pois o Zohar (o livro do esplendor) declara as mesma coisa usando palavras diferentes:
“E há muitos gaunin que são uma Unidade, e todas elas são verdadeiras, o que um faz o outro faz, e aquilo que um faz o outro faz.” (Zohar, volume II, página 43, Amsterdan Edition).
A palavra "gaunin" é sinônimo de "qnumeh”, e, de acordo com o Rabino James Scott Trimm, significa: "aspectos", "elementos", "substâncias" e essências". (Citado em: The Great Mystery or How Can Three Be One?, Ed. Worldwide Nazarene Assembly of Elohim, 2010, página 110).
Já que gaunin é sinônimo de qnumeh, então isso significa que o entendimento do autor do Zohar (o livro do esplendor) é um entendimento compatível com o do apóstolo João, que escreveu dizendo que o Messias é uma manifestação do ETERNO e que é capaz de realizar tudo quanto somente o ETERNO é capaz de fazer.
Ainda que sejam manifestações diferentes, isso não significa mais de uma pessoa na divindade. Se fossem muitas pessoas compondo a divindade, certamente haveria discordância na vontade de um para com o outro, já que cada pessoa tem a sua própria mente, a sua própria vontade e a sua própria personalidade. Não obstante, no caso das manifestações plurais do ETERNO, não há diferença e nem discordância na vontade, já que estamos falando da mesma pessoa. No mesmo sentido de nossa afirmação, escreveu o rabino Tsvi Nassi:
“ [Afirma o Zohar:] ‘Aquilo que um faz o outro faz’, o que é evidente da unidade que eles formam, e que não pode haver nenhuma diferença de vontade ou propósito dentre eles [os gaunin do ETERNO].” (The Great Mystery or How Can Three Be One?, 2010, página 19).
Caso prossigamos a leitura em João 5, veremos afirmações ainda mais surpreendentes sendo ditas pelo próprio Yeshua, veja:
"Pois, assim como o Pai ressuscita os mortos, e os vivifica, assim também o Filho vivifica aqueles que quer. […] Para que todos honrem o Filho, como honram o Pai. Quem não honra o Filho, não honra o Pai que o enviou." (João 5: 21,23).
Ao fazer uma leitura do verso 23 diretamente do texto em grego, iremos encontrar o verbete καθως (kathos), que segundo o dicionário bíblico Strong, significa: “justamente como”, “exatamente como” (Strong: G2531). Assim sendo, poderíamos ler o verso 23 simplesmente assim:
"Para que todos honrem o Filho, exatamente como honram o Pai. Quem não honra o Filho, não honra o Pai…." (João 5:23).
Daí, fica evidente que o Messias não é um Ser criado como propagam falsamente alguns, bem como fica evidente que o Messias não é uma segunda pessoa que compõe a divindade, e sim que ele é uma das manifestações da sobrenatural Onipresença do ETERNO.
Talvez haja alguém que ainda diga: "Ah, mas isso que acabou de ser dito é o mesmo entendimento da trindade”. E a resposta para este questionamento é bem simples: "tal visão é totalmente diferente da visão trinitária." E mais, de acordo com as pesquisas realizadas pelo israelita Tsadok Ben Derech, os antigos discípulos de Yeshua acreditavam que o ETERNO é uma só pessoa ("um só prosopon") que se manifesta por meio de três aspectos ou substâncias ("três hypostasis"). Confira o argumento dele:
“Pensavam os antigos cristãos com toda propriedade que o ETERNO é um, uma pessoa (prosopon), com três aspectos ou substâncias (hypostasis). Com os Concílios do século IV, instituidores da pagã Doutrina da Trindade, houve uma inversão da verdade em mentira: todos foram obrigados a crer, sob pena de serem considerados hereges, que o ETERNO são três Pessoas (prosopa) com um único aspecto ou substância (hypostasis). Infelizmente, o maligno e pagão pensamento trinitário permanece até hoje no Cristianismo.” (Judaísmo Nazareno: O Caminho de Yeshua e Seus Talmidim, 3ª edição, 2017, página 389).
No entendimento judaico antigo, muitos judeus acreditavam que o ETERNO podia se manifestar de quantas formas quisesse e onde quisesse. Todos que estudam a religião judaica, sabem que existe um ensino entre eles, chamado de "as dez Sefirot", que é um método de ensino a respeito de como o ETERNO pode se manifestar entre os mundos da criação. Nesse método de estudo, há a referência de uma tripla manifestação divina, chamada de tsartsachot (‘esplendores’), que é um ensino totalmente diferente do ensino dos cristãos que acreditam na trindade, onde dizem que o ETERNO é composto de três pessoas diferentes.
Ao analisar estes fatos, o cabalística Gershom Scholem, conclue:
"... Não é de surpreender que cristãos mais tarde descobriram uma alusão à sua própria doutrina da trindade nesta teoria, apesar de não conter nenhuma das pessoais hipóstases características da trindade Cristã.” (Kaballah, página 96).
Vede então que, a doutrina da trindade cristã é uma deturpação do entendimento que os antigos discípulos de Yeshua possuíam. É uma deturpação do entendimento judaico a respeito das manifestações plurais do ETERNO. Que esse estudo possa ter aberto a sua mente para meditar mais a respeito do Todo-Poderoso.
Seja iluminado!!!
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