Manifestação singular ou plural? Parte 2

Por: Cleiton Gomes 


Tema: Por que Yeshua é chamado de "Filho"?


É bastante comum encontrar pessoas meditando nessa pergunta, já que existem pessoas que acreditam que Yeshua é o próprio Pai e outros acreditam que ele é o filho do Pai. O primeiro pensamento é ensinando no meio dos unicistas, já que eles dizem que o Messias é a própria manifestação do pai. Já o segundo pensamento é ensinado tanto pelos trinitarianos quanto pelos unitários, sendo que os unitários não acreditam que o Messias seja o próprio ETERNO, já os trinitarianos acreditam. Afinal, o que a Escritura fala a respeito desse tema? O Messias é o Pai? Ele é o próprio ETERNO? 


Existem muitos textos nas Escrituras que chamam o Messias de "Filho", tal como o texto logo abaixo:


"Graça, misericórdia e paz, da parte de Deus Pai e da do Senhor Jesus Cristo, o Filho do Pai, seja convosco na verdade e amor." (2ª João 1:3, Bíblia Almeida Corrigida Fiel, 2007). 


Embora a Escritura chame Yeshua de "Filho" muitas vezes, devemos entender que isso não é dito ao acaso, como se não houvesse explicação alguma. Por exemplo, a Escritura chama o Messias de: (1) "Filho de Elohim", (2) "Filho do homem" , (3) "Filho de Davi". 


Sabemos que quando a Escritura chama o Messias de "Filho de Davi" (Mateus 1:1) ela está mostrando a importância que Yeshua tinha, dizendo que ele pertence à uma descendência real, dizendo que Yeshua nasceu da linhagem que nasceria um Rei que reinará para sempre no trono de Davi (Lucas 1: 32-33). Para o leitor que não está habituado com este título, ao olhar para ele vê como algo sem muita importância, mas para os israelitas de todos os tempos, falar do Messias descendente de Davi é falar da promessa de reagrupamento das 12 tribos de Israel, pois "o Messias é o Davi tão esperado" (Ezequiel 37: 16-24). Falar do Messias descendente de Davi é falar sobre Aquele que vem para destruir todo o império do mal. 


Prosseguindo. Quando a Escritura chama o Messias de "Filho do homem", isto não é apenas uma indicação de que ele era homem. Também é uma indicação de que o Messias seria divino, tal como registra Daniel 7: 13-14. De fato, o judeu ortodoxo, Daniel Boyarin, declara que na época dos apóstolos a maioria dos judeus esperava o aparecimento de um Messias que seria divino, isto é,  que não seria um humano comum:


Desejo que vejamos que também Cristo - o divino Messias - é judeu.  A cristologia, ou as primeiras idéias sobre Cristo, é também um discurso judaico e não - até muito mais tarde - um discurso antijudaico.  Muitos israelitas na época de Jesus esperavam um Messias que fosse divino e viesse à Terra na forma de um ser humano.” (The Jewish Gospels: The Story of the Jewish Christ, 2012, página 6). 


Assim sendo, o título “Filho do homem” quando aplicado ao Messias, fala que ele não é um humano comum, e sim um ser celestial que veio ao mundo na forma humana. E quem é este ser celestial que veio ao mundo em forma humana? O próprio ETERNO (João 1: 1; 14; Ezequiel 34: 12,15). É por isso que o Filho do homem tinha poder para perdoar pecados (Lucas 5: 24), e sabemos que somente o ETERNO é que tem o poder de perdoar pecados (Marcos 2: 7). O próprio apóstolo Paulo chamou o Messias de “Homem Celestial” (1ª Coríntios 15: 47).


E mais, pela literatura judaica podemos aprender que o homem celestial é chamado de "Adam Kadmon”, que é uma manifestação do próprio ETERNO, confira a assertiva do cabalista  Gershom Scholem:


“... Deus entrou na forma de Adam Kadmon...” (Kabbalah, página 116).


“Em Suas manifestações ativas, Deus aparece como a dinâmica unidade das Sefirot, retratadas como a ‘árvore das Sefirot’ ou a mística forma humana (Adam Kadmon), que não é outro senão a ocultada forma de Deus em Si mesmo.” (On The Mystical Shape of the Godhead: Basic Concepts in the Kabbalah, 1991, página 39).


O Zohar, que é uma coletânea de livros escritos pelo Rabino Shim'on bar Yochai, registra que Adam Kadmon é a primeira manifestação do ETERNO:


O que nós chamamos Homem Celeste, ou a primeira manifestação divina, é a forma absoluta de tudo que existe…” (“O Zohar: o Livro do Esplendor”, Polar, 2010, página 119).


Finalmente, quando a Escritura usa o título "Filho de Elohim", não devemos imaginar que o ETERNO teve relação com alguma deusa celestial e que desse relacionamento é que nasceu o Messias. Longe de nós tal pensamento politeísta, já que tal pensamento é como acreditar que pode existir uma linhagem de seres que possam se declarar "O Todo-Poderoso". Tal ideia seria uma ofensa às Escrituras, que dizem que há apenas UM ser que pode ser chamado de Todo-Poderoso, que é o ETERNO (יהוה). De fato, o próprio ETERNO ensinou que como Ele não existe outro igual ou semelhante (Isaías 44:8; Jeremias 10: 6-7). Daí, se não existe alguém igual ou semelhante a Ele, cai por terra a ideia de que o Messias é uma segunda pessoa na divindade, que seria igual ao ETERNO. 


Já que o Messias não é filho de Elohim no sentido de ter nascido de uma relação sexual, poderíamos acreditar que ele é filho de Elohim da mesma forma que os anjos também o são (Jó 38: 1-7)? A resposta é simples e objetiva: claro que não! E isso se dá pelo fato de que o Messias não é um Ser criado, senão que ele é uma manifestação do próprio ETERNO. Se ele é uma manifestação do próprio ETERNO, não faz sentido dizer que ele é um Ser criado que pode ser chamado de filho igual aos anjos. 


Afinal, o que significa o título "Filho de Elohim" quando aplicado ao Messias? Antes da uma resposta objetiva para essa pergunta, primeiramente gostaríamos de expor o entendimento histórico de como os israelitas entendiam a expressão "Filho de Elohim" no meio da civilização. Com efeito, citamos o argumento do historiador Geza Vermes:


“... as passagens sinóticas que descrevem Jesus como filho de Deus devem ser reexaminadas rapidamente. Ao fazê-lo, deve-se ter em mente que as únicas testemunhas que declaram, primeiro indiretamente e depois diretamente, que o próprio Jesus usou este título são os zombeteiros no Calvário. 

[...] Em todas as passagens restantes ele é chamado “filho de Deus” por outras pessoas. Esses textos, portanto, não refletem o pensamento de Jesus no que se refere ao Pai do céu mas antes o contexto religioso no qual este pensamento foi transmitido.” (A religião de Jesus: o Judeu, Editora Imago, 1993, página 154).


“... Para um judeu, no entanto, a expressão hebraica ou aramaica […] Filho de Deus poderia ser uma inferência, em ordem ascendente, a qualquer filho de Israel; um bom judeu; a um judeu Santo carismático; ao rei de Israel; de modo específico ao Messias-rei [...] Em outras palavras, “filho de Deus” sempre era entendido metafóricamente em círculos judeus.” (Jesus e o mundo do Judaísmo, edições Loyola, 1983, página 93). 


Filho de Deus” pode indicar qualquer judeu, um judeu pio, um rei histórico ou o futuro Messias. Quando consideradas juntas, essas designações exibem todas um elemento comum: são todas figuras de linguagem 

(...) 

À luz dessas observações, o que significa a designação “filho de Deus” quando aplicada amigavelmente a Jesus por oradores no Quarto Evangelho? Podemos ter certeza de que significa mais do que apenas um judeu pio. O mais provável é que se trate de um equivalente de “Messias”. (As várias faces de Jesus, Editora Record, 2006, página 45 e 46). 


De acordo com Geza Vermes, o título "Filho de Elohim" fazia parte do contexto religioso do qual Yeshua estava inserido, e descrevia a qualidade de qualquer um judeu que fosse santo e carismático, um Rei histórico, bem como era uma indicação messiânica. Ou seja, também era usada para descrever aquele que viria a ser o rei Messias.


Assim, com base nos entendimentos acima citados de o porque Yeshua recebeu os títulos de "Filho", podemos deduzir com muita facilidade que: Todos os títulos descrevem o papel messiânico, bem como são uma indicação do Messias divino que haveria de vir à terra como homem. E como já aprendemos que este homem celestial é o próprio ETERNO, fecharemos este estudo com a argumentação do israelita, Tsadok Ben Derech:


“Ao lerem os cristãos gentios que Yeshua era o “Filho de Elohim”, não compreendiam que este título messiânico se referia ao próprio ETERNO que se manifestou em carne. Pensavam os cristãos, oriundos de religiões politeístas, que o “Filho de Deus” seria um ser mitológico nascido de um deus de forma sobrenatural. Escreveu Justino Mártir que não estava propondo nada diferente daquilo que já era crido no âmbito da mitologia, ou seja, que Yeshua era o Logos, o primogênito de Deus, tal como Júpiter ou Mercúrio (Primeira Apologia, capítulos 21-23). Júpiter é o Deus romano filho dos deuses Saturno e Cibele. Mercúrio é o deus romano filho de Júpiter e de Bona Dea (“Deusa Bondosa”).  


Vejam o que Justino Mártir [...] quis dizer: o título “Filho de Elohim” atribuído a Yeshua é igual à designação “Filho de Deus” praticada no âmbito pagão, porque Yeshua é o Filho do ETERNO tal como o Deus Júpiter é Filho de Saturno e o deus Mercúrio é Filho de Júpiter. Resumindo: Yeshua foi equiparado aos deuses romanos, na qualidade de um “subdeus”.


É exatamente este raciocínio pagão que se alastra em alguns círculos religiosos de hoje, ao afirmarem que Yeshua está em posição de subordinação em relação ao Pai. Não!!! Lembre-se do que já foi escrito e provado à luz das Escrituras: Yeshua é YHWH que se manifestou em carne, e não um “semideus”.” (Judaísmo Nazareno: O Caminho de Yeshua e Seus discípulos, 3ª edição, 2017, página 384 e 385).


Com base nisso, podemos aprender que todos estes fatos, podemos aprender que tanto a doutrina da trindade quanto a doutrina do Unitarismo, estão errados. No próximo estudo iremos analisar as diferenças entre as manifestações do ETERNO, trazendo uma melhor compreensão a respeito do porquê as Escrituras mostram uma certa distinção entre o pai e o filho. 


Continua…. 



Seja iluminado!!! 








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