Jefté não matou a sua filha

Por: Cleiton Gomes 


O trecho bíblico a ser examinado se encontra em Juízes 11: 1-40. O contexto mostra que Jefté era um homem temente ao Altíssimo, e todas as decisões que ele tomava eram feitas em grande temor a Ele (versos 9-11, 21-23, 27-30). E quando Jefté fez o tão polêmico voto, fez sendo iluminado pelo Espírito do ETERNO que estava nele durante aquele momento, vamos ler:


"Então o Espírito de Adonai veio sobre Jefté, de modo que ele passou por Gileade e Manassés, chegando a Mispá de Gileade, e dali atacou os amonitas. E Jefté fez o seguinte voto a Adonai: Se entregares os amonitas nas minhas mãos, qualquer um que sair da porta da minha casa ao meu encontro, quando eu voltar da vitória sobre os amonitas, será de Adonai. Eu o oferecerei em holocausto." (Juízes 11:29-31). 


Seria inconsistente pensar que o próprio ETERNO iria criar uma vontade dentro do coração de Jefté para que ele viesse a realizar algo que era considerado abominável pelo Altíssimo (Levítico 18: 21 e 20: 1-5; Deuteronômio 12: 31). Sabemos que o holocausto é um tipo de sacrifício, e sabemos que muitas das vezes o ETERNO usa certas palavras com duplo significado para confundir aqueles que se dizem sábios, pois ao estudar as Escrituras também veremos que nem todos os sacrifícios se refere ao ato derramar o sangue daquele Ser para que ele venha a morrer. Por exemplo, o apóstolo Paulo ensinou que devemos nos oferecer ao Senhor como sendo um "sacrifício vivo" (Romanos 12: 1-2). Isso significa que devemos "matar o nosso eu carnal" e nos dedicar ao serviço divino e não que devemos ser mortos literalmente. 


Um detalhe importante ao se observar a palavra "holocausto" no texto de Juízes 11: 31, é que a palavra עוֹלָֽה (owlah) também pode significar "oferta queimada" (Strong: H5930), e sabemos que nem todas as ofertas envolviam o sacrifícios de animais e nem todas eram com propósitos expiatórios (para perdoar pecados). As "ofertas de manjares", por exemplo, também eram consideradas como sendo ofertas queimadas (Levítico 2: 1-5, 14-16). As "ofertas pacíficas" também eram consideradas como "oferta queimada" (Levítico 3:  5, 9, 11, 14, 16).


A oferta pacífica não tinha o propósito de expiação e sim de agradecimento ao ETERNO. Então, se entendermos que o sacrifício da filha de Jefté seja um sacrifício vivo de agradecimento ao ETERNO por tê-lo feito ganhar as batalhas contra o exército inimigo, então a ideia de que Jefté praticou um sacrifício pagão, cai por terra. Quem sacrificava literalmente os seus filhos no fogo eram os idólatras que tinham uma 'divindade' chamada de Moloque. Porventura o ETERNO fez Jefté sacrificar a sua própria filha no fogo? Claro que não. 


É muito pouco provável a ideia de que Jefté tenha matado sua filha literalmente. Primeiro porque os holocaustos eram feitos únicamente com animais, e eles só poderiam ser machos (Levítico 1:3,10). Segundo, somente os sacerdotes poderiam realizar o holocausto  e sabemos que Jefté não era sacerdote. Terceiro, mesmo que ele fosse levar a sua filha para sacrificar no altar do tabernáculo, os sacerdotes automaticamente iriam repreendê-lo por causa desse ato que o ETERNO abomina. 


Mesmo levando em consideração que o período dos Juízes era de trevas espirituais na história de Israel e que os Israelitas cometeram inúmeros erros, é de duvidar que os amigos e os vizinhos de Jefté tivessem permitido que ele matasse a própria filha para cumprir um voto tão imprudente. Por exemplo, os soldados do rei Saul não permitiram que ele matasse o seu filho Jônatas, que havia quebrado o voto insensato do pai (cf. 1 Samuel 14: 43-45).


A hipótese mais razoável do cumprimento deste voto foi que Jefté sacrificou a sua filha, não matando ela, mas oferecendo ela em sacrifício vivo ao Criador. Ela teria que passar toda a sua vida sem se relacionar sexualmente com homem algum, dedicando todo seu serviço no tabernáculo. Aliás, havia funções específicas para as mulheres naquele lugar (Êxodo 38: 8; 1 Samuel 2: 22). E naquela época todas as mulheres de boa reputação desejavam ter filhos algum dia, portanto, um sacrifício vivo de perpétua virgindade era um sacrifício tremendo no contexto judaico daqueles dias. Fazendo alguém voto de perpétua castidade, e sendo dedicada somente ao serviço divino, ela não poderia jamais ter filhos e assim dar continuidade à linhagem familiar de seu pai.


Ela permaneceu virgem (Juízes 11: 39), o que significa que não teve a alegria de ser mãe, nem de dar continuidade à herança do pai em Israel. Toda filha desejava ter uma família e todo pai desejava ter netos para dar continuidade à herança da família. Esse fato seria motivo suficiente para que ela e as amigas passassem dois meses se lamentando (Juízes 11: 38). Ela se lamentou não por que estava prestes a morrer, mas sim porque iria permanecer virgem para sempre. Isso explicaria a reação do pai dela ao dizer:


"...Ah! Filha minha, tu me abateste por completo; tu passaste a ser a causa da minha infelicidade, porquanto fiz voto a Adonai e não tornarei atrás. E ela lhe disse: Pai meu, fizeste voto a Adonia; faze, pois, de mim segundo o teu voto; pois Adonai te vingou dos teus inimigos, os filhos de Amom." (Juízes 11:35-36). 


Em suma, se foi o ETERNO que impulsionou Jefté a fazer aquele voto, também foi o ETERNO que colocou a filha dele em seu caminho como sendo a primeira coisa que ele deveria “sacrificar”. Foi uma ação divina onde o começo e o fim estavam ligados. E se toda essa visão estiver certa, então Jefté agiu com muita honra, e por isso, ele é considerado como sendo um homem de boa reputação em Hebreus 11:32. Caso tivesse feito um ato tão desprezível de sacrificar sua filha igual os idólatras faziam, seu nome nem seria colocado naquela lista de importância. 


Seja iluminado!!! 







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2 Comentários

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    1. Eu acredito que essa seja a visão mais coerente! 😉 ❤️. Agradeço por sua visita aqui, volte sempre.

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