Romanos 14, explicado

 Por: Cleiton Gomes


Extraída da obra: Ainda Há Esperança - O Chamado para Retornar, 2020, páginas 298 a 305.


Na comunidade de discípulos que habitavam em Roma havia duas classes de gentios: "gentios naturais" e "Efraimitas". Este último grupo eram os descendentes das 10 tribos, também chamados de “Casa de Israel”. Eles passaram a ser chamados "gentios" pela boca dos judeus, apesar de também serem hebreus naturais (Talmud Bavli, Yebamot, 17a). Isso se deu pelo fato de que os da Casa de Israel, quando levados ao exílio Assírio, nunca mais retornaram ao seu hábitat natural. Em vez disso, foram morar em outras regiões, fazendo com que a semente do patriarca Abraão fosse plantada por toda a terra. Quando Yeshua veio ao mundo, os da Casa de Israel estavam dispersos pelas nações a mais de 600 anos. E houve bastante tempo para que eles formassem famílias dentro das nações gentílicas (casamentos mistos).

 

Em outras palavras, os da Casa de Israel eram descendentes legítimos do patriarca Jacó. Eles ficaram perdidos entres as nações da terra e os judeus passaram a ter desprezo por eles, porque gostaram e se acostumaram com o estilo de vida pagão. Porém, o ETERNO disse que levaria as boas novas para os da Casa de Israel e daria término a esta inimizade. E o ETERNO também prometeu que eles (e não só os judeus) receberiam o direito de vida eterna, tanto é que prometeu juntar os da Casa de Israel/Efraimitas do meio das nações em que  eles viviam:


"O ciúme de Efraim desaparecerá, e a hostilidade de Judá será eliminada; Efraim não terá ciúme de Judá, nem Judá será hostil a Efraim." (Isaías 11: 13). 


"Porque eis que darei ordens e sacudirei a casa de Israel entre todas as nações [dentre os gentios], assim como se sacode trigo no crivo, sem que caia na terra um só grão." (Amós 9: 9). 


"Dize-lhes, pois: Assim diz o SENHOR: Eis que eu tomarei os filhos de Israel de entre as nações para onde eles foram, e os congregarei de todas aspartes, e os levarei para a sua própria terra." (Ezequiel 37: 21). 


Conforme visto nas profecias, o ETERNO prometeu que um dia haveria o reagrupamento dos descendentes da Casa de Israel novamente. Incrivelmente, no conteúdo do livro de Romanos, podemos encontrar o apóstolo Paulo ensinando que o Evangelho havia chegado aos ouvidos dos Efraimitas. E se permanecessem fiéis, iriam ter a chance de fazer parte do mundo vindouro: 


"para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que de antemão preparou para a glória, os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios? Como diz Ele também em Oséias: Chamarei Meu povo ao que não era Meu povo; e amada à que não era amada." (Romanos 9: 23-25). 


Tal ensinamento está expresso nos Capítulos 1, 2 e 3 do livro do profeta Oséias. A mensagem é que os Efraimitas deixariam de ser o povo do ETERNO por terem se prostituido entre as nações, mas, haveria um tempo em que o ETERNO iria levar a palavra da salvação para os mesmos. E estes poderiam se tornar povo santo novamente. Certos de que o conteúdo do livro de Romanos está endereçado principalmente aos Efraimitas, cumpre registrar que a promessa é que o ETERNO iria trazer a mensagem de restauração para as Duas Casas. E a mensagem de restauração que o ETERNO propõe a todos que crêem é: “Eles devem retornar a praticar os mandamentos da Torá para permanecer em santidade”. 


Isso mesmo. O próprio apóstolo Paulo ensinou que não veio para ensinar o caminho da desobediência; e enfatizou que sua função era trazer os gentios ao caminho da obediência: "Porque não ousarei discorrer sobre coisa alguma, senão sobre aquelas que o Messias fez por meu intermédio, para conduzir os gentios à obediência, por palavra e por obras.” (Romanos 15: 18). Veja também: Romanos 1: 5, 7, 15, 18-32; 6: 16, 19, 22.


No início da carta aos Romanos o apóstolo Paulo declara abertamente que todo aquele que perverte a verdade de Elohim e a converte em injustiça será duramente julgado pelo ETERNO. Isso serve de evidência para declarar que o apóstolo Paulo não estava condenando a Torá em Romanos 14, pois estaria deturpando a verdade de Elohim e passando a ensinar mentiras. Isso mesmo, todos os mandamentos da Torá estão essencialmente ligados à verdade (Salmos 119: 35, 86, 142, 151), e todos que combatem a Torá estão em laços de mentira. Caso o apóstolo Paulo estivesse mesmo combatendo o mandamento do sábado e os mandamentos sobre a alimentação lícita, teríamos autoridade para chamá-lo de mentiroso. Não obstante, sabemos que Paulo não estava combatendo os mandamentos da Torá. Ele estava apenas instruindo seus discípulos sobre a correta aplicação em torno da alimentação e do jejum. 


O contexto indica que um dos grupos estudou profundamente a questão sobre a alimentação vegetariana estabelecida no princípio da criação. E durante meses de estudos à fio, passaram a ver a alimentação à base de carne como algo ruim, já que esse tipo de alimentação só veio a ser permitida ao homem depois que a maldade entrou no mundo. Este determinado grupo começou a querer impor a mesma alimentação vegetariana para os outros discípulos, porém, o outro grupo não estava disposto a seguir uma alimentação vegetariana de forma tão radical como Aqueles.


Paulo entendeu que a alimentação vegetariana é um belo princípio a ser seguido. Porém, também entendia que a alimentação à base de carne havia sido liberada pelo ETERNO, desde que fosse feita segundo as restrições dEle. Por isso Paulo sustenta: "Um crê que de tudo se pode comer, e outro, que é fraco, come só legumes. Quem come não despreze a quem não come; e quem não come não julgue a quem come; pois Elohim o acolheu." (Romanos 14: 2-3).


"Comer de tudo" deve ser entendido dentro daquele cenário, dentro daquela região, dentro daquela comunidade de discípulos. O "tudo" do qual Paulo se refere são os alimentos à base de carnes lícitas que os crentes gentios consumiam naquela região. Ademais, se eles eram discípulos de Paulo, devemos entender que o apóstolo Paulo não aceitava que seus discípulos pudessem comer qualquer coisa que quisessem. Para todos os apóstolos (inclusive Paulo) o crente gentio não deveria se alimentar de: 


1) sangue, 

2) carne de animais sufocados, e 

3) alimentos oferecidos a ídolos (Atos 15: 20, 29). 


Através dessas pequenas restrições, já podemos saber que o gentio não está autorizado a comer o que bem quiser se realmente quiser servir ao verdadeiro Elohim. A título de informação, carne de animais sufocados refere-se aos animais que morrem após passar por uma grande dor, que pode ter sido causada pelos seres humanos. O único povo que praticava e ainda pratica o abate indolor são os israelitas, pois o ETERNO lhes ensinou como deveriam matar um animal sem que este sinta dor alguma. 


No Concílio de Jerusalém foram dadas restrições iniciais aos gentios novos convertidos. E, já que os gentios deveriam se alimentar à base de carne de animais que morreram de forma misericordiosa (“não comer carne de animal sufocado”), isso significa que os gentios só poderiam se alimentar da carne que era vendida por mercadores israelitas. Deveriam comprar a carne de animais no açougue onde houvesse a presença de um açougueiro israelita, pois teriam a confiança de saber que o animal morreu de forma misericordiosa. 


É evidente que os israelitas só abatiam animais que são reputados lícitos pela Torá (Levítico 11; Deuteronômio 14). Isso quer dizer que os gentios, crentes em Yeshua, iriam passar a ter uma alimentação à base da carne de animais lícitos. Veja! O princípio da alimentação lícita prescrito na Torá também seria praticado pelos gentios, crentes em Yeshua. E como Paulo estava presente na reunião que ocorreu em Jerusalém, concluímos que ele estava de acordo com as decisões tomadas ali. Assim sendo, se Paulo era a favor de aplicar os ensinos da alimentação lícita para os gentios, concluímos que o "tudo" do qual ele fala em Romanos 14: 2, 14-15 não incluem as espécies de animais reputados ilícitos pela Torá. 


Acreditamos que o mesmo grupo (grupo A) que queria impor o princípio do vegetarianismo para a outra classe de discípulos (grupo B), também queria que eles (grupo B) praticassem outro costume junto Deles (grupo A), que era "o jejum". Este jejum seria realizado duas vezes na semana: "Segunda-feira” e “Quinta-feira", tal como já era realizado por alguns judeus (Lucas 18: 12). Porém, o grupo B não queria praticar o jejum naqueles mesmos dias, não considerando aqueles dias como especiais. Então, enquanto o grupo A estava praticando o jejum, os do Grupo B permaneciam se alimentando. Nessa confusão, o apóstolo Paulo lhes explica: 


"Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente convicto em sua própria mente. Aquele que faz caso do dia, para o Senhor o faz. E quem come, para o Senhor come, porque dá graças a Elohim; e quem não come, para o Senhor não come, e dá graças a Elohim." (Romanos  14: 5-6).


No sentido de que estas palavras estão diretamente ligadas ao costume de jejum, explica o Professor Nazareno, Tsadok Ben Derech


"Aqueles que jejuavam duas vezes por semana estavam se julgando superiores àqueles que não realizavam tais jejuns às segundas e às quintas-feiras. Sha’ul (Paulo) entendeu que aquele que jejuava em dias específicos (segundas e quintas) não deveria criticar aqueles que não consideravam estes dias especiais e optavam por não jejuar ou por jejuar em quaisquer outros dias". (Judaísmo Nazareno, o caminho de Yeshua e de seus Talmidim, 3ª edição, 2017, página 187)


Tudo indica que Paulo não combateu aqueles que queriam jejuar em dias específicos da semana, muito menos reprova aqueles que não queriam participar do jejum naqueles mesmos dias. Ele apenas instrui que aquele que fosse jejuar em dias específicos da semana, não deveria ficar desprezando aqueles que não queriam fazer isto naqueles mesmos dias, porque isso estava gerando desunião entre eles (Romanos 14: 13). No mais, Paulo os elogia, 

dizendo que ambos tinham a capacidade de ensinar uns aos outros: 


"Eu, da minha parte, irmãos meus, estou persuadido a vosso respeito, que vós já estais cheios de bondade, cheios de todo o conhecimento e capazes, vós mesmos, de admoestar-vos uns aos outros" (Romanos 15: 14). 


Então, leitor, diante destes esclarecimentos fica provado que Paulo não estava combatendo o mandamento do sábado, nem os mandamentos das festas bíblicas, e muito menos os mandamentos referentes à alimentação. Ele estava apenas ajudando seus alunos a compreender o pensamento um do outro, para que a confusão entre eles chegasse ao fim.


Seja iluminado!!!




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