Romanos 7 e 8, explicado

Por: Cleiton Gomes 


Extraído da obra: Ainda Há Esperança - O Chamado para Retornar, 2020, páginas 284 até 291. Obs: O texto em questão foi revisado e ampliado. 


Tema: A Torá gera frutos para a morte? (Romanos 7) 

Façamos a leitura do texto:


"De sorte que, vivendo o marido, será chamada adúltera se for de outro homem; mas, morto o marido, livre está da lei, e assim não será adúltera, se for de outro marido. Assim, meus irmãos, também vós estais mortos para a lei pelo corpo do Messias, para que sejais de outro, daquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que demos fruto para Elohim. Porque, quando estávamos na carne, as paixões dos pecados, que são pela lei, operavam em nossos membros para darem fruto para a morte. Mas agora temos sido libertados da lei, tendo morrido para aquilo em que estávamos retidos; para que sirvamos em novidade de espírito, e não na velhice da letra." (Romanos 7: 3-6). 


Paulo inicia sua carta dizendo que somente aqueles que entendiam corretamente a jurisprudência da Torá é que iria entender as suas próximas palavras (Romanos 7: 1). No decorrer do texto, ele conta sobre um casamento que havia sido violado. E que o primeiro marido deveria morrer para que aquela mulher pudesse ser livre para casar com outro. Enquanto o primeiro marido ainda estivesse vivo, a mulher não poderia se casar com outra pessoa, pois seria adultério. Qual é a razão de Paulo ensinar sobre este tema do casamento?


Tema relacionado: Não é permitido divorciar em nenhuma circunstância?  


A razão é bem simples: Ele estava falando sobre as Duas Casas  de Israel (Judá e Israel/Efraim). Quem conhece a história, sabe que o ETERNO era o marido/ esposo de ambas as Casas (Isaías 54: 5; Jeremias 3: 14). Mas a Casa de Israel se prostituiu em vários lugares, de várias maneiras (Jeremias 3: 6). Por isso, o marido, ao detectar a infidelidade de sua esposa para com ele, deu-lhe a carta de divórcio. Em outras palavras, ele se divorciou dela (Jeremias 3: 8). A Casa de Judá também demonstrou infidelidade, mas o ETERNO tolerou a sua prostituição (Jeremias 3: 8-10; Oséias 1: 7), já que a promessa do nascimento do Messias deveria acontecer justamente na tribo de Judá. Os erros da Casa de Judá foram tolerados somente porque a profecia messiânica deveria se cumprir. 


O ETERNO disse que ele deu carta de divórcio para a Casa de Israel, mas tolerou os erros da Casa de Judá, pois, o coração da casa de Judá ainda não era voltado unicamente para ele (Jeremias 3:8-10). Assim, o ETERNO viu que a Casa de Israel, por mais que tivesse se contaminado com a prostituição espiritual e física, ainda tinha o coração mais puro do que a Casa de Judá. É por isso que ele chama a Casa de Israel para se arrepender e voltar para ele, dizendo que sua ira contra eles não iria durar para sempre (Jeremias 3: 12-14). Porém, existem algumas etapas a serem feitas antes que a nova aliança seja literalmente firmada, e isso veremos mais à frente. 


O ETERNO se divorciou da Casa de Israel e permaneceu casado com a Casa de Judá. E, tendo recebido a carta de divórcio, a Casa de Israel se espalhou pelas outras nações, começando a adotar um estilo de vida pagão. Este novo estilo de vida é entendido como um casamento fora dos parâmetros divinos. Isso significa que o mundo foi o novo marido com quem a Casa de Israel se casou. Já que ela se casou com outro marido após receber a carta de divórcio, diante da Torá ela já não tinha mais permissão para casar novamente com o seu primeiro marido, visto que isso seria vergonhoso e abominável (Deuteronômio 24: 1-4). 



Já que os membros da Casa de Israel não poderiam voltar ao primeiro marido, como eles iriam casar com o ETERNO novamente? Como seria feito esta nova aliança 

entre os dois? 


Resposta: O ETERNO teve que criar um corpo de carne humana para si mesmo, para que através da morte daquele corpo de carne, ele pudesse ressuscitar como sendo "um novo homem", para que pudesse então fazer a nova aliança com a Casa de Israel. Ele não poderia fazer uma aliança direta sem ter que morrer e voltar a viver, pois estaria violando a Torá, mas a partir do momento em que ele renasce como um novo homem, a Casa de Israel pode se casar com ele. 


É importante salientar esse detalhe: antes do calvário o ETERNO ainda estava casado com a casa de Judá. Mas após o madeiro, a aliança que a Casa de Judá tinha com o ETERNO perdeu o seu efeito, pois o marido havia ‘morrido’. É por isso que Paulo disse "quando o marido morre, a mulher está livre da lei", isto é, da lei do casamento. Assim sendo, no momento em que a carne humana do ETERNO morreu no madeiro, sua aliança com a Casa de Judá foi desfeita, e como ele também não estava mais casado com a Casa de Israel, então, após a ressurreição ele ficou SOLTEIRO. 


Após sua ressurreição, as Duas Casas de Israel podem fazer uma nova aliança com ele sem a preocupação de estar violando a Torá. Porém, o ETERNO não os obriga a fazer uma nova aliança com ele, eles é que devem decidir se querem ou não fazer uma nova aliança com o Altíssimo. É por isso que Paulo sustentou que somente aqueles que retornarem para o ETERNO é que serão participantes da nova aliança.  Eis o que Paulo falou acerca desta questão:


Também clama acerca de Israel: Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo". (Romanos 9: 27, vide também: Isaías 10: 21-22). 


E isso tudo significa uma coisa: não é porque uma pessoa nasce judeu que ela já faz parte da nova aliança. Pelo contrário, tal pessoa deve fazer uma aliança com o Messias. Quando alguém se une a ele, passará a ser a sua noiva e ele passará a ser o seu noivo, e juntos aguardam o momento certo para se casar completamente. O Messias é o próprio ETERNO manifestado em figura humana, até porque ele mesmo queria fazer a  nova aliança com a Casa de Israel, e nunca disse que essa aliança seria feita com outro ser diferente dele. 


O ETERNO teve que gerar um corpo humano para que ele pudesse morrer e ressuscitar, pois a carne é frágil e está sujeita à morte. E mais, para que uma nova aliança seja feita, não somente o ETERNO deveria nascer como um novo homem, mas também a Casa de Israel precisa nascer de novo pelo fato de ter se prostituindo no mundo.  Isso significa que para ela ter o direito completo de fazer a nova aliança, ele tem que nascer de novo para que a vida manchada de prostituição seja apagada.  Isso se dá pelo fato de que o Messias é sacerdote, e pela Torá sabemos que uma prostituta não tem permissão para se casar com um sacerdote, confira:


"Os sacerdotes [...] não poderão tomar por mulher uma prostituta, uma moça que tenha perdido a virgindade, ou uma mulher divorciada do seu marido, porque o sacerdote é santo ao seu Elohim." (Levítico 21: 5, 7). 


"A mulher que ele tomar terá que ser virgem. Não poderá ser viúva, nem divorciada, nem moça que perdeu a virgindade, nem prostituta, mas terá que ser uma virgem do seu próprio povo" (Levítico 21: 13-14). 


E agora, o que o ETERNO deve fazer para se casar novamente com a Casa de Israel? Agora a questão aqui não depende somente do ETERNO. A Casa de Israel deve se esforçar para ir ao encontro do ETERNO e firmar uma nova aliança com Ele. Para firmar uma nova aliança com o ETERNO, eles devem morrer e ressuscitar. Mas como isso vai acontecer? Como os descendentes da Casa de Israel devem morrer e ressuscitar? 


Lembremos-nos da lição de Yeshua a Nicodemos sobre o novo nascimento. É isso mesmo! A Casa de Israel deve se arrepender profundamente de seus pecados, abandoná-los e passar a andar em novidade de vida. Eles devem nascer da água para que possam nascer do Espírito. A água é a Torá; e todos que passam a praticar adequadamente os mandamentos da Torá, ou melhor, quando a Torá é colocada dentro do coração do ser humano, este passará a andar em novidade de vida. Então, após receber a Torá em seu coração, tal pessoa passará a ser uma nova criatura. E sendo uma nova criatura, já não será mais uma prostituta. A pessoa terá nascido de novo, consequentemente será uma virgem novamente e poderá cumprir a exigência da Torá, podendo se casar com o Sumo-Sacerdote.


Tema relacionado: Nascer da água e do Espírito. O que é isso? 


 


Agora você entende a intenção de Paulo ao falar sobre a lei do casamento? Ou você ainda não percebeu que o livro de romanos está sendo endereçado para os descendentes da Casa de Israel? Bom, se você não conhece a história, deve se aprofundar no assunto sobre "A Teoria das Duas Casas de Israel (Judá e Israel)". Entendendo isso você terá os olhos bem abertos, podendo entender a maior parte das sagrada escritura sem muito esforço. Mas, vamos continuar comentando o capítulo sub examine. Vejamos algumas palavras que o apóstolo Paulo falou: 


"Pois quando éramos controlados pela carne, as paixões pecaminosas despertadas pela lei atuavam em nossos corpos, de forma que dávamos fruto para a morte." (Romanos 7: 5). 


Paulo está falando de uma lei que estava nos membros de seu corpo, que dava fruto para a morte. Sobre isso podemos fazer a seguinte pergunta: Esta lei é a Torá que quando praticada adequadamente gera a morte? Óbvio que não! A lei da qual o apóstolo Paulo fala que estava em seus membros não é a Torá. Ele (Paulo) a define como "a inclinação da carne para o mal", porém, usando outras palavras é claro. Ele chama esta inclinação da carne como "Lei do Pecado", confira:


"Mas vejo nos meus membros outra lei, que batalha contra a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros." (Romanos 7:23). 


A lei do pecado não é a Torá, pois a Torá é a própria instrução do ETERNO. Sabemos que a lei do pecado inclina a nossa carne a não se sujeitar à lei de Elohim (Romanos 8: 4-8), portanto, mais uma vez afirmamos: "a lei do pecado não é a Torá." Isso mostra que a lei do pecado não é boa, não é justa e nem é santa, mas a Torá é santa, justa e boa (Romanos 7: 12,22). Queridos, vamos fazer a leitura de Romanos 7:5 novamente: 


"Porque, quando estávamos na carne, as paixões dos pecados, que são pela lei, operavam em nossos membros para darem fruto para a morte." (Romanos 7:5). 


Leia novamente e constate por si mesmo que a lei que gera frutos para a morte não é a Torá, e sim a lei do pecado (a inclinação da carne para o mal/ o Yetzer Hará). Ora, a morte é o resultado da desobediência aos mandamentos da Torá (Romanos 6: 23), e quem gera essa inclinação à desobediência é a lei do pecado (Romanos 8: 4-8). Mas quando nos aproximamos e nos unimos à Yeshua, somos libertados da lei do pecado, consequentemente, iremos caminhar em rumo ao caminho da vida e não da morte, escapando da condenação eterna (Romanos 8: 1-2). 


Sabemos que o que causa a separação entre o homem e o ETERNO, é o pecado (Isaías 59: 2). O pecado é a desobediência voluntária aos mandamentos da Torá (1ª João 3: 4). Assim sendo, quem deixa de praticar os mandamentos do ETERNO está se distanciando da vida, uma vez que estará criando inimizade contra ele. Mas quem pratica os mandamentos da Torá adequadamente, está caminhando para a vida, está caminhando no bom caminho que concede descanso para as almas (Jeremias 6: 16,19). 


Tendo isso em mente, façamos a leitura de mais alguns versos das Escrituras:


"Quem vive segundo a carne tem a mente voltada para o que a carne deseja; mas quem, de acordo com o Espírito, tem a mente voltada para o que o Espírito deseja. A mentalidade da carne é morte, mas a mentalidade do Espírito é vida e paz; a mentalidade da carne é inimiga de Elohim porque não se submete à Torá de Elohim, nem pode fazê-lo. Quem é dominado pela carne não pode agradar a Elohim." (Romanos 8: 5-8). 


Quando uma pessoa se une ao Messias, ela passa por um processo de conversão. E todo aquele que se converte genuinamente, recebe o perdão de pecados (Atos 3: 19). Após receber perdão de pecados, pode andar em novidade de vida, passa a andar em espírito. Sobre o sentido da expressão "viver no espírito" comenta o Professor Nazareno, Andrew Gabriel Roth


"viver no espírito" significa que o Espírito de Mashiyach está treinando seus seguidores para que eles possam afastar os desejos carnais da carne fraca, e que eles são vencedores da carne". (Aramaic English New Testament, Netzari Press, 2016, nota de rodapé da página 501). 


Resumindo, Paulo não estava dizendo que o Messias aboliu a Torá! Ele estava falando que somos libertados da inclinação da carne para o mal. Ou seja, que somos libertados da prisão espiritual do pecado; e quando essa liberdade acontece, podemos desfrutar de um verdadeiro relacionamento com o ETERNO, que antes era impedido por que a pessoa estava escravizada pelo pecado. Tendo isso em mente, leitor, faça sozinho a leitura do capítulo 6 de Romanos e irá ver o apóstolo Paulo ensinando que é o Messias que nos liberta da escravidão do pecado. 


Ele é o nosso redentor!


Seja iluminado!!!





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