A cura do paralítico no tanque de Betesda

Por: Cleiton Gomes 


Extraído da obra: Ainda Há Esperança - O Chamado para Retornar, 2020, páginas 170 a 176


"Yeshua disse-lhe: Levanta-te, toma o teu leito [a cama], e anda. Logo aquele homem ficou são; e tomou o seu leito, e andava. E aquele dia era sábado. Então os judeus disseram àquele que tinha sido curado: É sábado, não te é lícito levar o leito. Ele respondeu-lhes: Aquele que me curou, ele próprio disse: Toma o teu leito, e anda." (João 5: 8-11). 


Prezado leitor, você sabia que a cama que os textos bíblicos apresentam naqueles episódios é apenas um leve utensílio utilizado pelos viajantes e pessoas pobres? Este objeto servia para dormir no chão e até mesmo como uma espécie de vestimenta. Este utensílio era uma manta e/ou capa. Ele poderia ser facilmente dobrado e levado debaixo dos braços sem maiores esforços físicos. No texto em grego koiné a expressão "leito" é escrita da seguinte forma: κράββατος (krabbatos). O verbete κράββατος pode significar: "cama de solteiro", "cama de acampamento", e "catre" (Strong: G2895). 


Para quem não sabe, a palavra "catre" é usada para se referir a um utensílio utilizado por pessoas pobres e viajantes [pobres]. "Catre" pode significar "cama de viagem dobrável" e também "leito tosco e pobre." Então, todas as vezes que alguém ler esta passagem do ex-paralítico levando sua cama, não pense que se trata de um objeto robusto e pesado feito de madeira, ferro ou metal. Na verdade é um simples utensílio que pode ser facilmente dobrado e colocado debaixo do braço. Por conseguinte, isto não é nenhum tipo de trabalho. Então por que alguns dos judeus ficaram irritados com Yeshua, alegando que Ele ensinou a transgredir o mandamento do sábado? (João 5: 18).


A resposta é: Yeshua praticou o princípio fundamental da Torá, o amor. Neste episódio Yeshua não transgrediu e tampouco ensinou o ex-paralítico a transgredir o mandamento do sábado. Ele sabia exatamente que carregar aquele simples objeto não era, de modo algum, um tipo de serviço que pudesse violar a Torá. Além do mais, um dos princípios basilares pelo qual o sábado é guardado é para se alegrar na presença do ETERNO. E naquele momento o ex-paralítico estava mais do que feliz, pois o Messias acabara de devolver a alegria que ele não tinha a bastante tempo. Movidos de inveja, alguns dos judeus não se importaram com a atitude correta de Yeshua, e não puderam perceber que Yeshua devolveu a alegria do shabat para aquele homem. Estes que acusaram o Messias estavam se importando mais com as normas criadas pelos rabinos de sua época, e sabemos que muitas dessas regras eram verdadeiros acréscimos às Escrituras. Lembra-se da nossa lição sobre “criar cercas ao redor da Torá para evitar a sua transgressão”? 


Pois é, voltamos a ressaltar que criar uma cerca ao redor da Torá só é bastante eficaz quando a pessoa conhece a Torá profundamente e sabe estabelecer regras interpretativas à base do amor. E naquela época, a única pessoa que soube criar cercas eficazes ao redor da Torá foi somente a pessoa de Yeshua. Ora vejam, durante muito tempo, os rabinos criaram cercas ao redor da Torá. E uma delas dizia que se algo viesse a cair do seu bolso durante o sábado a pessoa não poderia se abaixar e pegar o objeto, pois este ato seria o equivalente a transportar cargas. Outro exemplo de acréscimo às Escrituras é a proibição de que se “alguém estivesse com dor de dente não poderia bochechar vinagre durante o sábado para aliviar sua dor” (Talmud, m. Shabat 14: 4).


Existiam muitas regras rabínicas como estas nos tempos de Yeshua. Eram fardos pesados que tiravam a verdadeira essência do mandamento do sábado. Ainda hoje muitas dessas regras estão presentes em nosso dia a dia. Citaremos outra dessas regras: "os rabinos permitiam que fosse jogada comida para a alimentação das galinhas. Contudo não era permitido colocar água dentro farelo e misturar este alimento, porque para eles isto seria o equivalente a realizar um trabalho" (Talmud, m. Shabat 24: 3). 


Através desse entendimento podemos compreender que Yeshua não infringiu o mandamento do sábado ao permitir que o ex-paralítico transportasse seu leve utensílio (seu leito). Ele foi acusado de infringir o mandamento do sábado simplesmente porque estava violando as normas que foram criadas pelos rabinos. Estes proibiam que simples objetos fossem carregados, tal como uma simples pena de ave. Além de tudo isso que já foi dito, cita-se o argumento do israelita e professor de Judaísmo Nazareno, Tsadok Ben Derech. Ao comentar sobre João 5: 18 ele mostra que há um pequeno erro de tradução nas Bíblias em português. Em função disso, faz uma tradução diretamente do texto da Bíblia em aramaico (língua comum durante a época de Yeshua). E após isto, tece alguns comentários. Eis a sua declaração:


"A redação de Yochanan/João 5: 18 em aramaico esclarece a questão:


"ܘܡܶܛܽܠ ܗܳܕ݂ܶܐ ܝܰܬ݁ܺܝܪܳܐܝܺܬ݂ ܒ݁ܳܥܶܝܢ ܗ݈ܘܰܘ ܝܺܗܽܘܕ݂ܳܝܶܐ ܠܡܶܩܛܠܶܗ ܠܳܐ ܒ݁ܰܠܚܽܘܕ݂ ܕ݁ܫܳܪܶܐ ܗ݈ܘܳܐ ܫܰܒ݁ܬ݂ܳܐ ܐܶܠܳܐ ܐܳܦ݂ ܕ݁ܥܰܠ ܐܰܠܳܗܳܐ ܕ݁ܰܐܒ݂ܽܘܗ݈ܝ ܐܺܝܬ݂ܰܘܗ݈ܝ ܐܳܡܰܪ ܗ݈ܘܳܐ ܘܡܰܫܘܶܐ ܗ݈ܘܳܐ ܢܰܦ݂ܫܶܗ ܥܰܡ ܐܰܠܳܗܳܐ ܂" (João 5:18)


TRADUÇÃO: "E por causa disso, os moradores de [Yehudá] ainda mais procuravam matá-lo, não só porque ele tinha afrouxado o sábado, mas também porque ele tinha falado sobre Elohim, que Ele é seu Pai, e estava fazendo-se igual a Elohim”. 


No aramaico, o verbo utilizado (ܕ݁ܫܳܪܶܐ) significa que Yeshua afrouxou, soltou ou despertou o shabat [sábado]. O Texto Grego também usa o verbo que denota “afrouxar” (λύω). Portanto, a tradução correta indica que Yeshua “afrouxou o shabat” [sábado]. Qual o sentido desta cláusula? 


Afrouxar” é uma expressão rabínica que significa permitir algo em termos de halachá (Talmud, Berachot 5b e 6b, Sanhedrin 28a e Avodá Zará 37a). Ou seja, enquanto os fariseus “apertavam” o shabat, entendendo que seria proibida a cura milagrosa neste dia, Yeshua “afrouxou o shabat”, interpretando a Torá no sentido de que esta não veda a cura no shabat. Assim sendo [...] não houve violação ao shabat, apenas uma melhor interpretação acerca do que significa cumprir o shabat”. (DERECH, Tsadok Ben. Judaísmo Nazareno, o Caminho de Yeshua e de seus Talmidim, 3ª edição, 2017, páginas 185 e 186, grifos nossos).


Mesmo Yeshua tendo deixado ótimas lições contra os preceitos de homens, ainda hoje muitos dão continuidade à mesma forma de fazer acréscimos humanos às Escrituras. Ainda hoje existem homens acrescentando regras à Torá, tal como a que iremos citar a seguir: "nos dias modernos desenvolveram regras de que o ser humano não pode sequer desligar o interruptor da lâmpada de dentro de casa, por que seria o equivalente a acender fogo, e isto seria um trabalho". Outros proíbem ligar até mesmo um micro-ondas para esquentar a comida, porque seria o equivalente a acender fogo. E outros proíbem até que o sexo entre marido e mulher seja realizado durante o sábado. 


Esses acréscimos não protegem a Torá de ser violada e se tornam maléficas à vista das lições de Yeshua. Para finalizar esta seção, confira as últimas palavras de Yeshua para o ex-paralítico: "não peques mais, para que não te suceda alguma coisa pior." (João 5: 14). 


De acordo com as Escrituras o pecado é a desobediência voluntária aos mandamentos da Torá (1ª João 3: 4). Sendo assim, Yeshua avisou que o ex-paralítico deveria tomar todas as medidas necessárias para não violar os mandamentos da Torá voluntariamente, para que algo de pior não viesse acontecer com ele. Isto prova que Yeshua não era contra a Torá como propagam os leigos, caso contrário Ele não teria feito esta afirmação.


Seja iluminado!!! 









Gostou do post? Compartilhe com seus amigos:

Postar um comentário

0 Comentários