Colossenses 2:16-17 explicado

 


Por: Cleiton Gomes 





Extraído da obra: Ainda Há Esperança – O Chamado para Retornar, 1ª edição, 2020, páginas 316 até 323. 


"Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo." (Colossenses 2: 16-17, Bíblia Sagrada, com números Strong)


Geralmente se entende que este texto esteja falando que o sábado, as festas do ETERNO, e a alimentação lícita se tornaram inúteis. Porém, basta fazer uma correta leitura em todo o contexto para perceber que não há bases para sustentar essa teoria. O pensamento majoritário dos estudiosos é no sentido de que o apóstolo Paulo estava combatendo os conceitos pagãos apregoados pelo gnosticismo. Alguns deles acreditavam que o corpo de Yeshua era apenas fantasmático (Docetismo), não constituído de carne e de sangue. Assim, seus sofrimentos e sua morte não podiam ter sido reais, pois era inconcebível que alguém vindo de um lugar espiritual pudesse se entregar dessa forma ao poder destrutivo da matéria. É isso mesmo, eles literalmente acreditavam que tudo aquilo que era feito de matéria era algo ruim. Também acreditavam que os espíritos eram elementos bons aprisionados dentro da carne que é má; e que a salvação consistia em libertar o espírito de dentro da carne. 


Considerar a matéria como má era algo particular do maniqueísmo (um pensamento de dentro da crença gnóstica). Por outro lado, considerar o corpo de Yeshua como fantasmático, onde seu corpo apenas aparentava ser de carne e ossos, é uma crença do Docetismo (outra crença de dentro do gnosticismo). Tendo em vista estas informações, fica simples enxergar o porquê de Paulo enfatizar que Yeshua derramou seu sangue no madeiro. Ora, um corpo fantasmático teria sangue para derramar? Absolutamente não! E mais, Paulo também ensinou que existiam elementos espirituais estavam encaixados perfeitamente na pessoa do homem Yeshua; e isso era um verdadeiro combate contra os gnósticos, que não queriam acreditar desta maneira (cf. Colossenses 1: 19-20, 22; 2: 2-3, 9, 14).


Que Paulo estava combatendo pensamentos heréticos, disso não há dúvidas. Ele mesmo enfatizou isso durante suas declarações aos Colossos (Colossenses 2: 4, 8, 18, 21 à 23). Paulo estava combatendo pensamentos errôneos que eram meras filosofias de persuasão humana, que tinham aparência de sabedoria, porém, eram todas fundamentadas em rudimentos do mundo. E nenhum discípulo de Yeshua deve amar rudimentos do mundo (1ª João 2: 15-17).


Vamos direto ao ponto. A declaração dos versos 16 e 17 não devem ser entendidas como querem os inimigos da Torá. Caso contrário, diante do contexto, teríamos que afirmar que quem criou o mandamento do sábado foi os homens, que quem criou as festas bíblicas foram os homens e que quem criou as regras sobre a alimentação ensinadas desde o princípio também foram os homens. Não obstante, quem instituiu o mandamento do sábado, as festas bíblicas e a alimentação lícita não foram os homens e sim o próprio ETERNO. O ETERNO ensinou:


1) que tem prazer em quem guarda o mandamento do sábado (Isaías 58: 13-14), já que foi Ele quem criou este mandamento; este mandamento também faz parte de Sua Nova Aliança (Isaías 56: 4, 6);


2) que as festas bíblicas são dEle e não de homens (Levítico 23: 2);


3) que as regras sobre a alimentação lícita foi Ele quem ensinou (Levítico 11: 43-44), tanto é que Ele castigará o homem que passar por cima de suas regras sobre a alimentação (Isaías 66: 15-18).


A frase “ninguém vos julgue” nos convida à compressão de que os discípulos de Paulo estavam fazendo coisas em que estavam sendo julgados. Quer dizer que eles estavam guardando as festas, o sábado, e praticando a alimentação Kasher adequadamente. Fazer isso provocava a inveja e a ira de muitos céticos, que tentavam persuadi-los ao erro, tentando fazer com que os discípulos deixassem de praticar os mandamentos do ETERNO. Devemos, então, reler o texto bíblico da seguinte maneira:


"Ao praticar os mandamentos da Torá vocês estão fazendo o que é certo diante de Elohim, e receberão a recompensa no mundo que há de vir. Não deem atenção às críticas desses falsos mestres, eles querem impedir que vocês continue a praticar a verdadeira doutrina, e querem que vocês defendam o mesmo que eles. Contudo, o ensino deles não tem valor nenhum, pois está fundamentado em doutrinas e preceitos de homens; são rudimentos do mundo". 


Querido leitor, não é difícil perceber que o apóstolo Paulo não estava criticando os Colossos por praticar os mandamentos da Torá. Ao contrário, Paulo estava alertando seus discípulos sobre os falsos mestres; e os incentivando (incentivando os Colossos) a permanecerem praticando os mandamentos, dizendo-Lhes que estas coisas são transitórias (são como sombras) e que a realidade delas se encontra com o Messias, no mundo vindouro. Por isso é dito:


"[estas coisas].. são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo.” (Colossenses 2: 17, Bíblia Almeida Corrigida Fiel, 2007).



E mais: a verdadeira tradução deste texto diretamente do grego, não ensina que os mandamentos do ETERNO citados no verso 16 “foram sombras que terminaram em Cristo”. Vejamos o verso 17 em grego e façamos a correta tradução: 


"ἅ ἐστιν σκιὰ τῶν μελλόντων, τὸ δὲ σῶμα τοῦ Χριστοῦ." 


A expressão "μελλόντων" (mellontōn) deve ser entendida como um indicador para o futuro. Tal expressão não pode apontar para coisas que já se passaram ou para coisas que estão no presente, e sim só pode apontar para coisas futuras. E, no sentido de que μελλόντων (mellontōn) deve ser usado para indicar coisas futuras, o lexicógrafo, William D. Mounce, conceitua: 


"Serve para expressar em geral um futuro estabelecido" (...) futuro, como diferenciado do passado e do presente” (Léxico Analítico do Novo Testamento Grego, São Paulo, Ed. Vida Nova, 2013, página 406). 


Isto quer dizer que o apóstolo Paulo não estava ensinando que as festas bíblicas, regras sobre a alimentação ou que o sábado foram sombras para o tempo da primeira vinda do Messias, como se estivesse querendo dizer que estas coisas não nos servem mais. Na realidade, a expressão utilizada por Paulo é uma indicação de que tais coisas ainda merecem ser praticadas, pois são coisas que apontam para o futuro. Ora, quando o sacrifício de animais ainda estava aplicável, sabemos que elas eram transitórias e possivelmente muitas pessoas também já sabiam disso, e continuaram a praticá-las até que a realidade das sombras chegasse. A sombra é uma coisa que reflete algo que há de vir, tal como quando você está de costas e vê uma sombra. Através daquela sombra você sabe que alguém está vindo. 


Da mesma maneira, os mandamentos citados neste tópico são transitórios e devemos praticá-los até que uma realidade ainda mais surpreendente chegue, pois o shabat que guardamos hoje é apenas uma pequena porcentagem do grande dia de descanso que iremos ter quando entrarmos no mundo vindouro. No mundo vindouro iremos viver a plenitude do shabat! 


Ante todos os dados já expostos, é notório que a correta tradução de Colossenses 2: 17 é esta logo a seguir: ".. são sombras das coisas vindouras/futuras.." É tão óbvio declarar que as festas bíblicas e o sábado não foram abolidos, que o próprio apóstolo Paulo ainda continuava a praticar estes mandamentos mesmo depois de sua conversão. Por exemplo, ele ainda permanecia celebrando a festa de Shavuot (Pentecostes/ Atos 20: 16; 1ª Coríntios 16: 8), a festa de Yom Kippur com jejum (dia do perdão/ Atos 27: 9), a festa de Matsot (pães sem fermento/ Atos 20: 6). E outra, assim que terminou de fazer a Hagadá da festa de Pêssach, o referido apóstolo ensina para seus discípulos, que a comemoração que eles estavam celebrando no “agora” era como uma sombra que apontava para o retorno de Yeshua: "Celebremos, pois, a festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da malícia e da corrupção, mas com os ázimos da pureza e da verdade." (1ª Coríntios 5: 8); 


"Porque, todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciais a morte do Senhor, até que Ele venha." (1ª Coríntios 11: 26).


Em outras palavras, os discípulos deveriam celebrar as festas bíblicas de geração após geração. Isto não significa que os discípulos nunca iriam morrer (lógico que não é isso!), e sim que eles deveriam repassar os mesmos ensinamentos para seus filhos e netos. Aliás, foi o próprio Yeshua que ensinou o dever de praticar a festa de Pêssach. E o desfecho final dela será num grande banquete no mundo vindouro (Mateus 26: 29). É por isso que Paulo sustenta que uma realidade ainda mais excelente ainda está por vir. E mais, todo aquele que pensa que o apóstolo Paulo estava condenando a Torá, esquecesse de ler o restante do contexto, pois no decorrer de suas palavras ele ensina aos seus discípulos a não praticarem o pecado (violação aos mandamentos da Torá). Confira: 


"Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno e a avareza, que é idolatria; por estas coisas é que vem a ira de Elohim [sobre os filhos da desobediência]. Ora, nessas mesmas coisas andastes vós também, noutro tempo, quando vivíeis nelas. Agora, porém, despojai-vos, igualmente, de tudo isto: ira, indignação, maldade, maledicência, linguagem obscena do vosso falar. Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho homem com os seus feitos" (Colossenses 3: 5-9). 


Confira o capítulo deste livro onde dissertamos sobre os "mandamentos positivos" ("você tem autorização para fazer isso") e "mandamentos negativos" ("você não tem autorização para fazer isso"). Quando você fizer a leitura do tópico indicado, notará a similaridade dos mandamentos da Torá com os mandamentos ensinados por Paulo. Do ponto de vista dele, aqueles que violam os mandamentos negativos estão sujeitos a não herdar o Reino de Elohim (Gálatas 5: 21). E assim, leitor, fica evidente declarar que este capítulo das Escrituras não serve como fundamento para atacar a utilidade e importância da Torá.


Observe: Adquira o material completo para ter acesso a muitas explicações como essa que você acabou de ler. O livro inteiro resgata a identidade judaica de Yeshua e Seus discípulos, e combate as aberrações teológicas do antinomismo. 


Seja iluminado!!! 

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