– O LIVRO DE ENOQUE–
Por: Rabino James Scott Trimm
Adaptado por: Cleiton Gomes
O livro de Enoque foi amplamente utilizado na Era do Segundo Templo. Ele era um documento aceito como inspirado dentro do Judaísmo. Tanto é fato que, quem já leu o livro de Enoque, irá encontrar pelo menos 128 citações deste livro, que foi feita pelos emissários de Yeshua (os apóstolos) e estão registrados no vulgo 'Novo Testamento'. Um exemplo disso são os versos 14 e 15 do livro de Judas. Ele está citando 1 Enoque 1: 9.
Tertuliano (160 a 220 D.C), anos mais tarde, também utilizou este documento e o considerou como "sagrada escritura" após saber que ele também continha profecias falando a respeito de Yeshua, nosso Messias:
"Estou ciente de que o Livro de Enoque [...] não é aceito porque não é admitido no cânon judaico. Suponho que não seja aceito porque eles não pensaram que um livro escrito antes do dilúvio pudesse ter sobrevivido à catástrofe que destruiu o mundo inteiro. Se esse for o motivo, lembre-se de que Noé era bisneto de Enoque e sobrevivente do dilúvio. Ele teria crescido na tradição da família e o nome de Enoque seria uma palavra familiar e ele certamente se lembraria da graça que seu antepassado desfrutava diante de Deus e da reputação de toda a sua pregação, especialmente desde que Enoque deu o comando a seu pai [...] Portanto, Agora, supondo que Noé não pudesse ter esse conhecimento diretamente, ainda haveria outra razão para justificar nossa afirmação da genuinidade deste livro: ele poderia facilmente reescrevê-lo sob a inspiração do Espírito depois de ter sido destruído pela violência do dilúvio, assim como, quando Jerusalém foi destruída pelas mãos dos babilônios, todos os documentos da literatura judaica são conhecidos por terem sido restaurados por Esdras. Mas, como Enoque neste mesmo livro nos fala de nosso Senhor, não devemos rejeitar nada que realmente nos pertença. Não lemos que toda palavra das Escrituras útil para edificação é divinamente inspirada?
Como vocês sabem muito bem, foi posteriormente rejeitado pelos judeus pela mesma razão que os levou a rejeitar quase todas as outras partes que profetizavam sobre Cristo. Agora, não é de surpreender que eles se recusaram a aceitar certas Escrituras que falavam Dele quando estavam destinadas a não recebê-Lo quando Ele próprio falava com elas. A tudo o que podemos acrescentar, o fato de termos; um testemunho de Enoque na Epístola de Judas, o Apóstolo.” (Tertuliano de Cartago. Vestuário Feminino, 2019, capítulo 3: 1-3).
Em um sentido quase idêntico ao que Tertuliano acabara de falar, o Rabbi Shimʼon Bar Yochai (o autor do Zohar – o livro do esplendor), ensina que os judeus mantiveram o livro de Enoque em segredo, porque para eles este livro só poderia ser interpretado pelos sábios de seu próprio povo. E que este documento não poderia cair nas mãos dos leigos, para que eles não viessem a fazer interpretações errôneas sobre o livro. O Rabbi Shimʼon assegura que se ele estivesse no momento que o conhecimento do livro de Enoque estava sendo dado, ele teria se colocando contra aquele conhecimento. Falou isso porque tempos depois, alguns que se diziam sábios, usaram o conhecimento deste livro para levar muitas pessoas a uma adoração estranha, afastando as pessoas do caminho do ETERNO. Eis o que ele disse:
“Rabbi Shimʼon disse: 'Se eu estivesse vivo quando o Santo, bendito seja Ele, deu à humanidade o livro de Enoque e o livro de Adão, eu teria me esforçado para impedir sua disseminação, porque nem todos os homens sábios os leram com a devida atenção, e assim extraia deles idéias pervertidas, tais como desviar os homens do Altíssimo para a adoração de poderes estranhos. Agora, no entanto, os sábios que entendem essas coisas as mantêm em segredo e, assim, se fortalecem no serviço de seu Mestre. ' (Zohar 1: 72b).
O judeu ortodoxo, Daniel Boyarin, é um notável historiador e também um dos maiores estudiosos rabínicos do mundo. Ele possui uma dupla cidadania (Estados Unidos e Israel). Em 1990 foi nomeado como professor de cultura talmúdica, no departamento de estudos e retórica do Oriente Médio – A Universidade da Califórnia, Berkeley, cargo que ainda ocupa.
Em seu livro “Os Evangelhos Judaicos; A história do Cristo judeu” (título original: The Jewish Gospels; The Story of the Jewish Christ), ele faz uma abordagem sobre a vida de Yeshua e de seus seguidores, que eram judeus originais.
Na introdução de seu livro, Boyarin fala algumas palavras muito interessantes:
“Se há uma coisa que os cristãos sabem sobre sua religião, é que não é o judaísmo. Se há uma coisa que os judeus sabem sobre sua fé, é que não é o cristianismo. Se há uma coisa que ambos os grupos sabem sobre este “duplo não”, é que os cristãos acreditam na Trindade e na encarnação de Cristo (a palavra grega para Messias) e que os judeus não, que os judeus se mantêm kosher e os cristãos não.
[...] Neste livro, vou contar uma história muito diferente, uma história de uma época em que judeus e cristãos estavam muito mais confusos uns com os outros do que agora, quando havia muitos judeus que acreditavam em algo muito parecido com o Pai e o Filho e até mesmo em algo como a encarnação do Filho no Messias, e quando os seguidores de Jesus se mantiveram kosher como judeus, e portanto, uma época em que a diferença entre o Judaísmo e o Cristianismo simplesmente não existia como existe agora.
(...)
Embora agora quase todos, cristãos e não cristãos, estejam felizes o suficiente em se referir a Jesus, o humano, como um judeu, quero dar um passo além disso. Desejo que vejamos que também Cristo - o divino Messias - é judeu. A cristologia, ou as primeiras idéias sobre Cristo, também é um discurso judaico e não - até muito mais tarde - um discurso antijudaico.
Muitos israelitas na época de Jesus esperavam um Messias que fosse divino e viesse à Terra na forma de um ser humano. Assim, os pensamentos básicos subjacentes a partir dos quais a Trindade e a encarnação cresceram estão no próprio mundo em que Jesus nasceu e sobre o qual ele foi escrito pela primeira vez nos Evangelhos de Marcos e João.” (Daniel Boyarin, Os Evangelhos Judaicos; A História do Cristo Judeu; 2012, Páginas 1, 5-6).
Acreditamos que Boyarin usou o termo "cristão" muito vagamente aqui, pois, os primeiros discípulos de Yeshua eram todos judeus e não se identificavam como cristãos e sim como "nazarenos", "seguidores do caminho". Ou então ele pretendia falar dos primeiros cristãos que surgiram anos mais tarde na cidade de Antioquia (Atos 11: 19-26), os quais ficaram sob um discipulado totalmente judaico. Em outras palavras, os primeiros cristãos eram gentios que passaram a crer em Yeshua, e começaram a aprender as Escrituras com os apóstolos, quais eram todos judeus.
Bem, tirando isso, o que nos chama a atenção no texto de Boyarin é que ele admite que a crença em um Messias divino é um conceito totalmente judaico, e que essa tese foi defendida pelos seguidores de Yeshua HaMashiach (O Messias). E mais, o livro deste judeu ortodoxo tem um capítulo inteiro, dedicado a falar sobre a figura do 'Filho do Homem', retratando-o como alguém que seria divino-humano. Ele comenta que o livro de Enoque mostra a figura de um Messias divino, e que reflete muitos elementos sobre a história de Yeshua (Ob.Cit., página 75-76). Ele conclui:
“O que aprendemos disso é que havia controvérsia entre os judeus sobre o Filho do Homem muito antes de os Evangelhos serem escritos. Alguns judeus aceitaram e alguns rejeitaram a ideia de um Messias divino. As Similitudes [do Livro de Enoque] são evidências da tradição da interpretação do Filho do Homem como uma pessoa divina, a tradição que alimentou o movimento de Jesus também. Só séculos depois, é claro, que essa diferença de crença se tornaria o marcador e a pedra de toque da diferença entre duas religiões. (Ob. Cit., página 77).
Boyarin então cita o Capítulo 48 de Enoque, o qual apresentarei em minha própria tradução abaixo:
1. E naquele lugar eu vi a fonte da justiça Que era inesgotável: E ao redor dela havia muitas fontes de sabedoria: E todos os sedentos beberam delas, e se encheram de sabedoria, e suas habitações eram com os justos e separados e escolhido.
2. E naquela hora aquele Filho do Homem foi nomeado na presença de YHVH dos exércitos, e seu nome antes do Ancião de Dias.
3. Sim, antes que o sol e os sinais fossem criados, Antes que as estrelas do céu fossem feitas, Seu nome foi nomeado antes de YHVH dos exércitos.
4. Ele será um cajado para os justos sobre os quais se detêm e não caiam, e será a luz dos gentios e a esperança dos que têm o coração perturbado.
5. Todos os que habitam na terra se prostrarão e adorarão diante dele, e louvarão, abençoarão e celebrarão com música YHVH dos exércitos.
6. E por isso foi escolhido e escondido diante dEle, antes da criação do mundo e para sempre.
7. E a sabedoria de YHVH dos exércitos o revelou aos separados e justos; pois ele preservou a sorte dos justos, porque eles odiaram e desprezaram este mundo de injustiça, E odiaram todas as suas obras e caminhos em nome de YHVH dos exércitos: Pois em seu nome eles são salvos, e de acordo com seu bom prazer tem sido em relação à vida deles.
8. Nestes dias com o semblante abatido os reis da terra se tornarão, E os fortes que possuem a terra por causa das obras das suas mãos, porque no dia da sua angústia e aflição não (poderão) salvar-se.
9. E eu os entregarei nas mãos dos meus escolhidos: Como palha no fogo assim eles queimarão diante da face dos separados: Como chumbo na água eles afundarão diante da face dos justos, e sem vestígio deles serão encontrados mais.
10. E no dia de sua aflição haverá descanso na terra, E diante deles eles cairão e não se levantarão novamente: E não haverá ninguém para tomá-los com suas mãos e levantá-los: Porque eles negaram YHVH dos exércitos e Seu Ungido. O nome de YHVH dos exércitos seja abençoado.” (1 Enoque 48: 1-10, traduzido por James Scott Trimm )
O professor Boyarin comenta este capítulo, dizendo:
“Em primeiro lugar, encontramos a doutrina da preexistência do Filho do Homem. Ele foi nomeado antes mesmo de o universo existir. Em segundo lugar, o Filho do Homem será adorado na terra: “Todos os que habitam na terra se prostrarão e adorarão diante dele [...]”. Terceiro, e talvez o mais importante de tudo, no verso 10 ele é nomeado como o Ungido, que é precisamente o Messias (hebraico Mashiach) ou Cristo (grego Christos). Parece bastante claro que muitas das idéias religiosas que foram sustentadas sobre o Cristo que foi identificado como Jesus já estavam presentes no Judaísmo, de onde surgiram tanto o círculo de Enoque quanto os círculos ao redor de Jesus. (Ob. Cit., página 80)
Boyarin também cita 1 Enoque 69: 26-29, e assegura que aqui o filho do homem está assentado num trono de glória, retrato como uma figura divina nos céus (Ob. Cit., página 81). Assim, de acordo com este erudito judeu, a ideia de um Messias divino já existia antes dos evangelhos serem escritos, e fazia parte do antigo pensamento judaico. Ele também prova que a maior evidência para atestar isso é o livro de Enoque. Não é nenhuma surpresa então que, no segundo século, os rabinos começaram a suprimir o livro de Enoque, pensando que somente eles tinham a habilidade de entendê-lo sem se perderem para seguir o movimento de Yeshua.
Essas assertivas fazem cair por terra o enganoso pensamento dos judeus do século XXI, que insistem em dizer que a ideia da divindade de Yeshua só veio surgir anos mais tarde, depois da morte dos apóstolos, e que teria sido uma idéia pagã que nunca foi aceita no Judaísmo.
Em suma, há pelo menos sete cópias do livro de Enoque, que foram encontradas entre os Manuscritos do Mar Morto. Este livro foi restaurado nestes últimos dias, assim como o movimento do Judaísmo Nazareno também está sendo restaurado, tanto é que o próprio erudito judeu teve que aceitar que as nossas ideias sobre Yeshua são autenticamente judaicas!
Seja iluminado!!!
(Continua)
Artigo original de James Trimm disponível em: http://nazarenespace.com/blog/2020/11/09/messiah-in-the-lost-books-of-the-tanak-part-3-the-book-of-enoch/
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