Por: Cleiton Gomes
Avraham (Abraão) é um personagem muito importante nas Escrituras. Ele nasceu na cidade de Ur, terra dos kasdim (caldeus) ao sul da Mesopotâmia (Gênesis 11: 28), e seu pai era chamado de Terach (Terá - Gênesis 11: 27). Seus irmãos eram Haran e Naor.
Contam alguns estudiosos, que Abraão teve algumas complicações durante seu nascimento, pois ele teria nascido durante o reinado do maior idólatra da época, qual seja, Nimrod (Gênesis 10: 8-10). Na época Nimrod pretendia matar Abraão porque acreditava, que mesmo ainda muito novo, poderia tentar roubar o seu direito ao trono e assumir a sua monarquia. Nimrod era muito idólatra de si mesmo, e não gostava da ideia de que alguém pudesse enfrentá-lo e saísse vitorioso, por isso, mandou matar todas as crianças de dois anos de idade pra baixo, a fim de exterminar aquele que se levantaria para enfrentá-lo.
No sentido de que Nimrod queria matar Abraão, será citado o escólio de um Judeu de Caruaru, Rav. Maorel Melo:
“Conta o Midrash que o rei Nimrod saiu para apreciar os céus à noite, como era um místico, com frequência ele lia os astros a fim de saber o futuro, enquanto ele observava os céus, percebeu uma estrela estranha e, não pode fazer uma leitura coerente do que aquilo significava, então comunicou aos sábios do seu reino que investigasse o caso. Os astrólogos de Nimrod, Rei da caldeia, se apresentaram diante do monarca e lhe informaram que haviam vaticinado através da aparição do astro o nascimento de um menino que se negaria, no futuro, a reconhecer a Nimrod como autoridade divina, e que inclusive o derrotaria (Beker, 2011). Para se resguardar, Nimrod confina todas as mulheres grávidas afim de assassinar a todos os bebês masculinos que nasceram deste dia até que passasse o perigo.
Terach, cuja esposa, Amathlai Bat Karnebo, já tinha em seu ventre a Avraham, era ministro do rei e um dos mais confiáveis da corte real, e como tal restou excluído obrigação de entregar a sua esposa, assim como os demais nobres da corte que gozavam da confiança do Rei. Contudo, o estranho astro prenunciava o nascimento do milagroso menino mesmo assim.
Nimrod, então, temendo pelo seu futuro, pediu um cálculo desde o aparecimento do estranho astro até o presente momento para saber se a criança já tivesse nascido quantos anos teria, os astrólogos lhe informaram que a criança teria em torno de dois anos de idade se tivesse nascido no tempo do aparecimento do estranho astro. Então, Nimrod mandou matar todas as crianças de dois anos para baixo, a fim de que dessa forma, matasse junto com as crianças o menino vaticinado pela leitura da estrela.
Porém, um dia se apresentaram novamente os astrólogos ante Nimrod informando-lhe acerca do aparecimento da dita estrela sobre a casa de Terach. O estranho astro havia havia feito desaparecer quatro estrelas dos quatro pontos cardeais, como se fosse um buraco negro no espaço. Isso indicava que o bebê de Terach seria aquele que venceria o poderoso Nimrod, e sua glória se expandiria para o norte e o sul, para o leste e o oeste.
Nimrod ordenou a Terach que entregassem o seu bebê — o pequeno Avraham —, porém ele entregou o filho de uma escrava, e Avraham permitiu que sua esposa, a mãe do menino, o escondesse em uma caverna durante treze anos [...] percebendo que o vaticínio de seus astrólogos não se cumpria, Nimrod revoga o decreto e Avraham pôde regressar livremente para a sua casa, junto ao convívio familiar.
Avraham cresceu e se tornou um fervoroso monoteísta, e constantemente desafiava os delírios de divindade de Nimrod, que farto das provocações dele, ordenou que se preparasse um forno para arrojar ali Avraham. Por fim, os servos de Nimrod, em público perguntaram a Avraham: “Com quem estás; com Nimrod ou com tuas idéias monoteístas?”, ao que Avraham respondeu: “Estou com o ETERNO.” Então, o jogaram no forno.
Porém, para a surpresa de todos, o fogo que deveria devorar Avraham Avinu, ao invés disso, o transformou em uma frondosa trepadeira que, saindo de dentro do forno se espalhou para todos os lados, cheia de folhas e flores que, de tão bela e cheirosa, encantou a todos, e Avraham, pela providência divina, saiu de dentro do forno ileso.
Haran, o irmão de Avraham, ficou tão impressionado com o que viu que resolveu igualmente desafiar a Nimrod, e disse: “Também sou monoteísta! Também creio no ETERNO!” Declarando publicamente que também partilhava da mesma fé de seu irmão, porém, por fazer apenas para se exibir, não por uma fé genuína, não por causa uma fé enraizada em seu interior, não logrou o mesmo resultado. Também o arrojaram em um forno e o fogo o devorou. É esta a razão da Torá declarar a morte de Haran ainda jovem, porém, sem um motivo aparente (Gênesis 11: 28).” (Judaísmo e Messianismo, Ed. Fonte editorial, 2020, páginas 236 e 237)
O patriarca Abraão, desde muito cedo, já tinha uma fé monoteísta. Não que ele tivesse aprendido isso com seus pais, visto que eles estavam numa cidade idólatra, e também partilhavam da fé idólatra. Conta um Midrash que Avraham (Abraão) chegou ao ponto de questionar até mesmo o seu pai a respeito da visão monoteísta, ou seja, de uma visão na qual compreende que existe somente um Criador dos céus e da terra.
Eis as falas deste patriarca a respeito da idolatria e a respeito do conhecimento do monoteísmo, contidas no Sêfer Avram:
“isto eu digo: O fogo é mais vulnerável em formação, pois mesmo aquilo que não se subjuga é por ele subjugado, e ele zomba daquilo que perece facilmente por seu intermédio queimando. Mas ele também não é venerável, pois ele é sujeito às águas. Porém as águas são mais veneráveis do que ele, porque elas dominam o fogo e adoçam a terra com frutos. Mas eu também não a chamarei de deusa, pois as águas subsistem debaixo da terra e são a ela sujeitas. Mas eu também não a chamarei de deusa, pois ela é secada pelo sol e subordinada ao homem para a sua obra.
Mais venerável entre os deuses, digo, é o sol, pois com seus raios ele ilumina todo o universo e os diversos ares. Mas eu não o colocarei entre os deuses, pois há quem obscurece o seu curso através da lua e das nuvens. Também não chamarei de deuses a lua e as estrelas, poiis elas também, em alguns momentos durante a noite, diminuem sua luz.
Ouça Terach, meu pai, eu buscarei perante ti o Elohim que criou todos os deuses que nós supomos existir. Pois quem é, ou qual é, o que fez os céus carmesim e o sol dourado, que deu luz à lua e às estrelas com ela, e que secou a terra em meio às águas, e que colocou até você mesmo entre as coisas e que me fez sair da perplexidade de meus pensamentos?
“Elohim se revelará a Si mesmo para nós!”
E sucedeu que enquanto eu pensava tais coisas acerca do meu pai Terach na sala de minha casa, a voz do Poderoso desceu dos céus e uma corrente de fogo dizendo e chamando: “Avram, Avram!” E eu disse: “Eis-me aqui!” E ele disse: “Você está buscando o Elohim dos deuses, o Criador, pelo entendimento do seu coração. Eu O sou. Sai de perto de Terach, seu pai, e sai de casa, para que você também não morra nos pecados de teu pai.”
E sucedeu que quando eu saía – eu não estava ainda fora da estrada da sala – o som de um grande trovão veio e queimou com sua casa, e tudo em sua casa, até o chão, quarenta cúbitos. Então uma voz veio a mim falando duas vezes: “Avram, Avram!”, e eu disse: “Eis-me aqui!” E ele disse: “Eis que sou Eu. Não temas, pois Eu sou contigo. Eu sou anterior às épocas, sim, o Poderoso Elohim que criou a primeira luz do mundo. Eu sou o teu escudo e o teu ajudador.” (Registrado na obra: Judaísmo Nazareno – O Caminho de Yeshua e Seus Talmidim, 3ª edição, 2017, páginas 501 e 502).
Avraham recebeu o chamado divino para sair do meio da idolatria quando tinha 75 anos de idade, e junto dele foram alguns de seus familiares quais também estavam em comum acordo com o pensamento monoteísta do patriarca. Juntos eles foram para a terra de Canaã (Gênesis 11: 31; 12: 1-4).
É por meio dessas assertivas que podemos compreender o porquê Abraão é considerado o primeiro personagem bíblico que defende o monoteísmo no meio de uma população idólatra. Por isso as Escrituras fazem muita citação ao seu nome, por causa do legado que ele deixou.
Seja iluminado!!!
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