"Naquele tempo passou Yeshua pelas searas, em um sábado; e os seus discípulos, tendo fome, começaram a colher espigas [trigo], e a comer. E os fariseus, vendo isto, disseram-lhe: Eis que os teus discípulos fazem o que não é lícito fazer num sábado." (Mateus 12: 1-2).
A atitude de Yeshua de permitir que seus discípulos comessem dentro daquela plantação está em acordo com a Torá, pois a Torá ensina que alguém poderia entrar no plantio de outra pessoa para saciar a sua fome imediata. Contudo, a Torá adverte que a pessoa (1) não poderia levar os alimentos em sua bolsa para fora daquela plantação, pois isto seria o mesmo que roubar, bem como (2) não poderia causar danos à plantação do seu próximo:
“Quando entrares na vinha do teu próximo, comerás uvas conforme ao teu desejo até te fartares, porém não as porás no teu cesto. Quando entrares na seara do teu próximo, com a tua mão arrancarás as espigas; porém não porás a foice na seara do teu próximo.” (Deuteronômio 23: 24-25).
Nota-se que a Torá autoriza entrar e comer na seara de outras pessoas. Porém há duas advertências: (1) “não porás no teu cesto”. “Isto é, não roube aquilo que não lhe custou um pingo do seu suor”, (2) "não porás a foice na seara do teu próximo”. Isto é, “não danifique a plantação do seu próximo”.
Sabemos que os discípulos de Yeshua não colocaram nada dentro de cestos. Na verdade eles só saciaram sua necessidade fisiológica momentânea – a fome. Também não é dito em lugar algum que os discípulos danificaram a plantação. Logo os discípulos cumpriram corretamente as exigências da Torá. Assim sendo, a afirmação daqueles fariseus ali presentes não era verdadeira.
Outras pessoas podem argumentar da seguinte maneira: “os discípulos descumpriram o mandamento da Torá, pois as regras de Deuteronômio 23: 24-25 só são válidas para as pessoas que trabalham dentro do plantio, os trabalhadores assalariados. Logo a afirmação dos fariseus era verdadeira”.
Novamente teremos que discordar dessa opinião pessoal dos leigos, pois, o exegeta judeu Avraham Ibn Ezra (1089 a 1164 D.C) dissertou que (i.e) "a permissão dada pela Torá também se estendia aos viajantes e não somente aos trabalhadores daquele lugar" (Ibn Ezrah sobre Devarim 23: 26).
Outras pessoas podem continuar questionando da seguinte maneira: "ainda que esta autorização se estenda aos viajantes, tal atividade não poderia ser realizada no dia de sábado, por isso os fariseus estavam corretos ao afirmar que Yeshua estava violando o sábado".
Resposta: todos os estudiosos sabem que existindo o dever de salvar uma vida ou guardar o sábado, salvar a vida deve prevalecer sobre o sábado, uma vez que o princípio fundamental e basilar da Torá estará sendo aplicado – o amor. Se tivermos a oportunidade de fazer o bem e não o fizermos, isso sim será violar a Torá.
Tal conceito de amor à vida é ensinado no Talmud:
"Considerações pela vida prevalece sobre o Shabat" (Yoma 85b).
Ademais, o próprio Yeshua é quem ensinou esta lição:
"E ele lhes disse: Qual dentre vós será o homem que tendo uma ovelha, se num sábado ela cair numa cova, não lançará mão dela, e a levantará? Pois, quanto mais vale um homem do que uma ovelha? É, por consequência, lícito fazer bem nos sábados" (Mateus 12: 11-12).
Yeshua não estava inventando uma nova regra, como se estivesse dizendo que somente a partir daquele exato momento é que seria permissível salvar a vida de um animal e também de um ser humano no dia de sábado. A bem da verdade é que nunca existiu ou existirá alguma regra na Torá que proíba a realização destas coisas neste dia. Então, Yeshua apenas lecionou aquilo que a própria Torá ensina: "É lícito fazer o bem no dia de sábado".
O texto acima foi extraído da obra: Ainda Há Esperança - O Chamado para Retornar, 2020, páginas 182 a 184.
Como se pode perceber, Yeshua tinha total liberdade para conceder a permissão para seus discípulos comerem trigo naquele dia, visto que a Torá autoriza que isto seja realizado. Eles não poderiam roubar e nem danificar a plantação do próximo, mas poderia saciar sua fome intensa. E quando os apóstolos fizeram aquilo no sábado, estavam fazendo porque a Torá dava essa permissão. Ora, a Torá não proíbe que o bem seja realizado no sábado, bem como exige que o bem seja realizado quando existir este dever.
Quem realmente estuda as Escrituras saberá que não existe algum texto que diga que o ETERNO proíbe que o bem seja realizado no sábado. Isso mesmo, a Torá não proíbe que o bem seja realizado neste dia. Também não proíbe que o bem seja realizado nos outros dias da semana. Aliás, a Torá nunca proíbe que o bem seja realizado. Ela proíbe é que o mal seja realizado, isso ela proíbe…
Seja iluminado!!!
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